Buscando ajudar os sírios, onde quer que precisem de ajuda

MSF continua solicitando acesso a áreas onde a ajuda médico-humanitária é necessária

Buscando ajudar os sírios, onde quer que precisem de ajuda

Na guerra da Síria, as necessidades de cuidados médicos não mudam quando as frentes de batalha se deslocam e o controle muda das mãos de um grupo para as de outro. Depois de sete anos de acesso negado, Médicos Sem Fronteiras (MSF) pede novamente ao governo sírio que conceda à organização humanitária internacional acesso a todas as áreas para oferecer tratamento médico aos sírios em estado de extrema necessidade, onde quer que eles estejam.

Ghouta Oriental, cujo controle foi tomado pelo governo sírio das mãos de grupos armados não-estatais após anos de cerco e uma ofensiva violenta, é um dos vários exemplos onde as necessidades médicas continuam entre a população que permanece na área.

“Os níveis de trauma, tanto mental quanto físico, causados pela ofensiva de março para tomar o controle de Ghouta Oriental estão além da minha compreensão”, diz Meinie Nicolai, diretora geral de MSF. “As instalações apoiadas por MSF registraram mais de 5.600 feridos durante os primeiros 16 dias de ofensiva. Também temos ciência de outras necessidades de saúde, além de traumas que se acumularam entre homens, mulheres e crianças em Ghouta Oriental ao longo dos anos de cerco, variando desde condições crônicas de saúde a doenças infecciosas, como tuberculose. O número de pessoas afetadas e a gravidade das necessidades mostram que uma resposta médica significativa e urgente é necessária para esses pacientes, independentemente de quem esteja no controle do território.”

Tendo como única motivação as necessidades dos pacientes – MSF tem apoiado remotamente o tratamento de pacientes em Ghouta Oriental desde 2012 – a organização confirma sua disposição e disponibilidade para fazer parte da resposta médica em andamento na área e solicita autorização oficial para fazê-lo. O pedido não se limita a Ghouta Oriental; MSF levará em consideração trabalhar em qualquer lugar onde haja necessidades e o acesso seja concedido e onde as condições adequadas de trabalho sejam asseguradas. Isso também pode incluir áreas fora do controle do governo, áreas ao norte de Homs, onde o governo recentemente assumiu o controle, e outras áreas rurais ou urbanas sob controle do governo, se houver necessidades claramente identificadas.

“MSF segue a ética médica em sua oferta de cuidados, baseando o tratamento oferecido apenas na necessidade médica e não nas opiniões políticas ou filiações dos pacientes”, afirma Nicolai. “Por essa razão, nosso pedido é fornecer assistência médica esteja o paciente residindo em uma área sob controle do governo ou em áreas fora do controle do mesmo. Nossas ações são baseadas nas necessidades dos pacientes, não na política da guerra.”  

Desde maio de 2011, MSF tem entrado em contato com o governo sírio para solicitar permissão para oferecer assistência médica ao lado do Ministério da Saúde e do Crescente Vermelho Árabe Sírio. A permissão nunca foi concedida. Com o aumento de necessidades não atendidas em áreas fora do controle do governo sírio, MSF optou por lançar suas atividades médicas em áreas fora do controle do governo e sem sua permissão, mas o fez com total transparência. Uma carta oficial da presidente internacional de MSF informou ao governo sírio sobre a decisão e continuou solicitando autorização para trabalhar em todo o país.

Outras discussões levaram à assinatura de um Memorando de Entendimentos com o Crescente Vermelho Árabe Sírio em 2013 para um projeto de saúde materna em Damasco, mas que não pôde ser implementado porque os vistos  para nossos profissionais trabalharem no país nunca foram autorizados. Após novas negociações, outra reunião em 2016, em Damasco, apresentou uma proposta concreta para trabalhar diretamente em áreas controladas pelo governo. Mais uma vez, apesar do acordo de vários altos funcionários, o plano não pôde ser implementado devido a uma falha do governo em emitir vistos. Durante a batalha pelo leste de Alepo no final de 2016, MSF fez uma oferta para desembarcar um avião de carga com suprimentos médicos e dar apoio a deslocados e feridos que seriam retirados da cidade para o oeste de Alepo. MSF não recebeu uma resposta a essas solicitações. Mais recentemente, MSF apresentou em abril de 2018 uma nova solicitação formal ao Ministério das Relações Exteriores, que ainda não foi respondida.

 “Com quase 50 anos de experiência no fornecimento de cuidados de saúde – muitas vezes em ambientes de conflito ou pós-conflito – em mais de 70 países em todo o mundo, MSF pode mobilizar uma capacidade médica substancial e relevante”, afirma Nicolai. “Podemos mobilizar profissionais experientes de todo o mundo para trabalhar ao lado de médicos sírios, e trazer nossos próprios suprimentos para que não sejamos um fardo para o serviço de saúde sírio. Poderíamos começar a trabalhar dentro de dias se recebêssemos autorização e desempenhar um papel profundamente benéfico ao lado de outros provedores de saúde sírios e internacionais. Se nossa oferta for novamente rejeitada, continuaremos fazendo o que pudermos e onde pudermos, já que na Síria há hoje muitas pessoas com grandes necessidades de assistência médica.”

MSF tem auxiliado a oferta de assistência médica às comunidades na região de Ghouta Oriental desde 2012. Incapaz de estar fisicamente presente, a organização médico-humanitária apoiou médicos sírios remotamente, oferecendo: suprimentos médicos; suporte financeiro para arcar com salários de profissionais trabalhando nesses hospitais e clínicas; assistência em assuntos de saúde pública, resposta a fluxos em massa de vítimas e gerenciamento farmacêutico; e aconselhamento médico para médicos e profissionais quando confrontados com condições ou patologias fora de suas áreas de formação.

Em outros lugares da Síria, em áreas do norte onde foi possível negociar o acesso, MSF mantém ou apoia diretamente seis hospitais e sete centros de saúde. Além disso, mantém seis equipes de clínicas móveis e seis equipes de vacinação. A organização também apoia remotamente cerca de 25 centros de saúde em todo o país, localizados em áreas onde as equipes não podem estar permanentemente presentes.

Até o momento, as atividades de MSF em Síria estão sendo em áreas fora do controle do governo, uma vez que os pedidos de permissão de MSF não resultaram em nenhum acesso. Para garantir independência de pressões políticas, MSF não recebe financiamento de qualquer governo para o seu trabalho na Síria.
 

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