A poucas semanas do fim do projeto, muito trabalho

Niangara, 25 de agosto de 2013

Desde que voltei das minhas férias no fim de junho, o trabalho só faz aumentar. Não vi o tempo passar e as atividades em Niangara estão a todo vapor.

Estamos a seis semanas do fim do apoio de MSF ao Hospital Geral de Niangara. Nosso objetivo é deixar o hospital funcionando da melhor maneira possível e deixar o máximo de conhecimentos para que, após a saída de MSF, os funcionários do Ministério da Saúde consigam manter o hospital sozinhos.

Recebemos um novo logístico, um francês superssimpático que chegou cheio de energia e tem trabalhado muito sem perder seu bom-humor. O hospital se transformou num canteiro de obras. Parece mágica! Colocamos azulejos no laboratório e na sala de parto, refizemos o reboco do centro cirúrgico por fora, porque ele estava destruído pela umidade, e refizemos o piso do prédio de isolamento. Estamos construindo uma garagem e uma oficina na frente do hospital porque vamos doar um jeep e duas motos e eles precisam ter onde guardá-los. Sem falar que a equipe de logística está treinando um dos higienistas do hospital na parte de mecânica. Instalamos uma bomba solar para o poço artesiano, assim eles não dependerão somente do gerador para bombear a água, e estamos reformando algumas salas nas quais deixaremos a doação de material estocada – diesel para o gerador, peças mecânicas, enfim, materiais para a manutenção de aparelhos.

Também recebemos a visita do responsável pela manutenção de aparelhos biomédicos de Kinshasa e ele revisou todo o nosso material: concentradores de oxigênio, aparelhos de laboratório e oxímetros de pulso. E é claro que ele ensinou aos responsáveis de cada serviço como fazer a manutenção.

Entre todas essas reformas e construções, o mais impressionante foi a restauração/instalação da rede elétrica do hospital. Ela foi construída por volta de 1930 e tinha uma instalação elétrica precária dos anos 80; cada serviço tinha uma iluminação fraca e durante a noite, em geral, usávamos a lâmpada solar, principalmente na sala de parto e no centro cirúrgico, para realizar as cirurgias de urgência. Sem falar que cada prédio é isolado, então para ir de um prédio a outro durante a noite era realmente perigoso porque não enxergávamos nada e o risco de encontrar uma cobra no caminho era grande.

Recebemos a visita da equipe de “energia” de Kinshasa: três eletricistas congoleses e um engenheiro elétrico belga. Em três semanas, eles refizeram toda a instalação elétrica do hospital, colocaram lâmpadas em todos os prédios, tomadas e deixaram uma bateria entre a sala de urgência, o centro cirúrgico e a maternidade como back-up – se o gerador apresentar problemas e parar de funcionar, a bateria garante a energia desses prédios por 30 minutos e não corremos o risco de perder um paciente por falta de oxigênio ou durante uma cirurgia. A cada prédio em que eles terminavam a instalação elétrica era como mágica: víamos tudo iluminado e claro, não importando em que hora do dia. Agora, é possível caminhar tranquilamente entre os prédios durante a noite porque é suficientemente claro.

Quanto às atividades médicas, passei todo o mês de julho escrevendo o relatório semestral, para o qual tive que calcular nossos indicadores de saúde durante o primeiro semestre de 2013 (taxa de mortalidade por serviço, taxa de ocupação de leitos, taxa de partos por região de saúde, taxa de pessoas que abandonaram seu tratamento para HIV, prevalência de cada doença por faixa etária…). Ao todo, são mais de 30 indicadores que tenho que calcular e analisar, explicando cada um e propondo uma estratégia para melhorar no caso dos indicadores que não tiveram um bom resultado.

Também estamos recebendo nossos medicamentos de Bruxelas (aqueles em que passei o pedido no mês de abril), que serão utilizados nos próximos seis meses (três meses de apoio de MSF até setembro e depois mais três meses de doação, até dezembro). Para os antirretrovirais (medicamento para o HIV), receberemos uma doação de 24 meses e estamos reformando um depósito no hospital para estocá-los. Recebemos um avião por semana (se não chove) e a cada semana, são caixas e mais caixas de remédios, cateteres e soros que chegam e precisamos conferir e registrar cada entrada na nossa farmácia central.

Felizmente, nossa tão esperada farmacêutica chegou (uma belga bem experiente), mas eu tenho que conferir e assinar todos os documentos de recepção. Ou seja, estou atolada de trabalho burocrático.

Ainda bem que para escapar um pouco do escritório ainda tenho as atividades práticas no hospital, principalmente com os dois médicos congoleses estagiários que sempre me chamam para discutir os casos clínicos. Com a estação de chuvas, temos recebido cada vez mais casos de malária grave, pneumonias/sepsis nas pessoas vivendo com Aids e mais crianças  desnutridas com diarreia severa. Adoro estar no hospital; o único problema é que o trabalho burocrático fica me esperando no escritório e tenho trabalhado até bem mais tarde e também nos finais de semana para dar conta de tudo o que tenho que fazer.

Felizmente, nossa equipe de profissionais internacionais é ótima! Todos conservam o bom-humor e, mesmo estando todos cansados e estressados, ainda tentamos fazer algumas coisas para escapar da dura rotina do trabalho. Nas noites de sexta-feira, tentamos fazer a noite de cinema, na qual projetamos um filme; aos sábados, tentamos ir dançar um pouquinho no “bar” da Clarice; e aos domingos, continuamos a caminhar até o mercado para procurar os maravilhosos tecidos congoleses.
Com todo o trabalho e todas as visitas que temos recebido da coordenação, nem vi o tempo passar; completei seis meses de atividades e meu chefe me fez tirar minhas férias antes de eu me desgastar muito. Logo, contarei sobre elas.

Beijos

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