Leishmaniose Visceral (calazar)

O calazar é uma das doenças parasitárias que mais mata no mundo. Assim como a doença de Chagas e a doença do sono, o calazar é uma das mais perigosas doenças tropicais negligenciadas (DTNs).

A leishmaniose visceral (VL), também conhecida como calazar, é a forma mais grave da leishmaniose. Se não for tratada, chega a ser fatal em mais de 95% dos casos.

O calazar é endêmico em 78 países – e segundo a Organização Mundial da Saúde, a maioria dos casos ocorre no Brasil, na África Oriental e na Índia. Estima-se que 50 a 90 mil novos casos de calazar ocorram anualmente no mundo. Em 2020, mais de 90% dos novos casos notificados à OMS ocorreram em 10 países: Brasil, China, Etiópia, Eritreia, Índia, Quênia, Somália, Sudão do Sul, Sudão e Iêmen.

1.

Causa

O calazar é causada pelo protozoário parasita Leishmania que é transmitido pela picada de mosquitos-palha infectados. O parasita ataca o sistema imunológico e, meses após a infecção inicial, a doença pode evoluir para uma forma visceral mais grave, que é quase sempre fatal se não for tratada.

A doença afeta algumas das pessoas mais pobres do mundo e está associada à desnutrição, deslocamento de população, condições precárias de habitação e saneamento precário, um sistema imunológico fraco e falta de recursos financeiros. O calazar, em geral, também está ligado a mudanças ambientais como o desmatamento, construção de barragens, sistemas de irrigação e urbanização.

2.

Sintomas

A doença, quando progride, se manifesta de dois a oito meses após a infecção com e se caracteriza por acessos irregulares de febre, perda de peso, fraqueza, aumento do baço e do fígado, nódulos linfáticos inchados e anemia. No entanto, se a carga parasitária é alta ou o nível de imunidade do paciente é baixo, o período de incubação é de 10 a 14 dias.

 

3.

Diagnóstico

O diagnóstico é realizado combinando os signos clínicos com os testes serológicos e parasitológicos. Os testes mais efetivos para diagnóstico de leishmaniose são invasivos pois demandam amostras de tecido, gânglios linfáticos ou da medula espinhal. Esses testes requerem instalações laboratoriais e especialistas que não estão disponíveis imediatamente em áreas endêmicas e com poucos recursos.

O método mais comum para diagnosticar o calazar é o teste da tira reagente, mas ele apresenta alguns problemas. Em áreas endêmicas, pessoas podem ser infectadas pelo calazar, mas podem não desenvolver a doença. Nesse caso, nenhum tratamento é necessário.

Infelizmente, o teste da tira reagente detecta apenas se o paciente é imune ao calazar. Logo, se o parasita estiver presente, o teste vai apontar que a pessoa tem a doença. Por isso, não pode ser usado para verificar se o paciente está curado, se foi reinfectado ou se teve uma recaída.

4.

Tratamento

O calazar é uma doença tratável e curável. Todos os pacientes diagnosticados precisam de tratamento rápido e completo, existindo diferentes opções, com efetividade e efeitos colaterais variados.

Antimoniais pentavalentes são, normalmente, o grupo de medicamentos de primeira linha, administrados como tratamento de 30 dias de injeções intramusculares. Enquanto antimoniais são bastante tóxicos e representam um risco aos pacientes que recebem o tratamento, aqueles que são curados do calazar quase sempre desenvolvem imunidade vitalícia. Pesquisadores esperam identificar formas de simplificar os regimes de tratamento, melhorar a segurança e reduzir o risco de resistência a medicamentos.

5.

Atividades

Desde 1989, MSF tratou mais de 140 mil pacientes com calazar. MSF também está em campanha para que mais pesquisas sobre técnicas de diagnóstico adequadas e medicamentos com preços acessíveis sejam desenvolvidos para tratar essa doença negligenciada.

Nossa experiência direta no tratamento do calazar durante muitos anos contribuiu para melhorar os métodos de diagnóstico e protocolos de tratamento nacionais e internacionais. Por exemplo, em colaboração com outras entidades especializadas, validamos e introduzimos um teste de diagnóstico rápido que, graças à sua facilidade de uso, nos permitiu descentralizar o diagnóstico (e às vezes também o tratamento) para áreas remotas.

Em 2019, tratamos 1.970 pessoas em países como Índia, Sudão, Sudão do Sul, Etiópia, Camarões e Burkina Faso .

Esta página foi atualizada em fevereiro de 2022.

Volte e continue navegando pelas atividades médicas em que MSF atua em mais de 80 países.