“Me sinto privilegiada com a oportunidade de trabalhar em território indígena”

Deborah (segunda da direita para a esquerda) com equipe de MSF durante atividade na Terra Indígena Yanomami. © Diego Baravelli/MSF

A psicóloga Deborah Gonçalves compartilha suas percepções em seu segundo projeto com MSF, nas comunidades indígenas Sanöma e Ye´Kwana, em Roraima

 

“Estou no projeto de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Auaris, Roraima, há 10 meses*. Realizei a minha primeira entrada em agosto de 2023. Chegamos na região de Auaris para trabalhar nas comunidades Sanöma e Ye´Kwana em um pequeno avião, pousando em uma pista no meio da Amazônia Legal, no Território Indígena Yanomami. Assim que chegamos, estavam lá os olhos curiosos e esperançosos das pessoas, entre crianças e adultos, que nos receberam com um sorriso largo no rosto.

Esta é minha segunda experiência em MSF. Antes, trabalhei na resposta à emergência da COVID-19 em Fortaleza (Ceará) e em Patos (Paraíba). Depois, comecei a apoiar o projeto da organização que tem como principal foco combater a malária na Terra Indígena Yanomami..

Acredito no trabalho potente que MSF realiza, na equipe de saúde mental, na proposta de promoção do bem-viver. Trabalhando com atividades de mapeamento, fortalecimento e engajamento, em parceria com a equipe do Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami Ye´Kwana (DSEI YY), buscamos ajudar  no fortalecimento comunitário e cultural dessa população.

 

 

A proposta de trabalhar com o bem-viver é, principalmente, uma nova abordagem de apoiar a saúde mental dessa população, entendendo o contexto em que as pessoas estão inseridas, compreendendo e dialogando com elas. É bonito visualizar como a saúde  está associada a lidar com as questões de forma coletiva, integrando o bem-estar das florestas, dos rios e das roças.

https://www.youtube.com/embed/hBTEw1AH6Zs?si=p6tcMrnMkItMqmMx

Em uma de minhas escutas em grupo, um senhor me falou de forma objetiva: ‘A terra está doente, estamos doentes’. Assim, começamos a compreender a dimensão da emergência climática e o impacto na vida dessa população que se sustenta  por meio  das roças.

Outro grande impacto do trabalho da equipe de MSF, que apoia os profissionais do DSEI YY com as demandas do território e busca fortalecer as equipes locais, é a ótima oportunidade de troca de experiências e de apoiar o Sistema Único de Saúde (SUS) diante dos desafios e dificuldades apresentados.

Me sinto privilegiada com a oportunidade de trabalhar em território indígena, me aproximando do idioma e da cultura das populações Sanöma e Ye´Kwana. Escutá-las e colaborar para um espaço de acolhimento e  de trocas de afeto são uma realização.

No dia a dia, trabalhamos com os xaborés, que realizam o cuidado tradicional de saúde da população e rituais como os de luto e de cura, assim como as lideranças locais, conselheiros, entre outros.

Aprendemos com essa população o quanto a palavra é algo forte e poderoso. Falar é também um ato de força e resistência. Nos apresentamos, e eles nos recebem como grandes contadores de histórias. Um encontro da linguagem.”

*Diário de bordo escrito em junho de 2024

Compartilhar