O que faz um administrador numa organização médica?

Joel Amaral fala sobre a surpresa que causa quando conta que trabalha em Médicos Sem Fronteiras

O que faz um administrador numa organização médica?

Quando eu conversava com meus amigos ou conhecidos e eles descobriam que eu trabalhava em Médicos Sem Fronteiras (MSF), a pergunta automática era: você é médico?  Quando eu respondia que não, alguns ficavam desanimados, decepcionados ou até nem tocavam no assunto. Outros queriam saber o que eu fazia e entrávamos numa troca muito legal de experiências.

Sou administrador e para minha profissão há oportunidades nos projetos de Médicos Sem Fronteiras. Ao conhecer a organização em 2013, surgiu o meu desejo de conhecer ou trabalhar num projeto e esse isso me levou ao Sudão do Sul.

Mesmo diante de toda dificuldade da região e dos recursos, o trabalho era bem puxado, com muita seriedade e profissionalismo. Um projeto grande com 28 profissionais internacionais e cerca de 300 profissionais nacionais, onde eu com dois assistentes locais fui responsável por administrar a estratégia para solicitação, chegada e recebimento de dinheiro devido às dificuldades de acesso à região, pois não existia bancos por lá, somente na capital.  Entre outras rotinas, tinha como responsabilidade:  planejar fluxo de caixas, gerenciar cofres, realizar pagamentos de adiantamentos de salários, salários e pagamentos de fornecedores e prestadores de serviços.

Utilizávamos um sistema que não era conectado em rede pelos mesmos motivos de não haver banco por ali. Por isso, diariamente ao final do expediente eram feitos back ups e enviados os arquivos por e-mail para a coordenação do projeto, que ficava na capital. 

Tínhamos geradores que nos davam suporte para ter energia e fazer o básico funcionar. Não me perguntem como, mas tínhamos internet, o que para mim era um verdadeiro milagre naquela região.

Os pagamentos eram feitos através de recibos e, como parte principal, tínhamos a responsabilidade de efetuá-los sem erros para evitar problemas de diferença de caixa no dia, na semana ou no mês. E nesses períodos eram feitas as contagens sempre manuais para fazer a conciliação. Para garantir que somente os pagamentos autorizados fossem feitos, as autorizações eram feitas em formulários, que deveriam ter as assinaturas e carimbos dos departamentos solicitante, departamentos de RH, departamento do coordenador-geral e departamento financeiro.

Eram muitos pagamentos por dia, os dias passavam rápido, a semana terminava quando você menos esperava e o mais gratificante disso tudo era ver que, mesmo diante de toda dificuldade, ainda surgia um sorriso nos rostos de quem recebia o seu pagamento pelas nossas mãos.

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