Afeganistão: 10 anos de apoio de MSF ao hospital Boost, em Lashkar Gah

Em 6 de novembro, MSF comemorou 10 anos de apoio ao Ministério da Saúde Pública no hospital Boost

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Após quase cinco anos de ausência após o assassinato de nossos colegas em Badghis em 2004, MSF retomou as operações no Afeganistão em 2009 devido ao conflito e à piora geral da prestação de serviços de saúde. A província de Helmand, no sul, era uma das áreas mais afetadas pelo conflito na época, e o projeto em Lashkar Gah foi o segundo projeto de MSF a ser aberto no país. O objetivo era revitalizar o hospital e oferecer assistência médica de qualidade e gratuita à população da província de Helmand.

“Quando MSF chegou ao hospital Boost em 2009, o hospital tinha 150 leitos com cerca de 20 pacientes”, diz Marcella Kraaij, ex-coordenadora de projetos de MSF na província de Helmand. “Agora temos cerca de 400 leitos, mais de 900 profissionais e estamos recebendo milhares de pacientes todos os meses. Penso que a maior diferença entre o hospital Boost em 2009 e 2019 é a consistência e disponibilidade de recursos, em todos os sentidos da palavra. Os prédios foram melhorados, o número de profissionais aumentou e muitos treinamentos foram oferecidos a eles e os suprimentos estão sempre disponíveis.”  

Hoje, o hospital Boost atende aproximadamente 1 milhão de pessoas. É o único hospital de referência na província e um dos únicos dois hospitais de referência mantidos pelo Ministério da Saúde Pública no sul do Afeganistão. MSF está apoiando todos os departamentos do hospital, incluindo emergência, cirurgia, maternidade, pediatria e medicina intensiva.

Necessidades médicas enormes, consequência do conflito

Após 18 anos de conflito ativo no Afeganistão, as necessidades humanitárias das pessoas não estão sendo atendidas. As mais vulneráveis são mulheres e crianças, que continuam a ser desproporcionalmente afetadas pelo conflito.  

Em Lashkar Gah, nossas atividades em 2019 aumentaram em quase todos os departamentos. A ocupação dos leitos costuma chegar a 100% e o número de pacientes admitidos é 30 vezes maior do que há uma década, passando de cerca de 120 por mês em 2009 para uma média de 3.500 por mês em 2019.  

De janeiro a setembro de 2019, quase 68 mil crianças foram tratadas no hospital Boost, 3.392 delas por desnutrição, uma das principais causas de mortalidade infantil em Helmand – resultado de pobreza e doenças endêmicas, como o sarampo.

”Meu bebê estava sofrendo muito. Meu leite secou depois de um mês. O médico disse que deveríamos comprar fórmula infantil, mas uma garrafa custa 600 afegãos (cerca de 32 reais) e, como não temos muito dinheiro, compramos apenas uma por 250 afeganes (cerca de 13 reais). Meu bebê não se recuperou, então decidimos ir ao hospital Boost. Quando chegamos, meu filho estava desnutrido e precisava urgentemente de tratamento. Agora ele começa a se recuperar, mas o que acontecerá quando voltarmos para nosso vilarejo?” diz Malalay, uma das pacientes de MSF.

No mesmo período, 13.208 mulheres foram admitidas na maternidade, incluindo 5.218 devido a complicações no parto. Muitas vezes, as mulheres com complicações no parto não conseguem chegar a um hospital até que seja tarde demais. Os profissionais da maternidade veem as consequências do conflito em eventos médicos normais, como gravidez e parto, diariamente.

”Muitas pacientes chegam aqui já em estado de choque, após um sangramento pós-parto porque deram à luz em casa. Quando chegam ao hospital, elas já estão mal e é muito difícil se recuperar disso. Este mês tivemos cinco mulheres que morreram na chegada”, comenta Rita Alexandra Batista Luz Mano, ginecologista do hospital Boost.

Obstáculos contínuos aos cuidados de saúde em Helmand

O conflito não apenas causa danos físicos às pessoas, mas também pode impedi-las de acessar os serviços de saúde. As pessoas precisam lidar diariamente com minas terrestres, bombas, combates ativos e o risco de ficarem sob fogo cruzado. Apenas chegar ou sair do hospital pode colocá-las em grande risco.  

“Em Lashkar Gah, as equipes de MSF atendem pacientes que percorreram longas distâncias por horas para chegar ao hospital”, diz Mia Hejdenberg, ex-coordenadora-geral de MSF no Afeganistão. “Sua viagem vai sendo atrasada pelos pontos de verificação e pela insegurança na estrada, portanto, muitas vezes chegam muito tarde e em condições críticas. Quando finalmente chegam até nós, muitos precisam interromper o tratamento para voltar para casa quando se sentem mais seguros ou porque não têm dinheiro para manter um táxi esperando por eles.”

A pobreza é outra barreira ao acesso a cuidados de saúde – não apenas em termos de custos médicos diretos, como a compra de medicamentos, mas também em termos de pagamento pelo transporte ou tratamento contínuo.  

Nos últimos 10 anos, as necessidades médico-humanitárias continuam sendo um desafio na área e há uma necessidade urgente de melhorar o acesso a cuidados de saúde de qualidade e acessíveis para a população da província de Helmand.
 

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