Meu novo desafio

Parte 1- Niangara, 17 de março de 2013

Depois de um breve descanso em casa, aceitei um novo desafio: ser a responsável médica de um projeto na República Democrática do Congo.
Cheguei em Kinshasa, capital do país, no dia 6 de março e fiquei impressionada com o tamanho da cidade, que tem 10 millhões de habitantes e é bem desenvolvida.

No dia 11, peguei o voo para Goma, outra cidade mais próxima de Niangara – não existem vôos diretos -, onde passei a noite para esperar o próximo voo, que finalmente me levaria a Niangara.

Goma fica exatamente na fronteira com Ruanda, tem um lago que separa os dois países e também um vulcão. A casa de MSF em Goma dá fundos para o lago e é uma paisagem muito, muito bonita.

No dia em que parti, saí às 6h da manhã e pude ver, sob a bruma da manhã, a fumaça que saía do vulcão, com o lago ao fundo. Acho que foi um dos amanheceres mais lindos que já vi na vida.

Depois de seis horas de voo, parando em outras quatro cidades antes de chegar a Niangara, cheguei ao meu destino final. Dessa vez, o carro estava lá me esperando e me trouxe para o meu novo lar.

Niangara é uma cidade no meio da floresta, para onde, devido a conflitos internos em 2009, 25 mil pessoas migraram e se instalaram em meio a condições precárias. O projeto de MSF começou em 2009 como resposta à situação de urgência em que essas pessoas estavam vivendo.
Depois disso, a organização permaneceu na cidade para dar apoio aos precários serviços de saúde existentes, visando treinamento e suporte até o fim de 2013.

Diferentemente do que aconteceu em Gogrial, MSF não construiu o hospital nem os centros de saúde em Ninagara; foram feitas apenas melhorias por meio da oferta de medicamentos e suplemento dos salários dos congoleses que são funcionários do Ministério da Saúde congolês, um sistema de trabalho novo para mim.

O hospital geral de Niangara atende uma área de 100 mil habitantes (incluindo os 25 mil deslocados internos que já se instalaram adequadamente), tem uma enfermaria de clínica, uma de pediatria, uma de desnutrição e uma de cirurgia, a maternidade, o centro cirúrgico, o pronto-socorro e os ambulatórios (incluindo HIV). Além do hospital, trabalhamos em outros três centros de saúde, a mais ou menos 30 km dali.
Moramos num antigo convento construído no início do século XX, durante a colonização belga. Os quartos são pequenos, pois eram os claustros das freiras. Temos vasos sanitários, mas como tudo é muito antigo, o encanamento não funciona e, por isso, tudo é na base da canequinha, inclusive o banho. O bom é que temos um fogão à lenha (o único fogão que temos) e sempre tem água quente no fogão para o banho. Tudo tem seu lado bom, né?

A equipe é composta pelo coordenador geral, uma enfermeira obstetra, um enfermeiro responsável pelo hospital, uma enfermeira responsável pela vacinação, um logístico, uma administradora, um anestesista e uma psicóloga. Até o fim de julho, quase todo mundo já terá ido embora, sem reposição de pessoal, uma vez que MSF está deixando o projeto. Até outubro, fim da minha participação, seremos apenas quatro, o que vai ser estranho…

Ainda estou me adaptando, tentando aprender os nomes dos funcionários do hospital e das nossas cozinheiras e faxineiras, sem falar em tudo o que terei que fazer, mas, como eles dizem por aqui: “pole pole” (aos pouquinhos)

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