Noma é uma doença negligenciada pouco conhecida que afeta principalmente crianças que vivem em condições de vulnerabilidade.

Noma é uma doença negligenciada pouco conhecida que afeta principalmente crianças que vivem em condições de vulnerabilidade. Trata-se de uma infecção de progressão rápida da cavidade oral, que destrói ossos e tecidos. Até 90% das crianças afetadas pelo noma morrem nas primeiras duas semanas, caso não recebam tratamento com antibióticos a tempo. A doença afeta cerca de 140 mil crianças todos os anos, e é por isso que as campanhas de detecção precoce e conscientização são tão importantes.

Aqueles que sobrevivem ao noma ficam com graves cicatrizes faciais que dificultam as habilidades de comer, falar, enxergar ou respirar. Frequentemente, essas pessoas enfrentam ainda o estigma, a exclusão social e a discriminação provocados pelas marcas físicas deixadas pela doença.

Os pacientes de noma e a própria doença são muitas vezes invisibilizados nas comunidades, nos sistemas de saúde que deveriam atendê-los e na comunidade global de saúde.

Após três anos de campanha, em dezembro de 2023, o noma foi finalmente incluído na lista Doenças Tropicais Negligenciadas da OMS. A solicitação enviada em janeiro de 2023, liderada pela Nigéria, continha cartas com o endosso de 31 países e um dossiê de evidências demonstrando que o noma se encaixa nos critérios de inclusão.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) apoiou a Nigéria no fornecimento de evidências médicas, com base em anos de pesquisa e na experiência da organização no tratamento de sobreviventes de noma, na expectativa de que a inclusão na lista traga maior atenção, facilite o diagnóstico precoce e pesquisas mais sólidas.

1.

Definição

Noma, ou cancrum oris, é uma doença bacteriana infecciosa, mas não contagiosa, que começa como uma inflamação das gengivas, semelhante a uma pequena úlcera na boca. É uma doença negligenciada encontrada em países de baixa renda na África e na Ásia, e afeta pessoas que vivem em condições vulneráveis, principalmente crianças menores de 7 anos de idade.

Condições de saúde precárias e situações de pobreza extrema são os principais fatores por trás da infecção que leva à doença. Crianças com desnutrição, má higiene oral e doenças como sarampo ou malária são especialmente suscetíveis ao noma.

As pessoas que sobrevivem ao noma têm apenas uma escolha se quiserem uma vida melhor: devem passar por uma extensa cirurgia reconstrutiva.

2.

Sintomas

O noma começa com uma gengivite, isto é, inflamação e sangramento das gengivas. Em três ou quatro dias, surge uma úlcera, e as gengivas e a bochecha começam a inchar. Antes de uma semana, a doença destrói o tecido da bochecha e um buraco aparece. Nos dias seguintes, a infecção se espalha e a gangrena cobre a área afetada. Dependendo de onde a infecção começou, ela destrói rapidamente mandíbula, lábios, bochechas, nariz ou olhos.

3.

Consequências

Muitas pessoas que sobrevivem ao noma correm grande risco de morrer por complicações secundárias. Elas são também afetadas por consequências físicas e mentais que as isolam de suas comunidades e podem causar problemas psicológicos. Muitas pessoas têm dificuldade em falar e comer, além de enfrentar estigma e discriminação em suas comunidades por causa das cicatrizes faciais. As crianças podem sofrer atrasos no desenvolvimento devido ao isolamento social ou ao impacto de doenças infantis ligadas ao noma, como o sarampo e a malária.

4.

Tratamento

Noma é absolutamente evitável, mas somente se houver conhecimento sobre a doença e como tratá-la. Uma boa nutrição, higiene oral e acesso a cuidados de saúde e vacinas contra doenças infantis ajudam a prevenir a infecção.

Noma é tratável, se detectado e combatido durante as primeiras semanas. Com a higiene oral básica, antibióticos e curativo para as feridas, um paciente pode se recuperar do noma em algumas semanas. O tratamento inclui também o gerenciamento de fatores de risco subjacentes, como desnutrição e outras doenças como o sarampo.

5.

Atividades

Desde 2014, MSF tem apoiado o Ministério da Saúde da Nigéria no Hospital Sokoto Noma, no noroeste do país. Na unidade médica, os serviços oferecidos são focados na sensibilização da comunidade e promoção de saúde, busca ativa de casos na região, apoio à saúde mental e cirurgia reconstrutiva. Além desses serviços de saúde, há também um forte foco na cirurgia reconstrutiva. Além desses serviços de saúde, há também um forte foco na contribuição à literatura sobre noma por meio de estudos operacionais de pesquisa.

A cirurgia reconstrutiva para o noma exige profissionais altamente especializados. Quatro vezes por ano, MSF envia para a Nigéria especialistas em cirurgia plástica e maxilofacial, que trabalham com especialistas nigerianos. Juntos, realizam de 30 a 40 operações durante um período de duas semanas. No total, MSF realizou 1.203 cirurgias em 837 pacientes desde 2014. Todos os serviços do Hospital Sokoto Noma são oferecidos de forma gratuita.

 

 

6.

Desafios

As pessoas têm pouco acesso a informações sobre o noma e não conseguem identificar a doença a tempo, o que dificulta o tratamento precoce.

Muitos pacientes com noma vivem em áreas isoladas e em situação de pobreza, onde o acesso à saúde e cuidados dentais é quase inexistente.

Esta doença é totalmente evitável e tratável se for identificada a tempo, mas isso requer triagem oral de rotina para crianças, o que na maioria das vezes não acontece.

Para restaurar as cicatrizes faciais graves e os problemas que o noma pode causar, é necessária uma cirurgia reconstrutiva extensa e complexa. Apenas poucos pacientes têm acesso a isso.

A recente inclusão do noma na lista de doenças tropicais negligenciadas da OMS representa um enorme avanço no combate à condição, pois deve atrair mais atenção e recursos para programas de pesquisa para prevenção e tratamento da doença.

 

Página atualizada em janeiro de 2024

Volte e continue navegando pelas atividades médicas em que MSF atua em mais de 80 países.