O caminho da vida

Tainá Mattos conta como percebeu o impacto do seu trabalho no atendimento a crianças com HIV

Às vezes é “preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares”. Assim foi quando decidi sair do meu emprego e mudar minha vida. Abandonar tudo que não me fazia feliz naquele momento. Sabia que seria diferente, talvez difícil, que compensaria, que minha vida tomaria um novo caminho. Mas não tinha imaginado que me sentiria tão completa, tão inteira.
 
Larguei tudo que eu considerava como estabilidade para viver daquilo em que eu realmente acreditava: um mundo melhor! Aceitei todos os desafios que MSF podia me oferecer naquele momento e comecei meu primeiro projeto: gerente de finanças e recursos humanos em Tete, Moçambique.

Meu coração estava explodindo de felicidade, mas confesso que, no início, fiquei meio cabreira. Tratava-se de um trabalho de escritório, cujo resultado final do meu esforço eu ainda não conseguia perceber.
 
Depois de algum tempo trabalhando em Moçambique, fui pela primeira vez ao campo. Foi quando vi o trabalho dos conselheiros com as crianças portadoras do vírus HIV. Senti um orgulho gigante e uma alegria tremenda ao ver essa atividade, um trabalho lindo realizado pela equipe de suporte psicossocial. Um momento verdadeiramente especial para mim, no qual pude perceber como meu trabalho refletia no todo. Afinal, minha rotina de escritório, correndo para atender outras áreas, me dava poucas chances de me envolver nas atividades médicas e paramédicas.

Quando vi aquele trabalho pela primeira vez, tive vontade de rir e chorar ao ver aquelas crianças, todas portadoras do HIV, lidando com tanta naturalidade e leveza. Achando graça das brincadeiras da conselheira, mas ao mesmo tempo entendendo a seriedade de cada explicação. Uma vontade de gritar ao mundo, agradecer e parabenizar a todos de MSF, por permitirem que essas crianças fossem assistidas. Por espalharem tanto cuidado e amor pelo mundo. Porque, para mim, esse é o melhor caminho da vida. E eu sou grata por fazer parte dele.
 
*O caminho da vida: durante o aconselhamento, as crianças recebem o desenho da foto e devem colorir cada dia. Logo que tomam seus medicamentos para o tratamento de HIV/Aids, vão completando e conquistando, passo a passo, uma vida saudável. Devem trazer sempre o mês preenchido em cada encontro. Dessa forma lúdica, pode-se acompanhar e garantir que seus pais estão seguindo corretamente as orientações do tratamento. 

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