Centro de cirurgia de MSF atende grande número de feridos em meio a ataques em Ituri

O ressurgimento dos ataques de grupos armados em Ituri, no leste da República Democrática do Congo (RDC), desde meados de fevereiro de 2024, deixou um grande número de pessoas mortas e feridas. Equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) estão administrando um centro de atendimento cirúrgico na cidade de Bunia.

“Após seis meses de relativa estabilidade, o recente ressurgimento de violentos ataques resultou em perdas significativas de vidas”, retalou Halidou Alira, coordenador-geral do projeto de MSF no país. “Isso demonstra que Ituri permanece firmemente sob o domínio da violência, caracterizada por uma intensidade imprevisível, e com os civis arcando com o peso desses ataques.”

Até o momento, o conflito de décadas na província de Ituri forçou mais de 1,63 milhão de pessoas – ou um terço da população da região – a fugir de suas casas e viver em situação de deslocamento. Isoladas de seus meios de subsistência e de suas comunidades, essas pessoas que permanecem em deslocamento prolongado enfrentam uma vida muito difícil.

Vítimas diretas da violência

Entre junho e dezembro de 2023, as equipes de MSF no hospital de Salama, em Bunia, trataram 863 pacientes e realizaram 838 intervenções cirúrgicas. Um terço dos pacientes tratados pelas equipes de MSF foram vítimas diretas da violência, incluindo crianças. Os tipos de lesões para as quais os pacientes foram tratados são cortes profundos causados por facões e vários ferimentos causados por armas.

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“Minha filha foi vítima de um ataque de um grupo armado no meu vilarejo, em Drodro”, diz a mãe de uma paciente de 2 anos de idade. “Enquanto fugíamos, nossa avó, que segurava minha filhinha, não conseguiu sair rápido o suficiente. Elas foram pegas, e cortaram o braço dela [avó] com um facão. Quando minha filha gritou de medo, eles tentaram matá-la com um facão.”

Serviços fornecidos no centro de trauma de MSF

Com uma capacidade total de 45 leitos, o centro de atendimento ortopédico e de trauma de MSF em Bunia serve como uma unidade de saúde crucial para a população da província de Ituri, que foi afetada por conflitos prolongados.

Além de fornecer cirurgias complexas de trauma, as equipes médicas em Bunia tratam pacientes com queimaduras e prestam cuidados pós-trauma para pacientes em recuperação prolongada, incluindo fisioterapia e consultas de saúde mental. As vítimas de acidentes rodoviários também são tratadas, devido à alta prevalência desses tipos de lesões e à falta de atendimento especializado adequado na província.

O centro médico desempenha um papel fundamental, oferecendo cuidados médicos personalizados e de qualidade para reduzir os impactos funcionais das lesões – dificuldades que os pacientes poderiam enfrentar pelo resto de suas vidas.

“As atividades médicas de MSF em Ituri atendem às necessidades das pessoas em situação de maior vulnerabilidade na província, particularmente aquelas em áreas remotas com acesso muito difícil aos cuidados de saúde”, enfatiza o coordenador-médico de MSF, Dr. Patrick Nkemenang.

“O hospital geral de referência de Bunia tem capacidade limitada e não conseguiu atender às necessidades da população sozinho, o que explica a importância de MSF fornecer cuidados cirúrgicos adicionais e acessíveis a todos em um contexto de segurança volátil.”

Para fortalecer a infraestrutura de saúde local e melhorar a qualidade dos cuidados médicos, MSF também está treinando a equipe médica local, melhorando a qualidade dos equipamentos biomédicos, apoiando o sistema de referência, doando equipamentos médicos e construindo infraestrutura de saúde. O apoio de MSF se estende ao hospital geral de referência.

Na província de Ituri, além do projeto em Bunia, MSF apoia dois hospitais do Ministério da Saúde do país, 12 centros de saúde, três postos de saúde avançados e 20 locais de atendimento comunitário em Drodro e Angumu. Nestas duas últimas localidades, nossas equipes tratam predominantemente desnutrição, malária e doenças comuns da infância, além de cuidar de sobreviventes de violência sexual e fornecer apoio psicológico.

MSF trabalha na RDC há mais de 40 anos e atualmente administra projetos em 20 das 26 províncias do país, prestando assistência médica a vítimas de conflitos e violência, a pessoas deslocadas e a pessoas que sofrem de epidemias de doenças, incluindo sarampo, cólera, meningite e HIV. As equipes de resposta a emergências de MSF estão de prontidão em todo o país para responder a epidemias, desastres naturais e conflitos.