Algum outro profissional de campo, baseado nos Estados Unidos, relatou algum sintoma após chegar em casa? Não.
O caso do Dr. Spencer foi um exemplo da efetividade dos protocolos? Sob nossa perspectiva, como organização médica de emergência, sim, foi. Esse foi um exemplo do funcionamento dos protocolos, em que um profissional de saúde imediatamente relatou uma mudança em sua condição e foi totalmente transparente na cooperação com todos os órgãos envolvidos com seu cuidado, como foi reconhecido pelo Departamento de Saúde da Cidade de Nova York.
O que as recentes regras estabelecidas por Nova York e Nova Jersey acerca da quarentena de profissionais médicos significa para MSF? Na declaração de MSF feita no dia 27 de outubro sobre esse regulamento, relata-se, em parte: “A quarentena forçada de profissionais de saúde que retornam de projetos de combate ao surto de Ebola na África Ocidental não está baseada em evidência científica, e pode prejudicar os esforços para conter a epidemia em sua origem. O monitoramento diligente de profissionais que retornam de países afetados pelo Ebola é preferível ao isolamento imposto a indivíduos assintomáticos”. Os regulamentos trazem inúmeras preocupações. Eles parecem aleatórios e não muito bem planejados, e já trouxeram algumas consequências preocupantes para os profissionais de campo de MSF ao voltarem da África Ocidental. Além disso, MSF se preocupa com o fato de que as restrições excessivas podem desencorajar profissionais que tinham a intenção de irem a o campo na África Ocidental, por medo não do que iriam encontrar ao chegar lá, mas o que encontrariam ao regressar. Isso prejudicará o esforço de combater e controlar o surto na África Ocidental, onde está causando o maior dano, e, assim, como observado abaixo, minar os esforços para manter as pessoas em todos os lugares seguras. “Há outras maneiras de reagir adequadamente à ansiedade pública e atender às premissas de saúde, e a resposta ao Ebola não precisa ser conduzida primariamente pelo pânico em países que não foram fortemente afetados pela epidemia”, afirmou Sophie Delaunay, diretora executiva de MSF nos Estados Unidos, em declaração para a imprensa feita no dia 27 de outubro. “É muito provável que qualquer regulação que não esteja baseada em premissas médicas científicas, que envolva o isolamento de agentes humanitários saudáveis, sirva para desmotivar outros profissionais a combaterem a epidemia em sua origem, na África Ocidental.” A declaração continua: “O reforço das restrições impostas aos agentes humanitários que retornam aos Estados Unidos pode estimular a adoção de medidas semelhantes por outros países, causando um impacto ainda maior na capacidade de resposta ao surto na África Ocidental”. “É a ciência, e não as agendas políticas, que deve nos guiar”, disse a Dra. Joanne Liu, presidente internacional de MSF. “A melhor forma de reduzir o risco de proliferação do Ebola para além da África Ocidental é combatê-lo ali. Políticas que prejudiquem ações nesse sentido, ou que impeçam pessoal qualificado de oferecer ajuda, são míopes. Precisamos olhar além de nossas próprias fronteiras para estancar essa epidemia.”
Por que os profissionais de campo que retornaram da África Ocidental não se mantiveram em quarentena após seu regresso? Essa é uma questão compreensível, que MSF leva muito a sério. O Ebola é uma doença muito perigosa, mas também é muito difícil de pegar. Na África Ocidental, os números são assustadoramente altos; este é o maior surto de Ebola já visto. No entanto, a maior parte da propagação pode ser atribuída à região que a epidemia atingiu: uma área em que os países têm serviços de saúde extremamente limitados. Devido à natureza do vírus, ele não pode ser transmitido de uma pessoa para outra antes que os sintomas apareçam. Mesmo depois que um paciente começa a apresentar sintomas, ele ainda não é muito contagioso. Eles se tornam mais infecciosos na medida em que os sintomas se agravam, principalmente após desenvolverem sintomas gastrointestinais, como diarreia e vômitos, e depois, mais tarde, começarem a sangrar. Mesmo assim, a infecção só pode resultar do contato direto com fluidos corporais, tais como vômito, sangue e fezes. Os protocolos de MSF já estabelecidos há tempos para os profissionais que voltam do campo foram baseados nesses e em outros fatos levantados pela ciência médica prevalecente relacionada com o Ebola. Nossos profissionais de campo, conforme é detalhado a seguir, recebem protocolos muito restritos que devem ser seguidos durante e após a realização de suas atividades. Esses protocolos asseguram que, no caso de uma possível infecção, eles sejam imediatamente isolados e recebam o tratamento de que necessitam antes que se tornem significativamente contagiosos. Foi o que aconteceu com o caso do Dr. Craig Spencer, nosso colega agora em tratamento em Nova York. Ele imediatamente relatou o aparecimento de sintomas relevantes e foi rapidamente colocado em isolamento em uma instalação preparada para lidar com tal eventualidade. Colocar em quarentena todos os profissionais de saúde que retornam do trabalho com pacientes de Ebola na África Ocidental tem sido considerado, por consenso médico, uma resposta desnecessária e desmedida à ameaça limitada de contágio quando os protocolos adequados estão sendo seguidos. O que foi declarado absolutamente necessário, e o que MSF treina com seus profissionais de campo, é o monitoramento vigilante da própria saúde, comunicação frequente com nossos escritórios, e notificação imediata dos sintomas que sugerem Ebola.
