5 doenças negligenciadas que afetam milhões de pessoas todos os anos

Populações de países menos desenvolvidos são as mais impactadas

5 doenças negligenciadas que afetam milhões de pessoas todos os anos
Foto: Jan-Joseph Stok/MSF

Atualmente, há 20 doenças que foram classificadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como doenças tropicais negligenciadas (DTN) prioritárias. Juntas, elas afetam mais de 1,7 bilhão de pessoas, principalmente os mais vulneráveis, e podem ter consequências devastadoras, que vão desde a morte até deficiências ao longo da vida e desfiguração permanente. As DTNs ocorrem principalmente em ambientes rurais remotos, onde as pessoas não têm acesso a cuidados de saúde básicos e especializados.

Algumas dessas doenças tornaram-se fáceis de prevenir pela administração em massa de medicamentos e, nos últimos anos, houve um progresso significativo na redução de sua carga e incidência. No entanto, outras ainda estão longe de serem eliminadas ou mesmo controladas e permanecem verdadeiramente negligenciadas.

Há mais de 30 anos, Médicos Sem Fronteiras (MSF) trata algumas dessas doenças e segue pressionando para que a indústria farmacêutica, os governos e as organizações de pesquisa parem de negligenciar milhões de vidas e invistam em novas formas de diagnóstico, terapia e cura para os pacientes. Queremos que as doenças tropicais negligenciadas se tornem doenças do passado!

Conheça 5 doenças negligenciadas que afetam milhões de pessoas:

1. Doença de Chagas

Foto: Seamus Murphy/VII/ MSF

Segundo estimativas da OMS, seis a sete milhões de pessoas estão infectadas com a doença de Chagas, e mais de 70 milhões de pessoas correm risco de infecção. A doença de Chagas é a doença parasitária mais comum na América Central e do Sul e a principal causa de insuficiência cardíaca e morte em países onde é endêmica. No entanto, estima-se que 99% das pessoas infectadas com a doença de Chagas permanecem sem diagnóstico, com apenas cerca de 38.500 novos casos registrados a cada ano. Para cada mil pessoas infectadas, apenas duas recebem o tratamento necessário.

2. Leishmaniose

Foto: MSF/Halla Osman

A leishmaniose humana é uma infecção parasitária negligenciada prevalente em quase 100 países, com mais de um milhão de novos casos ocorrendo a cada ano. A maioria dos pacientes pertence a populações vulneráveis, muitas vezes vivendo em cenários de conflito. Sem tratamento, a leishmaniose leva à morte (no caso de leishmaniose visceral) ou doença de pele (no caso de leishmaniose cutânea) que pode causar cicatrizes faciais estigmatizantes, lesões debilitantes e desfiguração.

A leishmaniose visceral, ou calazar, é uma das doenças parasitárias que mais mata no mundo, situada em especialmente em regiões tropicais e subtropicais. É caracterizada por febre, perda de peso, aumento do fígado e baço, anemia e deficiências do sistema imunológico. Se não for tratada, chega a ser fatal em mais de 95% dos casos. De 1989 a 2020, MSF tratou mais de 148 mil pessoas com a doença.

Já a leishmaniose cutânea é endêmica na maior parte das Américas, do Mediterrâneo, da Ásia ocidental e do norte da África. O tratamento da doença é incômodo, doloroso, potencialmente tóxico e há pouca pesquisa sobre novas opções de tratamento e diagnóstico.

3. Envenenamento por picada de cobra

Foto: Alexis Huguet/MSF

A condição médica resultante da picada de cobra mata mais pessoas do que qualquer outra doença negligenciada no mundo. De acordo com a OMS, mais de cinco milhões de pessoas são mordidas por cobras a cada ano, e entre 81 mil e 138 mil delas morrem. Isto equivale a cerca de 11 mil mortes por mês. MSF trata cerca de 6 mil pacientes por ano em projetos que abrangem 10 países, e um dos maiores desafios é a falta de acesso e disponibilidade de soro antiofídico de qualidade. Devido aos preços altos, as pessoas optam por versões mais baratas, que são ineficazes, ou recorrem a curandeiros locais.

4. Doença do sono

Foto: Marizilda Cruppe/MSF

Comumente conhecida como doença do sono, a Tripanossomíase Humana Africana (THA) é uma infecção parasitária transmitida por moscas tsé-tsé. A infecção ataca o sistema nervoso central, causando distúrbios neurológicos graves. Ela pode levar ao coma e, se não tratada, é fatal. Hoje, após várias intervenções de grande sucesso, a doença do sono está a caminho da eliminação mundial, com menos de mil casos relatados em 2019. Apesar disso, existe um risco real de novos casos reaparecerem no futuro. Pesquisas recentes revelaram que, mesmo que os tripanossomas não possam ser encontrados no sangue, eles ainda podem estar presentes na pele e, portanto, são capazes de formar um reservatório de infecção e sustentar a transmissão. Por isso, é necessária uma vigilância constante e eficaz para detectar qualquer novo surto em sua fase inicial. Atualmente, a insegurança continua a dificultar as atividades para a doença do sono em áreas endêmicas da República Centro-Africana, República Democrática do Congo e Sudão do Sul.

5. Noma

5 doenças negligenciadas que afetam milhões de pessoas todos os anos
Foto: Claire Jeantet – Fabrice Caterini/INEDIZ

Noma é uma doença negligenciada pouco conhecida que afeta pessoas – principalmente crianças – que vivem em condições de vulnerabilidade e não possuem acesso a cuidados de saúde e vacinação. Até 90% das crianças afetadas pelo noma morrem nas primeiras duas semanas se não receberem tratamento com antibióticos a tempo. Esta é uma doença bacteriana infecciosa, mas não contagiosa, que destrói ossos e tecidos rapidamente. Os pacientes com noma e a própria doença costumam ser invisíveis dentro das comunidades, dos sistemas de saúde que deveriam atendê-los e da comunidade de saúde global. A doença não está incluída na lista prioritária de doenças tropicais negligenciadas (DTNs) da OMS. Isto limita a quantidade de atenção global que a doença recebe e dificulta os esforços para levantar fundos para mais pesquisas, prevenção e iniciativas de tratamento.

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