Trabalho a todo vapor

Arquiteta brasileira fala sobre desafios da expansão de hospital apoiado por MSF na RCA.

11/10/2015 – Apesar de instável, a situação em Bangui está melhorando aos poucos. O aeroporto voltou a funcionar e, por consequência, nosso abastecimento está voltando ao normal.

Meu trabalho continua. Preciso entregar esta semana um orçamento de todo o projeto. Serão oito prédios novos, nove existentes que sofrerão reformas internas, além de toda a infraestrutura a ser realizada no terreno com abastecimento de água, energia, drenagem e vias de acesso para carros e pedestres.

O desafio da vez (sempre tem um, né?) é lembrar de todas as aulas que tive na faculdade sobre estruturas de madeira, dosagens de concreto, sistemas de drenagem… Essas são coisas que eu não estava acostumada a fazer no dia a dia, já que normalmente esse serviço era sempre terceirizado nos escritórios em que trabalhei. Quem está trabalhando nos projetos tem sempre o apoio de técnicos na capital do país ou no escritório central para tirar dúvidas, mas no meu caso eu dei a sorte de ter o outro construtor trabalhando aqui, com anos de experiência, para me auxiliar em alguns pontos.

Mas mesmo assim a gente ainda comete algumas gafes, né? Alguns dias atrás, eu estava desenhando o prédio novo para tratamento de casos de tuberculose, que devem ficar isolados. Os técnicos me disseram que eu precisava confirmar a direção do vento dominante, para locar o prédio de forma que o vento passasse transversal e no sentido da cabeça para os pés dos pacientes. Além disso, a ventilação não deveria ir de um paciente para outro. O que pensei na hora? Vou ao terreno e pergunto para as pessoas de onde vem o vento. Cheguei ao hospital e fui perguntando, mas ninguém sabia. Só sabiam de onde vinha o vento da chuva, mas que é diferente do vento do dia a dia. O que fazer, então? Como o vento estava bem fraquinho, peguei um pedaço de madeira, prendi um fio de cabelo e fiquei observando. Estava me sentindo o inspetor bugiganga com minha incrível ferramenta. Pronto, descobri a direção do vento. Certo? Errado! O vento dominante não é o vento de um dia, num horário, em uma época do ano. Precisa ser uma média de um longo período, medido em vários momentos do dia. Ainda bem que eu me dei conta disso sozinha, antes de comentar com alguém! De volta ao escritório, pesquisei sobre os mapas de ventos dominantes da África e como só encontrei as previsões de vento, e não um histórico, entrei em contato com o escritório central e estou aguardando uma resposta. Moral da história: por mais que eu queira fazer as coisas sozinha, preciso ser humilde para reconhecer meus erros. :)

Beijos,

Vivi

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