Casos de hepatite E aumentam em acampamentos de refugiados sudaneses no Chade

Falta de saneamento adequado e grave escassez de água potável nos acampamentos de refugiados pioram a propagação da doença.

Mulheres refugiadas coletando água em locais de distribuição montados por MSF no acampamento de Adré, no Chade. © Nisma Leboul/MSF

A hepatite E está se espalhando por acampamentos que abrigam pessoas refugiadas no leste do Chade, onde mais de 550 mil sudaneses que fugiram dos conflitos no Sudão, país vizinho, procuraram refúgio. A propagação da doença está piorando pela falta de saneamento adequado e por uma grave escassez de água potável nos acampamentos, que estão distribuídos por toda a província de Ouaddai, no Chade.

“Um ano após o início da guerra no Sudão, a situação daqueles que buscaram refúgio no Chade continua terrível”, diz Erneau Mondesir, coordenador-médico de Médicos Sem Fronteiras (MSF) na cidade de Adré, no Chade. “Isso é um risco para a saúde não só dos refugiados, mas também das comunidades locais.”

A hepatite E é uma infecção viral altamente contagiosa, transmitida principalmente pela água contaminada. A doença, que pode ser fatal, representa uma grave ameaça para as pessoas que vivem em ambientes superlotados e insalubres. Ela causa inflamação no fígado e é particularmente perigosa para mulheres grávidas e pessoas com doenças crônicas, como diabetes.

As equipes de MSF que trabalham nos acampamentos de Adré, Aboutengue, Metché e Al-Acha observaram um aumento nos casos de hepatite E, o que está diretamente ligado ao saneamento inadequado e ao acesso limitado das pessoas à água potável.

Até recentemente, o abastecimento de água no acampamento de Metche, no Chade, dependia de métodos tradicionais ou de poços de propriedade individual. As equipes de MSF têm trabalhado com urgência para instalar poços na região. © Linda Nyholm/MSF

Até o momento, registramos 954 casos de hepatite E entre as pessoas refugiadas, incluindo 11 mulheres grávidas. Quatro pacientes morreram. A maioria dos casos (469) ocorreu no acampamento de Adré, onde 122 mil pessoas estão esperando para serem realocadas em acampamentos de refugiados permanentes. Nossas equipes também registraram 292 casos de hepatite E em Aboutengue, 132 em Metche e 41 em Al-Acha.

 

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No acampamento de Adré, há apenas uma latrina para 677 pessoas. No acampamento de Metché, há uma para 225 pessoas.

“A situação é terrível em todos os acampamentos”, alerta Mondesir. “Sem uma ação rápida para melhorar a infraestrutura de saneamento e o acesso das pessoas à água potável, corremos o risco de testemunhar um aumento de doenças evitáveis e perdas desnecessárias de vidas.”

Atualmente, estamos fornecendo mais de 70% da água potável disponível nos acampamentos de Adré, Aboutengue, Metché e Al-Acha. Apesar disso, as pessoas estão recebendo apenas 11 litros de água limpa por dia – bem abaixo dos 20 litros diários por pessoa recomendados para ambientes de emergência.

Com a chegada iminente da estação seca, que geralmente dura de abril a maio, as altas temperaturas intensificarão a necessidade de água, enquanto o aquífero disponível diminuirá de tamanho.

Ponto de distribuição de água montado por MSF no acampamento de Metche, no Chade. © Linda Nyholm/MSF

“Apesar dos nossos esforços incansáveis, a resposta humanitária no leste do Chade tem sido dificultada por um financiamento insuficiente para as organizações humanitárias no local, deixando lacunas críticas no fornecimento de alimentos, água e saneamento”, explica Mondesir.

As equipes de MSF fornecem assistência aos refugiados sudaneses ao longo da fronteira com o Chade desde maio de 2023. Em resposta ao aumento dos casos de hepatite E, estamos intensificando nossas atividades de promoção da saúde, concentrando-se particularmente em mulheres grávidas e novas mães, para aumentar a conscientização sobre como as pessoas podem se proteger da doença e evitar que a condição se espalhe ainda mais.

Pedimos às instituições doadoras internacionais e organizações humanitárias que intensifiquem urgentemente seus esforços para prevenir uma crise de saúde iminente, melhorando o saneamento e fornecendo água potável em todos os acampamentos e assentamentos de refugiados no leste do Chade.

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