Um pouco da minha vivência na pandemia de COVID-19

Isabel Figueiredo, coordenadora de atividades de água e saneamento de MSF, compartilha seu relato sobre como foi atuar pela primeira vez com a organização em meio à pandemia.

Nunca tinha pensado em trabalhar em Médicos sem Fronteiras, nunca soube que esse poderia ser um caminho para quem não fosse ligado diretamente à área de saúde. Sou bióloga de formação e atuo na área de saneamento, e foi com grande surpresa que um dia entrei no site da instituição e achei lá a descrição de trabalho na minha área de atuação. Logo me deu uma “coceirinha” e, depois de algum tempo, fui recrutada.

Os dois únicos projetos em que atuei até o momento  foram bem curtos e dentro de um contexto bastante específico, a pandemia de COVID-19 no Brasil. Pude atuar em Manaus/AM e Aquidauana/MS em 2020, e essas duas experiências foram incríveis para mim.

Primeiro por poder estar a serviço em um momento de extrema necessidade e de poder colaborar nessa emergência sanitária que afetou todo o país. E segundo, por poder me aproximar de realidades que conhecia pouco, como a de alguns povos indígenas, moradores em situação de rua, abrigados e refugiados, por exemplo. São pessoas que quase sempre estão mais vulneráveis e que precisam muito de um olhar inclusivo.

Para mim, trabalhar dentro de hospitais e “covidários” [área preparada especialmente para atendimento e tratamentos de pacientes da COVID-19] me deu um frio na barriga, mas aprendi a encarar com coragem o trabalho necessário. Mas também pude desenvolver ações de prevenção à COVID-19, promoção de saúde e de implantação de estruturas de saneamento básico em aldeias indígenas, centros de isolamento e abrigos, e estas experiências foram muito edificantes.

Estar longe da minha filha e do meu companheiro é muito duro para mim, mas eles me apoiam muito e me dão força para fazer um ofício que aprendi que gosto demais, mesmo com todos os perrengues e longas jornadas de trabalho. Quem sabe para onde os próximos projetos podem me levar?

Isabel Figueiredo atuou nos projetos da COVID-19 de MSF em Manaus, no estado do Amazonas, e em Aquidauana, no estado de Mato Grosso do Sul, durante o ano de 2020. O trabalho em Manaus, realizado nos meses de maio e junho de 2020, reforçou a estrutura de atendimento de pacientes graves e moderados de COVID-19, além de atuar com detecção de casos e promoção de saúde em abrigos para a população em situação de rua, migrantes e populações indígenas. Já no Mato Grosso do Sul, MSF atuou em 11 comunidades indígenas da região de Aquidauana, entre o final de agosto e meados de outubro de 2020, por meio de equipes móveis que percorriam aldeias da região com dificuldades de acesso à saúde em meio a altos índices de contágio da COVID-19.