30 anos de Médicos Sem Fronteiras

30 anos de Médicos Sem Fronteiras

No último dia 21 de dezembro, Médicos Sem Fronteiras comemorou seus trinta anos de surgimento. A organização foi criada depois que um grupo de médicos e jornalistas voltou para a Europa, depois de terem sido voluntários em Biafra, região da Nigéria que no final dos anos 60 estava sendo destruída por uma guerra civil brutal.

Enquanto trabalhavam para socorrer as vítimas do conflito, eles perceberam que as limitações da ajuda humanitária internacional da época eram fatais. Para tratar dos doentes e feridos era preciso esperar por um entendimento entre as partes em conflito ou pela autorização oficial das autoridades locais. Além do emperramento burocrático, os grupos de ajuda humanitária calavam-se diante dos fatos testemunhados.

Em 1971, o sentimento de frustração desse grupo, e a vontade de assistir às populações mais necessitadas de modo rápido e eficiente deram origem a Médicos Sem Fronteiras. A organização surgiu com o objetivo de levar cuidados de saúde para quem mais precisa, independentemente do lugar ou das adversidades que possam surgir. No ano seguinte, MSF fez sua primeira intervenção, na Nicarágua, após um terremoto que devastou o país. Hoje, cerca de dez mil profissionais trabalham com Médicos Sem Fronteiras em cerca de 90 países.

Médicos Sem Fronteiras se tornou então conhecida por seu trabalho em situações de emergência. Entretanto, muitas vezes MSF permanece junto às populações atingidas mesmo depois de controlados os problemas que motivaram sua presença numa região. Seu trabalho continua na reconstrução de estruturas de saúde, nas atividades de prevenção, nas campanhas de vacinação ou na assistência a acampamentos de refugiados. Mas com o passar do tempo Médicos Sem Fronteiras percebeu também a necessidade de intervir com projetos de longo prazo, não apenas para atender pós-emergências, mas também para levar cuidados de saúde a pessoas afetadas pela exclusão social. Desse modo, em 1980 MSF montou sua primeira missão, no Afeganistão. A organização havia chegado ao país no ano anterior, motivada pelo conflito entre afegãos e soviéticos e lá continua até hoje, apesar do agravamento dos conflitos no país. Atualmente, Médicos Sem Fronteiras trabalha cada vez mais em projetos que envolvem uma atuação cotidiana numa perspectiva de longo prazo.

Foi com essa perspectiva que MSF chegou ao Brasil em 1991 para intervir numa epidemia de cólera na região amazônica. Partindo de uma situação de emergência sanitária, MSF colabora hoje na assistência à saúde de tribos indígenas da região. Em 1993, MSF desembarcou também no Rio, motivada pela combinação de desigualdade social, violência e o funcionamento precário da saúde pública. Projetos de prevenção e combate à Aids, assistência médica em comunidades carentes ou de saúde a populações de rua são apenas algumas atividades de longo prazo desenvolvidas por MSF na cidade.

Além disso, Médicos Sem Fronteiras se caracteriza por tornar público aquilo que observa em campo. Em circunstâncias extremas, MSF entende que a melhor maneira de proteger a população de desastres humanitários como genocídios, fome, limpeza étnica, é denunciar suas motivações políticas e econômicas, mesmo que essa posição comprometa a presença da organização no país. Em 1985, por exemplo, Médicos Sem Fronteiras foi expulso da Etiópia após ter denunciado o desvio da ajuda humanitária e a migração forçada de populações. Essas declarações públicas, no entanto, são um ato de proteção às populações em perigo e que rompem com os laços de cumplicidade com os horrores testemunhados pelos profissionais da organização.

A união de intervenção rápida e eficiente com o compromisso de tornar conhecidas as violações de direitos humanos é a forma com que Médicos Sem Fronteiras responde a guerras mundialmente conhecidas, conflitos ignorados, falência de sistemas de saúde, epidemias mundiais como a Aids ou doenças negligenciadas como a tuberculose e a malária. Em 1999, a premiação com o Nobel da Paz consagrou internacionalmente o trabalho da organização e é por assumi-lo como um desafio permanente que Médicos Sem Fronteiras está nos cinco continentes, nas regiões mais remotas, há trinta anos.

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