Província de Kivu do Norte, República Democrática do Congo. Foto: Igor Barbero/MSF

Em 2023, o aumento da violência no leste da República Democrática do Congo (RDC), deslocou um número recorde de civis e Médicos Sem Fronteiras (MSF) intensificou  atividades para responder às crescentes necessidades humanitárias. 

Até o final do ano, 5,6 milhões de pessoas foram deslocadas nas províncias de Kivu do Norte, Kivu do Sul e Ituri. MSF também respondeu a inúmeras outras emergências no país, incluindo surtos de doenças, inundações e deslizamentos de terra. 

 

Resposta ao conflito no leste da RDC 

No Kivu do Norte, o conflito em curso entre o grupo armado M23 e as forças armadas congolesas e seus aliados, que eclodiu no final de 2021, intensificou-se no final do ano, causando novas ondas de deslocamento. Em dezembro, 2,5 milhões de pessoas estavam deslocadas na província, metade delas devido à ‘crise do M23’. 

Ao longo do ano, os repetidos afluxos de pessoas fugindo de Rutshuru, Masisi e Nyiragongo exacerbaram a situação desastrosa nos superlotados campos para deslocados ao redor da cidade de Goma, que continua a deteriorar-se devido à falta de ação nacional e internacional.  

Em resposta, ampliamos nossas atividades de emergência, reforçando a prestação de cuidados gerais, maternos e pediátricos nos campos. Também trabalhamos para enfrentar o aumento das doenças transmitidas pela água, em particular uma explosão de casos de cólera em fevereiro, bem como a subnutrição, o sarampo e as ferimentos relacionadas à guerra. O tratamento por violência sexual foi outra atividade fundamental; vimos um aumento preocupante de casos em 2023. 

Esta crise humanitária afetou não apenas a região de Goma, mas também comunidades em toda a província, enquanto combates em diferentes frentes forçam repetidamente as pessoas a fugir. Isto, por sua vez, reduziu o acesso aos cuidados de saúde, incluindo vacinas, resultando em um num aumento das internações por subnutrição, sarampo, cólera e ferimentos relacionados à guerra, nos vários hospitais e centros de saúde apoiados por MSF. 

Para ajudar as pessoas em movimento, nossas equipes montaram clínicas móveis nas áreas de deslocamento, embora a crescente insegurança tenha prejudicado repetidamente nossa mobilidade, em particular no território de Masisi. 

O vizinho Kivu do Sul também foi afetado pela violência. Nos primeiros meses do ano, dezenas de milhares de pessoas fugiram para Littoral e Hauts-Plateaux área de saúde de Minova, onde nossas equipes lançaram uma intervenção de emergência, prestando cuidados médicos aos doentes e feridos, e melhorando as instalações de higiene após o aumento dos casos de cólera e sarampo. 

 

A crise subnotificada em Ituri 

 

Menos visíveis nos meios de comunicação foram os ataques generalizados e implacáveis contra civis em Ituri, que não deram trégua em 2023. Na região de Drodro, o aumento da violência entre janeiro e março obrigou as pessoas, incluindo profissionais de saúde e pacientes, a fugir, deixando desertos a maioria dos centros de saúde da área. Durante este período, mantivemos os nossos serviços no campo de Rho, onde muitas pessoas se reuniram, enquanto aumentamos o nosso apoio em locais de deslocamento, fornecendo água potável, disponibilizando instalações sanitárias, distribuindo kits de higiene e aumentando os serviços médicos gerais, especializados e comunitários. 

Em Angumu, nossas equipes continuaram a apoiar o hospital geral e 13 campos para deslocados, com foco no combate à malária, tratamento de infecções respiratórias e prestação de cuidados maternos e pediátricos. Em Bunia, apoiamos o hospital geral com treinamento e doações, e iniciamos um projeto no hospital Salama com foco em serviços cirúrgicos e pós-operatórios, incluindo fisioterapia, cuidados ortopédicos e apoio à saúde mental para pacientes com traumas acidentais e lesões relacionadas à violência. 

 

Violência, desastres naturais e epidemias 

 

A resposta de MSF às situações de violência não se limitou a Kivu do Norte, Kivu do Sul e Ituri. Mais a oeste, nas províncias de Tshopo e Mai-Ndombe, lançamos operações de emergência para ajudar as pessoas envolvidas em conflitos fundiários e intercomunitários, prestando cuidados primários de saúde, administrando clínicas móveis e transferindo os feridos. Também disponibilizamos instalações sanitárias e distribuímos itens de primeira necessidade, incluindo colchões e itens de higiene. 

As nossas equipes também responderam a catástrofes em 2023. Em maio, inundações e deslizamentos de terra devastaram aldeias inteiras em Kalehe, Kivu do Sul, deixando centenas de mortos e muitos feridos. Equipes de MSF chegaram rapidamente ao local para tratar os feridos, transferir os casos mais graves de barco para hospitais em Bukavu e fornecer doações de medicamentos e sacos mortuários. 

O sarampo, uma das principais causas de morte no país, espalhou-se rapidamente em 2023, com quase 300.000 casos e 6.000 mortes registradas durante o ano. Este aumento se deu em parte por causa da deterioração da segurança no Leste e do pior revés na vacinação na RDC em anos. 

Além de tratarem muitos milhares de pacientes, nossas equipes móveis realizaram campanhas de vacinação de emergência em todo o país e administraram regularmente outras vacinas com antígenos polivalentes para conter a propagação de doenças como difteria, coqueluche, hepatite, pneumonia e poliomielite. 

As nossas equipes também responderam a um surto de febre tifoide em Panzi, província de Kwango, e a um surto de mpox (varíola dos macacos) em Bolomba, província de Equateur. Em ambos os casos, as nossas equipas prestaram cuidados médicos aos pacientes e apoiaram as autoridades de saúde com vigilância comunitária de epidemia e treinamento de pessoal. 

 

Atividades regulares de cuidados gerais e especializados 

Paralelamente às nossas respostas de emergência, continuamos nossas atividades regulares em toda a RDC. Além de apoiar as instalações de saúde, treinamos redes de agentes comunitários de saúde para detectar doenças de alta prevalência, como malária e desnutrição, especialmente em áreas de difícil acesso. 

O cuidado de vítimas e sobreviventes de violência sexual é outro componente importante de muitos dos nossos projetos. Nossas equipes prestam não apenas cuidados médicos, mas também apoio psicológico, e envolvem as comunidades em atividades de sensibilização para garantir que saibam onde procurar tratamento médico adequado. 

Na capital, Kinshasa, iniciamos um novo projeto no início de 2023 para melhorar o acesso a cuidados gerais e especializados para pessoas com deficiência. O projeto foca na melhoria do acesso às instalações de saúde, na promoção da higiene nos abrigos e no trabalho com a comunidade para atender às necessidades das pessoas com deficiência. Neste meio tempo, entregamos às autoridades de saúde as nossas atividades de cuidados de VIH em Goma e o nosso projeto de violência sexual em Kananga. 

 

Dados referentes a 2023

2.890

Equivalente em tempo integral

2.578.300

Consultas ambulatoriais

29.000

pessoas tratadas por violência sexual

139,3 milhões de euros

Despesas

779.800

Casos de malária tratados

1.410

pessoas com HIV avançado sob cuidados diretos de MSF

1.495.400

Vacinas contra o sarampo em resposta a surtos

14.100

Intervenções cirúrgicas

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