5 palavras-chave para entender a crise humanitária no sul da Colômbia

Até o momento, em 2021, mais de 21 mil pessoas foram deslocadas no triângulo de Telembí, fugindo do conflito armado na região

5 palavras-chave para entender a crise humanitária no sul da Colômbia

Após cinco anos de uma crescente violência na sub-região do triângulo Telembí – localizada ao sul da Colômbia, perto da fronteira com o Equador – a população desta área está passando por uma de suas piores crises humanitárias nos últimos 20 anos. Esta sub-região, que inclui os municípios de Barbacoas, Magüí Payán e Roberto Payán, está em perigo devido aos conflitos entre os diferentes grupos armados que disputam o território.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) está presente nesta região da Colômbia desde 2015. Transferimos nossa equipe de emergência para o município de Barbacoas, em 2020, devido ao constante deslocamento de famílias vulneráveis, bem como novos confinamentos em áreas rurais. MSF se preocupa com a falta de acesso aos serviços mais básicos e pede uma maior resposta humanitária em termos de abrigo, água potável, higiene e alimentação. Entenda o que está acontecendo:

1 – Violência

Após o acordo de paz assinado na Colômbia em 2016, áreas anteriormente controladas por um único grupo armado são agora contestadas por novos grupos. Embora se esperasse que os Acordos de Paz reduzissem a violência, ela tem aumentado e está causando consequências cada vez mais extremas para a população civil.

“Estamos vivendo uma situação muito difícil, devido aos atores armados ilegais que se encontram na região. E tivemos que fugir tarde da noite, tentando evitar o perigo para nossa família e nossos filhos. Muitas famílias vieram conosco. E agora estamos aqui, em Roberto Payán”, conta um dos milhares de recém-deslocados no sul da Colômbia.

2 – Deslocamentos

Até 2021, cerca de 21 mil pessoas foram deslocadas de suas casas para centros municipais, que apresentam altos índices de pobreza e onde os abrigos dificilmente atendem às condições mínimas de moradia. Levando em conta que, segundo os censos do governo colombiano, aproximadamente 90 mil pessoas vivem nesta sub-região, calcula-se que cerca de 23% da população tenha sido deslocada de suas casas.  

Luis Ángel Argote, nosso coordenador de projeto em Nariño, diz que a situação piorou: “atualmente, estamos vendo centenas de famílias chegando aos municípios de Barbacoas, Magüí Payán e Roberto Payán, onde as prefeituras instalaram alguns abrigos, mas que não têm sido suficientes.  Hoje, observamos uma superlotação, assim como condições de vida precárias: em muitos desses abrigos não há acesso à água, alimentos ou medicamentos”.

3 – Confinamento

Mais de 6 mil pessoas foram forçadas ao confinamento em suas casas ou nas calçadas por causa da insegurança, ameaças de grupos armados e o risco da instalação de minas antipessoais. Essa população está confinada em seus vilarejos sem acesso a serviços básicos, como alimentação e saúde, e com medo do conflito armado que se agravou.

Nesta sub-região gravemente afetada pelo conflito, o acesso à saúde tornou-se difícil para todos. Mulheres grávidas, por exemplo, não podem acessar serviços obstétricos, assim como pacientes com doenças crônicas e idosos não conseguem obter seus medicamentos. O mesmo acontece com cuidados preventivos, incluindo vacinações para crianças. No primeiro semestre de 2021, as equipes de MSF observaram que as doenças mais comuns na sub-região estão relacionadas às condições de água e higiene e, por causa disso, houve casos de malária, dengue, diarreia e doenças de pele, bem como infecções do trato respiratório agravadas pela COVID-19 e outras complicações associadas a processos de gravidez sem atenção médica suficiente.  

4 – Saúde Mental

A escassez de água potável e alimentos, as severas condições de superlotação persistentes e a dura realidade de viver em um conflito armado geram diferentes situações de estresse. A exposição recorrente a eventos violentos e ao deslocamento forçado causa graves impactos na saúde mental das pessoas, relacionados, principalmente, ao medo, angústia, incerteza e risco permanente.

Como explica nossa equipe de saúde mental que atua no Triângulo Telembí, as famílias deslocadas tendem a experimentar “medo, angústia, frustração e impotência, o que significa que se continuarem altamente expostas ao conflito armado, os mecanismos de resistência que as ajudam a lidar com este tipo de situação podem diminuir e afetar gravemente a saúde mental da população”.

5 – Resposta

MSF fornece atendimento médico tanto às comunidades confinadas em meio ao conflito quanto às pessoas deslocadas. Este ano, apoiamos hospitais com suprimentos, atendemos 1.118 pacientes nas clínicas e registramos 1.230 beneficiários de cuidados de saúde mental. Além disso, entregamos 3.083 kits de higiene, cerca de 1.300 colchonetes e mosquiteiros, e ajudamos na adaptação de 12 cozinhas comunitárias.

Conforme indicado por Jaume Rado, coordenador-geral de MSF na Colômbia, “apesar do aumento dos esforços da organização e de outras agências humanitárias, a resposta atual segue sendo insuficiente e lenta. Os padrões de qualidade estão muito longe do que uma resposta humanitária deveria ser”.

MSF apela às instituições públicas e outras organizações para que usem seus recursos para aliviar o impacto humano desta violência imediatamente.

 

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