Com a chegada do inverno em Gaza, crianças estão especialmente vulneráveis

No dia 25 de dezembro, três bebês com menos de um mês de vida foram levados mortos ao Hospital Nasser, por causa do frio

Bebê prematuro recebe cuidados no Hospital Nasser, em Khan Younis. Gaza, 29 de dezembro de 2024. ©Nour Alsaqqa/MSF

A guerra em curso de Israel em Gaza deslocou à força mais de 1,9 milhão de pessoas. Famílias foram forçadas a enfrentar o inverno em tendas frágeis e improvisadas, com proteção mínima contra o frio. As crianças são especialmente vulneráveis a vários riscos para a saúde, à medida que as temperaturas caem. Famílias continuam sem acesso adequado a itens essenciais, como água, comida e abrigo para se proteger do frio.

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No dia 25 de dezembro, três bebês, todos com menos de um mês de vida, foram levados mortos ao Hospital Nasser, em Khan Younis, Gaza. Eles morreram por causa do frio, de acordo com o Ministério da Saúde. Essas crianças viviam em tendas em Al Mawasi, no sul de Gaza, onde milhares de palestinos foram deslocados pelas forças israelenses e vivem em espaços superlotados, em condições insalubres.

Com a chegada do inverno, as condições na região se tornaram insuportáveis. As famílias vivem em tendas frágeis que mal as protegem da chuva. A maioria das famílias não pode pagar por meios para se manter aquecida, incluindo lenha, gás ou até mesmo cobertores quentes, que podem custar até 200 dólares (cerca de 1.230 reais) quando disponíveis nos mercados locais de Gaza.

“No inverno passado – embora as pessoas já estivessem deslocadas e as condições fossem difíceis – ainda havia alguns edifícios para se abrigar. Hoje, após 14 meses de guerra e destruição de infraestruturas, a maioria das pessoas em Gaza vive em tendas que mal isolam o vento frio e a chuva. Nas últimas 12 horas, a chuva não parou”, diz Pascale Coissard, coordenadora de emergência de Médicos Sem Fronteiras (MSF).

De outubro de 2024 a dezembro de 2024, foram 325 internações na terapia intensiva neonatal. Gaza, 29 de dezembro de 2024. ©Nour Alsaqqa/MSF

No setor pediátrico apoiado por MSF do Hospital Nasser, em Khan Younis, o impacto da catástrofe humanitária na saúde das crianças é evidente. As equipes de MSF na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) estão tratando crianças com infecções respiratórias, desidratação e recém-nascidos prematuros com complicações – condições que podem ser fatais para essas crianças. De outubro a dezembro de 2024, a unidade de terapia intensiva neonatal apoiada por MSF teve 325 internações.

“As condições excepcionais pelas quais estamos passando nos últimos 14 meses, assim como a queda nas temperaturas agora, estão deteriorando ainda mais as condições de vida em tendas desgastadas e tornam essas crianças mais propensas à hipotermia”, explica Mohammad Abu Tayyem, pediatra de MSF no Hospital Nasser.

Mesmo antes de suas vidas começarem fora do útero, os bebês já correm risco de doença e morte.”

– Pascale Coissard, coordenadora de emergência de MSF

As necessidades de saúde das crianças são tão grandes que o departamento pediátrico, incluindo a UTIN, tem operado além de sua capacidade de leitos desde julho, com cerca de 25 leitos, todos ocupados. Mais de um quarto dos pacientes no setor são admitidos por síndrome do desconforto respiratório, uma condição que pode se apresentar em bebês prematuros, tornando-os ainda mais vulneráveis em condições de vida terríveis que muitos enfrentam em Gaza.

“Mesmo antes de suas vidas começarem fora do útero, os bebês já correm risco de doença e morte”, diz Coissard. “Uma vez nascidos, os bebês enfrentam desafios imediatos e extremos: deslocados no frio do inverno, sem acesso adequado a aquecimento, abrigo ou cuidados de saúde, à medida que Israel continua a bombardear Gaza e a restringir a entrada de suprimentos essenciais na Faixa de Gaza.”

“Enquanto isso, caminhões de ajuda humanitária são saqueados dentro do enclave, o que dificulta que a pequena quantidade de suprimentos permitida pelas autoridades israelenses chegue a quem precisa”, conclui Pascale Coissard.

O trabalho de MSF em cuidados pediátricos, neonatais e obstétricos são somente uma gota no oceano diante das imensas necessidades médicas em Gaza. Um cessar-fogo imediato e permanente é a única solução para aliviar o sofrimento da população e garantir o acesso a cuidados de saúde e ajuda humanitária.

MSF pede às autoridades israelenses que garantam a entrada rápida, desimpedida e segura de ajuda humanitária em nível suficiente para atender às necessidades das pessoas, incluindo suprimentos de inverno e suprimentos médicos. MSF também pede a todas as partes envolvidas no conflito que garantam rotas seguras para levar a assistência humanitária para dentro da Faixa de Gaza.

 

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