Colômbia: necessidades humanitárias aumentam após último surto de violência

Muitas comunidades estão encurraladas com medo de novos confrontos

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Deslocamentos, restrições acerca da mobilidade e falta de acesso a bens e serviços básicos, como cuidados de saúde: essas são as principais consequências da escalada do conflito em vários municípios nos departamentos de Nariño, Cauca e Vale Cauca, no sudoeste da Colômbia, que causou uma crise humanitária entre a população. 

“O impacto na saúde mental dessas pessoas é enorme. O medo de novos confrontos e a falta de abrigo adequado está impedindo que algumas populações deixem seus municípios”, diz Pierre Garrigou, coordenador-geral da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) na Colômbia. “O confronto também levou a deslocamentos massivos em alguns lugares”, adiciona.

O incidente do dia 16 de abril, que matou 11 soldados, levou à retomada de bombardeios liderados pelas Forças Armadas. Em meio a um desses ataques, 26 guerrilheiros foram mortos. Após esse episódio, no dia 22 de maio, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) anunciaram um fim ao cessar-fogo unilateral, causando uma intensificação do conflito entre os dois lados, com confrontos, perseguições, bombardeios e dispositivos explosivos plantados em áreas povoadas.

Em maio e junho, um total de 525 incidentes violentos foram registrados em partes do país, 75% ocorreram em departamentos do sudoeste, de acordo com dados do Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).

Resposta de MSF

Equipes de MSF que já trabalhavam na região estão respondendo ao aumento das necessidades humanitárias das populações nesses três departamentos desde o incidente em que 11 soldados morreram. Cerca de 1.800 pessoas participaram de atividades de saúde mental, incluindo grupos de atenção individual e em grupo, atividades psicossociais e treinamento em primeiros socorros psicológicos.

No município de Lopez de Micay, onde deslocados chegaram, as equipes também distribuíram kits de higiene e de cozinha, na medida em que as condições de vida nos abrigos são muito precárias.

Uma paciente com sintomas de estresse agudo atendida por MSF no auditório da escola Micay de Lopez – no litoral de Cauca Pacífico, onde há 865 novas pessoas deslocadas – chegou com seus quatro filhos: “Quando o bombardeio começou, eu caí no chão. Eu os escutei correndo ao redor do jardim. As crianças começaram a chorar, tudo parecia muito estar muito perto. Quando eles começaram a atirar, as crianças estavam chorando e me perguntaram, ‘mamãe, mamãe, nós vamos morrer?’ E eu falei a elas que ficassem quietas, e nós ficamos no chão até que tudo se acabasse. Eu não quero lembrar daquele horror, mas, todos os dias, as memórias voltam, eles fecham a porta e lá estou eu, sofrendo. Onde estamos agora, somos apenas um amontoado de gente. Eu me pergunto por quanto tempo ficaremos aqui, dormindo no chão.”

Equipe de emergência

“As necessidades humanitárias na região continuam aumentando, e uma equipe móvel de resposta de emergência já está em campo para reforçar a atuação das nossas equipes regulares na área”, explica Pierre Garrigou.

A equipe, composta por um psicólogo, um médico e um logístico, está, atualmente, atuando na área rural de Tumaco, avaliando as necessidades após o ataque do dia 22 de junho no gasoduto transandino, que afetou 301 comunidades na área do Rio Mira. Além disso, no centro urbano, onde, no último mês, houve 41 eventos violentos, 150 mil habitantes foram deixados sem abastecimento de água.

MSF atua na Colômbia desde 1985, nas regiões de Cauca e de Nariño. Em Cauca, equipes de MSF oferecem terapia individual e em grupo em hospitais e bairros. As equipes treinam líderes comunitários, promotores de saúde, parteiras e professores para oferecerem primeiros socorros psicológicos quando um incidente violento ocorrer.

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