Ataques aéreos e conflitos em Idlib

Quais as consequências para a população?

ATAQUES AÉREOS E CONFLITOS EM IDLIB: QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS PARA A POPULAÇÃO?

Desde dezembro de 2017, a violência e os ataques aéreos no norte da Síria se intensificaram. Isso resultou em um dos maiores deslocamentos populacionais observados desde o início do conflito. Essa violência, concentrada no sul das províncias de Idlib, em Alepo e no norte de Hama, está deteriorando as condições de vida das pessoas já gravemente traumatizadas pelos sete anos de guerra. Hassan Boucenine, coordenador de operações de Médicos Sem Fronteiras (MSF) no norte da Síria, nos conta o que está acontecendo.

Hassan, o que você pode nos contar sobre os eventos recentes na província de Idlib?

As autoridades sírias e seus aliados lançaram uma ofensiva no sul e no leste da província de Idlib. Um dos objetivos é conquistar a base militar Abu al-Duhur. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), os combates e ataques aéreos deslocaram forçadamente dezenas de milhares de pessoas.

MSF trabalha em alguns dos lugares mais afetados pelos ataques aéreos. Equipes médicas de outras áreas com que estamos em contato nos contaram sobre locais que sofreram bombardeios implacáveis e extremamente violentos durante semanas. Eles dizem que alguns locais foram totalmente destruídos e reduzidos a escombros. Mais uma vez, as instalações médicas estão pagando um preço extremamente alto – como o hospital que MSF apoia em Saraqib, atingido por um ataque aéreo em 29 de janeiro.

Idlib já estava superpovoada pelas tantas pessoas que se deslocaram até lá. Não há mais lugar para elas ficarem e como é inverno, a chuva nunca para. As condições são extremamente desafiadoras e, apesar dos esforços consideráveis de várias organizações humanitárias, os deslocados estão lutando para ter acesso a necessidades básicas como combustível e cobertores. A situação é difícil, mas não totalmente desesperadora para as pessoas nas cidades com centros de saúde e com tendas (nas áreas não propensas a inundações). Mas para a população situada nas áreas mais remotas da província rural, muito longe dos centros de saúde, a situação é terrível.

Como você vê a evolução da situação?

Mesmo que nos últimos dias a luta no sul de Idlib tenha me parecido um pouco menos intensa, os ataques aéreos não pararam. Dependendo do que acontecer com os combates, poderemos notar um maior deslocamento das pessoas.

A situação no distrito de Afrin nos faz pensar que pode haver mais pessoas deslocadas. Estamos nos preparando para ajudar os hospitais vizinhos em caso de um influxo súbito de feridos e vamos preparar nossa emergência e departamento de internação para aliviar a pressão sobre os hospitais cirúrgicos locais. Mas é muito difícil para organizações médicas em Idlib imaginarem ter que lidar com mais um influxo de pessoas deslocadas. Seria um problema grave em termos de capacidade médica.

É preciso entender com o que essas pessoas estão se deparando. Os campos e as cidades estão severamente superlotados. O custo do aluguel está aumentando e os preços dos alimentos e combustíveis estão subindo também. Como se isso não bastasse, a maioria das estradas foi bloqueada.

O que MSF está fazendo na área?

Nós imediatamente enviamos equipes para as áreas mais remotas e mais afastadas dos centros de saúde para checar como estão as condições das pessoas deslocadas – a situação é terrível. Elas estão em campos improvisados, a quilômetros de distância de qualquer coisa. Nós mantemos uma clínica móvel, doando medicamentos para clínicas que estão tendo aumentos enormes no número de pacientes e distribuindo kits de primeiros socorros e higiene no inverno. Estamos preparando outra grande distribuição de cobertores para as famílias, a maioria das quais não recebeu nenhuma ajuda. Acreditamos que a distribuição é absolutamente vital, devido ao frio, à dificuldade de chegar até aqui e ao preço do combustível para aquecimento. No mínimo, essas pessoas se deslocaram duas vezes nos últimos anos. Alguns já afirmaram ter se deslocado até quatro vezes. Pouco a pouco, essas famílias foram perdendo tudo. Para alguns, só restaram as lágrimas. Neste momento, estamos nos concentrando nos cuidados primários de saúde, organizando uma distribuição de cobertores para cerca de mil famílias isoladas, transferindo os doentes quando necessário e organizando vacinações. Muitas das famílias vêm de lugares onde já houve forte violência e com acesso instável à vacinação.
 

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