Ataques israelenses a Gaza: “Não é possível descrever o horror da cena”

Reham Abu Draz, enfermeira de MSF, relata situação após ordem de evacuação e bombardeios de Israel no território

Nesta semana, uma ordem de evacuação das forças israelenses, que cobriu uma extensa área da Faixa de Gaza, forçou famílias inteiras a deixar tudo para trás mais uma vez, sem saber para onde fugir. Reham Abu Draz, enfermeira de Médicos Sem Fronteiras (MSF), foi uma dessas pessoas.

Ela estava no sul da Faixa de Gaza, quando soube da determinação das autoridades israelenses, que, no dia 18 de março, interromperam o frágil cessar-fogo em Gaza e retomaram os ataques contra o território.

Reham relata a angústia diante do deslocamento forçado e o que presenciou em meio à violência da guerra.

Não é possível descrever o horror da cena, a visão dos mortos, o sangue e as crianças correndo sozinhas para sobreviver, tentando fugir da zona de perigo.”
– Reham Abu Draz, enfermeira de MSF

“Houve evacuações, e fomos informados por meio de um anúncio gravado pelo exército. Disseram que a área em que estamos é uma zona de combate violento e que devíamos evacuar. Não sabíamos disso. Não sabíamos para onde ir e não havíamos planejado nada com antecedência. Não sabíamos no que isso ia dar.

Havia muito estresse e ansiedade. Não sabíamos para onde iríamos, e nem quais áreas eram seguras ou inseguras.

Neste momento*, estamos sentados aqui, tentando descobrir exatamente para onde iremos. Até a situação melhorar e pudermos voltar a ser como éramos.

A situação é muito difícil para nós. Ficar em casa por um tempo e depois ter que enfrentar outra evacuação. Não sabemos quanto tempo isso vai durar e o que vai acontecer.

É uma sensação muito difícil estar em casa e, de repente, um anúncio pré-gravado toca ou você recebe a notícia pelas pessoas, e vê imagens das pessoas nos carros na estrada, em evacuação. As pessoas recolheram seus pertences, pegaram seus filhos e correram com eles.

Na casa que bombardearam aqui, a visão foi terrível, com 15 pessoas mortas no local. Imagine ver essa cena na sua frente, ou em uma casa por perto. É muito difícil e extremamente impactante para o psicológico de uma pessoa.

Não é possível descrever o horror da cena, a visão dos mortos, o sangue e as crianças correndo sozinhas para sobreviver, tentando fugir da zona de perigo. O perigo que corríamos.

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Eu moro em Abasan Al-Kabira, e houve um bombardeio. Uma casa inteira, 15 familiares de nosso colega [funcionário do Ministério da Saúde] foram mortos.

Ele estava de plantão no Hospital Nasser. Não restou ninguém além dele. Todos foram mortos, toda a sua família, inclusive os filhos dele, a esposa, os irmãos e sobrinhos. Ele foi o único que restou. É quase o único sobrevivente de sua família.

Fizeram um funeral com orações. Podíamos ouvi-los. A situação era muito difícil, ruim, muito horrível.

O bombardeio aconteceu durante seu turno de 24 horas, à noite. Lhe avisaram. Ele estava no hospital. Ele ouviu no noticiário e imediatamente foi para casa, mas não encontrou ninguém. Encontrou a casa destruída, com pessoas soterradas.”

MSF pede que Israel interrompa os ataques contra a população de Gaza e permita a retomada do ingresso de ajuda humanitária no território.

 

*Relato do dia 18 de março de 2025

 

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