Sudão do Sul: levando tratamento de malária às comunidades

Objetivo de MSF é empoderar as comunidades trazendo o tratamento para mais perto dos pacientes

Sudão do Sul: levando tratamento de malária às comunidades

Juba, 12 de julho. Em Agok, na Área Especial Administrativa de Abiey (ASAA, na sigla em inglês), território disputado entre o Sudão e o Sudão do Sul, Médicos Sem Fronteiras (MSF) está instalando, pelo terceiro ano consecutivo, postos comunitários avançados para malária (CMAP, na sigla em inglês) durante a estação chuvosa. Com esses postos, pacientes de áreas remotas têm acesso a exames e tratamento para malária simples em suas comunidades e, assim, não precisam andar durante horas para chegar ao hospital. Essa estratégia tem como objetivo reduzir o número de pacientes que chegam ao hospital com malária grave e o índice de mortalidade associado à doença, além de detectar a malária rapidamente em comunidades remotas, a fim de tratá-la o mais rapidamente possível.

O “projeto CMAP”, ou projeto comunitário de malária, começou em 2015 como resposta a um surto da forma grave da doença que atingiu a região. “Queríamos que as pessoas das comunidades pudessem detectar e tratar a malária simples para que os pacientes não cheguem tão doentes ao hospital”, explica Tara Smith, supervisora do projeto comunitário de malária em Agok. Neste ano, 22 vilarejos farão parte desse programa especial, que tem como objetivo reduzir a morbidade relativa à malária grave na região da cidade de Agok. Dois voluntários são treinados em cada vilarejo e MSF também oferece testes rápidos para diagnosticar a malária e tratamentos para a forma simples da doença. Quando um paciente aparece com malária grave, ele é encaminhado a um dos centros de cuidados primários de saúde na região ou ao hospital de MSF em Agok. No ano passado, 40 mil pessoas foram testadas e tratadas em suas comunidades.

“Em muitos vilarejos, é extremamente difícil chegar a um hospital durante a estação de chuvas. As pessoas teriam que levar o paciente em um lençol ou colchão e andar com ele durante horas”, diz Tara Smith. Nas áreas mais remotas, centros de cuidados primários de saúde frequentemente são distantes ou inacessíveis devido à lama presente na estação de chuvas. “Às vezes, poucas horas podem fazer a diferença entre vida e morte, especialmente à noite, quando as pessoas não devem tomar a decisão de esperar o dia seguinte para ir à clínica”, continua Tara. “O projeto também permitiria que as pessoas tivessem uma vida normal mesmo durante as chuvas, indo ao campo, à igreja e cuidando da família, sem ter que andar horas buscando tratamento para uma doença simples”, diz a supervisora.

A malária causa febre e dores fortes no corpo; às vezes pode provocar dor no estômago e diarreia. Em sua forma severa, a doença pode causar danos neurológicos, anemia, sangramentos e, eventualmente, a morte. “Antes deste projeto, passávamos dias levando as crianças a centros de saúde”, relembra Maliai Mathiang, voluntário de Rumkor que trabalha no projeto desde 2015. “Se uma organização nos oferece medicamentos, temos que aproveitar a oportunidade e oferecer nosso apoio à população”, explica o voluntário, que dedica boa parte de seu tempo ao trabalho. “Frequentemente acontece de estarmos trabalhando no campo quando alguém nos chama porque há pacientes esperando. Às vezes os lugares estão cheios de pacientes e nós passamos os dias tratando essas pessoas”, explica Abraham Kalei, também voluntário do projeto.

MSF também está oferecendo treinamento aos voluntários para que eles possam reconhecer a malária, realizar o teste de diagnóstico, tratar os casos simples e encaminhar os casos complicados em tempo. “Desde que tivemos o treinamento, podemos reconhecer os sintomas de malária e encaminhar os pacientes a tempo. Antes, víamos muitas pessoas morrendo nas comunidades e nem sempre era possível, para os pacientes, chegar a uma unidade de saúde primária porque tudo estava acontecendo muito rápido. Agora, podemos tratar a malária facilmente”.

“O que eu mais escuto por aqui é ‘Eu só quero ajudar meu povo’. Essa é a motivação, as pessoas aqui se ajudam”, descreve Tara Smith, cuja equipe médica vai a um vilarejo toda semana para acompanhar os voluntários, treiná-los e distribuir suprimentos. “A comunidade tem muito orgulho do projeto. Todos estão felizes por poderem fazer isso por si mesmos. Um líder comunitário me disse: ‘Obrigado por trazer este pequeno hospital até nós’”, relata Tara Smith.
 

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