O que MSF está fazendo na África Ocidental neste momento? A resposta de MSF ao surto de Ebola começou em março de 2014 e conta atualmente com atividades em três países: Guiné, Libéria e Serra Leoa. Até o dia 23 de outubro, MSF contava com 270 profissionais internacionais e cerca de 3.018 profissionais contratados localmente na região. A organização opera seis centros de tratamento de Ebola, oferecendo aproximadamente 600 leitos para internação em isolamento, mais do que qualquer organização fornece no momento. Desde o início do surto, MSF admitiu mais de 4.900 pacientes, entre os quais cerca de 3.200 deles foram casos confirmados de Ebola, e cerca de 1.140 sobreviveram. Mais de 877 toneladas de suprimentos foram enviadas aos países afetados desde março. Apesar da promessa de maior assistência em diversas frentes, MSF ainda observa lacunas críticas em todos os aspectos da resposta, incluindo cuidados médicos, treinamento das equipes de saúde, controle da infecção, rastreamento de pessoas que tiveram contato com pacientes infectados, vigilância epidemiológica, sistemas de alerta e de referência, educação comunitária e mobilização.
Isso afetará o trabalho de MSF na África Ocidental? De forma alguma. O trabalho que MSF está realizando na África Ocidental não é apenas crucial para o esforço de retardar o surto nos países afetados diretamente, mas também desempenha um papel em reduzir a propagação por toda a região da África Ocidental e além, incluindo a Europa e a América do Norte. Enquanto faz todo o possível para responder às preocupações das pessoas nos EUA e ajudar o nosso colega que agora está sendo tratado em Nova York, MSF também vai continuar a tratar as pessoas que sofrem de Ebola na África Ocidental, em países onde ainda existem pouquíssimas opções de tratamento, apesar da clara urgência da situação. Além disso, MSF vai continuar a trabalhar em seus outros projetos em cerca de 70 países ao redor do mundo, onde nos últimos anos nossos profissionais têm tratado milhões e milhões de pacientes que de outra forma não teriam acesso a cuidados médicos urgentes que salvam suas vidas. MSF tratou mais de 17 milhões de pacientes somente em 2012 e 2013.
MSF tem ressaltado publicamente a necessidade de uma resposta mais robusta na África Ocidental vinda de outros governos e organizações. Isso vai continuar? Sim, sem dúvida. O passo mais importante na batalha contra o Ebola e no esforço para manter as pessoas em outros países o mais seguras possível, é conter o surto onde ele começou e onde é mais virulento. É por isso que MSF, há meses, tem clamado por outros governos, organizações e até mesmo militares que disponibilizem quantidade de recursos e pessoas adequada, e que cheguem ao campo o mais rápido possível. MSF também apelou repetidamente aos Estados-membros e departamentos das Nações Unidas para que intensifiquem seus esforços e tem defendido em vários níveis uma implementação mais rápida e mais eficiente dos compromissos e promessas que foram feitos de construir instalações de tratamento e gerenciá-los com uma equipe médica adequada. Como se observa, MSF entende e compartilha as preocupações sobre o Ebola no país, mas qualquer pessoa que esteja preocupada com a propagação do Ebola, em qualquer lugar, para qualquer um, deveria estar agora defendendo uma resposta operacional ao surto mais ativa, robusta e abrangente onde ele começou e onde fez o maior dano: na África Ocidental.
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