Alto risco de surtos de doenças em meio a más condições de vida para refugiados em Dadaab, Quênia

MSF apela por vacinação contra sarampo e cólera para prevenir uma emergência ainda maior.

Foto: Charlie Kimilu/MSF

Com centenas de pessoas vindas da Somália chegando a cada semana no complexo de refugiados de Dadaab, no Quênia, as condições de vida em acampamentos que abrigam mais de 233 mil refugiados e milhares de recém-chegados desde janeiro estão piorando.

Dadas as condições nesses assentamentos superlotados, há um alto risco de surtos de doenças, alerta Médicos Sem Fronteiras (MSF). Apelamos à Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e às autoridades quenianas para que intensifiquem o apoio humanitário e implementem urgentemente campanhas de vacinação.

Os somalis estão fugindo de uma seca devastadora, da violência e de conflitos contínuos no país. Muitos dos que chegam ao Quênia vêm do sul da Somália, onde surtos de sarampo e cólera ocorreram recentemente.

“Com baixa cobertura vacinal na Somália (…), as doenças infecciosas podem se propagar rapidamente, colocando as pessoas que vivem dentro e ao redor dos acampamentos em maior risco de adoecer.”

– Adrian Guadarrama, vice-coordenador do programa de MSF para o Quênia.

“Com baixa cobertura vacinal na Somália e nenhum sistema implementado para receber e rastrear as pessoas recém-chegadas ao Quênia, as doenças infecciosas podem se propagar rapidamente, colocando as pessoas que vivem dentro e ao redor dos acampamentos, especialmente as crianças, em maior risco de adoecer”, diz Adrian Guadarrama, vice-coordenador do programa de MSF para o Quênia.

“Mesmo alguns casos isolados de sarampo e cólera podem causar um surto em acampamentos superlotados, onde a água potável é escassa e o saneamento e a higiene são precários”, completa.

Foto: Paul Odongo/MSF

Na semana passada, as equipes de MSF registraram três casos de sarampo e dois casos suspeitos de cólera em Dagahaley, um dos três acampamentos de refugiados que compõem o complexo de refugiados de Dadaab.

As campanhas de vacinação anteriores contra o sarampo nos acampamentos de Dadaab fornecerão alguma proteção às crianças, mas a situação ainda pode ser fatal para os recém-chegados, que provavelmente não foram vacinados.

Melhorar as medidas de prevenção da cólera, incluindo a vacinação contra a doença, é ainda mais crítico, pois o Quênia relatou surtos contínuos em seis condados.

“Uma campanha de vacinação em massa contra o sarampo e a cólera nos campos de Dadaab e nas comunidades vizinhas é necessária para evitar surtos em larga escala e salvar vidas”, diz Guadarrama. “Estamos prontos para apoiar a implementação da vacinação extremamente necessária no campo de Dagahaley, onde somos o principal prestador de cuidados de saúde.”

As equipes de promoção da saúde de MSF estão buscando ativamente os recém-chegados em Dagahaley, para fornecer cuidados médicos e facilitar o encaminhamento para aqueles que precisam urgentemente de cuidados de saúde. Mas a falta de um sistema de acolhimento para identificar e acolher os recém-chegados torna esta tarefa muito difícil e atrasa ainda mais o seu acesso à ajuda humanitária.

Foto: Paul Odongo/MSF

De acordo com dados coletados por nossas equipes móveis, o número de chegadas da Somália a Dagahaley dobrou de agosto a setembro, atingindo mais de 800 pessoas. Estima-se que esse número continue aumentando constantemente nas próximas semanas e meses. Muitos dos recém-chegados relatam necessitar de abrigo, comida, água potável e latrinas, pois a defecação a céu aberto tem sido comum.

“Uma campanha de vacinação em massa contra o sarampo e a cólera nos campos de Dadaab e nas comunidades vizinhas é necessária para evitar surtos em larga escala e salvar vidas.”

– Adrian Guadarrama, vice-coordenador do programa de MSF para o Quênia.

Os refugiados que já vivem em Dagahaley têm recebido generosamente muitas das pessoas recém-chegadas, compartilhando seus escassos recursos com elas. Mas confiar apenas na hospitalidade não é uma solução sustentável. Além disso, aqueles com frágeis conexões sociais nos acampamentos vivem marginalizados, com acesso limitado a alimentos e vulneráveis a assédio e agressão.

“A situação humanitária nos acampamentos e comunidades vizinhas ainda não entrou em colapso, então ainda temos uma oportunidade para intensificar as ações preventivas e evitar um desdobramento de emergência sobre o que já é uma crise de longa duração”, diz Guadarrama. “O ACNUR, os doadores e o governo do Quênia devem mostrar um senso de urgência agora, estabelecendo um sistema digno de recepção e triagem para as pessoas que chegam ao Quênia. Sem a triagem das pessoas recém-chegadas, as vacinas terão pouco impacto.”

A assistência humanitária também precisará ser ampliada para atender às necessidades das pessoas recém-chegadas, dos refugiados de longa data e das comunidades de acolhimento, pois também têm sofrido com a seca. Ao mesmo tempo, a necessidade de encontrar soluções duradouras para os refugiados não deve ser esquecida, uma vez que são tomadas medidas de preparação e de resposta de emergência.

“Muitos dos que chegam aos acampamentos passaram por viagens traumáticas, alguns podem até ter perdido familiares no caminho, e outros podem ter sido vítimas de violência”, diz Guadarrama. “Portanto, é vital que não negligenciemos o estresse, o sofrimento e o trauma psicológico que muitos experimentaram e nos esforcemos para integrar os serviços de saúde mental na intervenção.”  

Dadaab atualmente abriga mais de 233 mil refugiados registrados, muitos dos quais vivem nos acampamentos há mais de três décadas. MSF tem prestado assistência médica em Dadaab e em comunidades vizinhas durante a maior parte dos 30 anos de existência do acampamento. Os programas atuais de MSF estão focados no campo de Dagahaley, onde fornecemos assistência médica abrangente a refugiados e a comunidades anfitriãs, incluindo atendimento primário e secundário por meio de dois postos de saúde e um hospital de 100 leitos. Nossos serviços médicos englobam cuidados de saúde sexual e reprodutiva, incluindo cirurgias obstétricas de emergência, assistência médica e psicológica a sobreviventes de violência sexual e de gênero, cuidados de saúde mental, tratamento com insulina a domicílio e cuidados paliativos.

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