Aliada na luta contra a doença de Buruli!

Parte 2 – Akonolinga, 06 de agosto de 2012

No nosso pavilhão, construímos uma sala de reabilitação e fisioterapia para os nossos pacientes com úlcera de Buruli. Como muitas vezes as lesões destroem a pele e os músculos ao redor das articulações, as pessoas perdem a capacidade de se movimentarem e o trabalho de fisioterapia se torna muito importante para a recuperação. O fisioterapeuta Gregoire, natural de Camarões e apaixonado pelo futebol do Brasil, faz com que os pacientes, principalmente as crianças, se divirtam enquanto fazem o tratamento. Até música brasileira ele colocou para tocar enquanto um pequeno menino girava uma roda para recuperar o movimento do braço. Todos sorríamos!

Também realizamos trabalhos com os agentes comunitários de saúde, que têm um papel muito importante nesse projeto. Buruli é cercado de muito estigma e uma mitologia grande. As pessoas acreditam que a doença é causada por bruxaria, maldições e outras crenças. Por isso, quando uma pessoa começa a apresentar as feridas, a família tende a escondê-las com panos, roupas compridas e, às vezes, até mesmo isola a pessoa do convívio social. Assim, a busca por cuidados médicos é muitas vezes atrasada e quando o paciente chega para nós já está com a doença em estado avançado, necessitando de internação e tratamento prolongados e cirurgia; às vezes, as consequências das lesões são irreversíveis, o que é um efeito devastador num contexto como este. Por isso, trabalhar com os agentes locais de saúde é muito importante, pois eles vão até as comunidades, realizam palestras na língua local, passam filme sobre a doença, fazem brincadeiras e, por fim, as pessoas os procuram para mostrar alguém da família ou tirar suas dúvidas. Temos investido bastante nessas atividades.

Eu saí um dia com eles e vi como as crianças corriam atrás da caminhonete de MSF gritando de felicidade e curiosidade. Passamos o filme de Buruli produzido por MSF e uma de nossas agentes contou que tinha Buruli e que foi se tratar no hospital de MSF. Ela disse que agora só tem uma cicatriz e que poderia não ter nem isso, se, talvez, tivesse se tratado antes. Todos a olhavam atentos.

Saímos da comunidade e, depois de umas 3 horas na caminhonete, chegamos de volta ao hospital. As crianças, todas com curativos cobrindo os seus ferimentos, brincavam de futebol no pátio do hospital e gritavam “Brasil”, afinal, no dia anterior, a seleção brasileira havia vencido a seleção de Camarões por 5×0. Ao invés de ficarem chateados, todos vieram sorrindo em minha direção e eu, feliz – não pelo futebol, mas por estar ali compartilhando este momento -, fico pensando que nossos países e pessoas têm muito em comum; a alegria de viver, o amor pelo futebol, os sorrisos, dentre outras coisas. Mas, a partir de hoje, algo mais forte nos une: agora eles certamente têm uma aliada na luta pela doença de Buruli!

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