A dimensão de gênero da crise climática

Globalmente, a crise climática afeta desproporcionalmente grupos de alto risco, incluindo pessoas em idades avançadas, mulheres grávidas, minorias sexuais e de gênero e pessoas com deficiência.

Claudia Blume/MSF

No Chade, as mulheres enfrentam desafios maiores para alimentar seus filhos, ao mesmo tempo em que têm que se envolver cada vez mais em atividades de geração de renda, caminhar longas distâncias para acessar água e cuidar de suas terras, à medida que os homens estão passando mais tempo fora dos vilarejos em busca de emprego.
As mudanças nos padrões de transumância (a ação ou prática de mover o gado de um pasto para outro em um ciclo sazonal) e o aumento da migração forçada dentro e para o Chade, contribuem para o surgimento de conflitos por recursos.
Essas condições tornam as mulheres e as meninas mais vulneráveis, expondo-as à violência sexual e de gênero em um contexto em que o acesso a cuidados médicos é difícil. Homens e meninos também são mais expostos à violência de gênero e física.
O status socioeconômico inferior dado às mulheres e a desigualdade de gênero no Chade também as colocam em maior risco aos efeitos da crise climática. No entanto, as mulheres são atores importantes na tomada de soluções, sobrevivência e resiliência, e sua equidade e sua inclusão na tomada de decisões são essenciais.
Relatos durante a discussão em grupo focal com mulheres em Massaguet Urbaine, realizada em fevereiro de 2022:

“Este ano, a chuva parou. A chuva não durou nem dois meses. As plantações deste ano, elas nem sequer conseguiram um saco. Não há chuva como antes”.

“Quando eu era jovem, a chuva às vezes era boa, às vezes ruim, mas nunca assim”.

“Naquela época, eram os homens que trabalhavam. Agora, algumas mulheres trabalham também. É por causa da crise hídrica”.

“Antes, todas as coisas eram mais baratas. Isso mudou com a crise hídrica. Homens e mulheres têm que trabalhar para alimentar a família”.

“Antes, as mulheres ficavam em casa, mas com a crise, até as meninas têm que ir ao mercado para vender coisas”.

“A crise hídrica começou há três anos”.

Mulheres com seus filhos, que receberam tratamento contra desnutrição pelas equipes de MSF em centros de saúde na província de Hadjer Lamis. Chade, 2021. Foto: Claudia Blume/MS

“Muitos homens mais jovens saíram para encontrar trabalho em outras partes do Chade ou em países vizinhos, como Camarões, Níger e Líbia. Outros levaram seu gado para o sul do país em busca de melhores pastagens. A maioria dos homens retornará para o próximo período de plantio”.

Esta migração temporária é um mecanismo de enfrentamento que não é novidade, mas, de acordo com Osman Abakar, de 50 anos, os jovens saíram mais cedo do que o normal este ano devido à má colheita.
“Temos medo do futuro”, diz ele.

“Tudo o que podemos fazer é esperar pelas próximas chuvas. Se a chuva nos abandonar outra vez, não sabemos o que fazer”.

 

O trabalho de MSF é fornecer assistência humanitária e médica independente às pessoas em maior necessidade em mais de 70 países ao redor do mundo. Ao mesmo tempo, MSF também observa que a crise climática está exacerbando os impactos na saúde, afetando as operações e exige que a capacidade, os recursos e a base de conhecimento interna para fazer a transição das atividades de MSF sejam mais sustentáveis, de baixo carbono, adaptáveis e responsivas.

Em 2020, MSF reconheceu formalmente as consequências médicas e humanitárias das mudanças climáticas, degradação ambiental e nossa própria contribuição para isso. Optamos por nos responsabilizar por meio de um Pacto Ambiental, que envolve medir e minimizar nossa pegada ambiental enquanto continuamos a fornecer assistência médico-humanitária de alta qualidade. MSF também se compromete a trabalhar com outras pessoas para desenvolver e compartilhar conhecimento sobre as consequências humanitárias das mudanças climáticas e ambientais.

Em 2021, nos comprometemos a reduzir nossa pegada de carbono em pelo menos 50% em comparação com os níveis de 2019 até 2030, de acordo com as metas baseadas na ciência e o Acordo de Paris.

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