Como MSF está combatendo surtos de cólera em 10 países

As equipes de MSF estão implementando atividades de água e saneamento, promoção de saúde e campanhas de vacinação contra a doença.

Foto: Carmen Yahchouchi

Em 2022, pelo menos 30 países registraram surtos de cólera ou doenças com características semelhantes. Mas não se trata de um grande surto generalizado. Na maioria dos países, o surto atual de cólera está se dando devido a condições locais específicas. Os fatores de risco associados a surtos de cólera são bem conhecidos e sempre estão vinculados ao acesso à água potável e ao tratamento adequado de esgoto.

MSF está atualmente administrando projetos contra o cólera em 10 países: Quênia, Etiópia, Somália, Camarões, Nigéria, Haiti, Líbano, Síria, Malaui e Sudão do Sul. Nossas equipes estão envolvidas na prevenção da doença por meio de atividades de água e saneamento, promoção de saúde e campanhas de vacinação. Também estamos administrando unidades para tratar pacientes em instalações médicas e criamos centros de tratamento maiores e isolados, onde centenas de pacientes com cólera podem ser admitidos simultaneamente.

Pilares da intervenção de MSF contra o cólera
O tratamento do cólera é simples, à base de reidratação oral para a maioria dos pacientes e reidratação intravenosa para os casos mais graves. Se tratada a tempo, mais de 99% dos pacientes podem sobreviver à doença. Uma resposta eficaz ao cólera envolve a atuação articulada e simultânea – e o mais rápido possível – em diferentes frentes para tratar pacientes e interromper a transmissão dentro das comunidades.

Os principais pilares dessa estratégia dependem da estreita colaboração entre a equipe médica de MSF e epidemiologistas, especialistas em água e saneamento, gerentes de logística e promotores de saúde comunitários. Desde que uma vacina oral eficaz ficou disponível na última década, também incorporamos campanhas de vacinação em larga escala a nossa resposta médica.

Um dos principais fatores que garante a capacidade da resposta rápida de MSF é o kit de tratamento de cólera padronizado e pré-pronto, que vem equipado com sais de reidratação, antibióticos e medicamentos intravenosos, juntamente com baldes, botas, cloro e lonas plásticas. Resumindo, tudo o que é necessário para atuar rapidamente em campo logo que um surto é confirmado.

Foto: Abd Almajed Alkarh/MSF

Causas do cólera
Cólera é uma doença altamente contagiosa que ocorre em contextos sem acesso à água potável e a saneamento adequado. A doença provoca diarreia e vômitos abundantes, e, sem tratamento, pode levar rapidamente à morte por desidratação intensa. Na a maioria dos países, o surto atual de cólera ocorre por causa de condições locais específicas.

Crise política e/ou militar prolongada
Esse tipo de crise pode levar à falta de manutenção das infraestruturas de água potável e/ou esgoto. Este é o caso atual em países como Haiti, Somália e Síria.

● Veja: MSF pede apoio urgente para intensificar combate ao cólera no Haiti

Catástrofes naturais
O calor e a seca podem reduzir a quantidade de água potável disponível, forçando as pessoas a fazer uso de fontes inseguras. Inundações, por outro lado, podem facilitar a propagação da bactéria para fontes de água que costumavam ser seguras. Em 2022, países como Somália, Quênia e Etiópia sofreram com secas severas.
Outros, como o Sudão do Sul e a Nigéria, enfrentaram inundações.

● Saiba mais: Cólera no norte da Síria: um desafio em uma situação humanitária já precária

Deslocamento
Os refugiados muitas vezes têm que ficar em lugares onde não há acesso suficiente à água potável, e as autoridades geralmente não investem na provisão de água adequada e infraestrutura para a gestão de resíduos em campos de refugiados. Este ano, houve surtos de cólera em acampamentos no Líbano, na Somália e na Nigéria.

● Assista: Surto de cólera no Líbano

Quais são os desafios atuais?
O tratamento e a prevenção do cólera apresentam desafios logísticos consideráveis. A estruturação de centros de tratamento da doença requer muitos suprimentos, assim como projetos de água e saneamento. Em lugares que são inseguros ou de difícil acesso, essa é uma enorme dificuldade. O número de surtos deste ano torna a situação bastante desafiadora. Já se observa uma escassez de vacinas contra a cólera e o fornecimento de outros materiais essenciais, como o fluido para reidratação intravenosa, também está sob pressão.

● Entenda: Avanço do cólera força entidades a racionar vacinas

Por razões políticas, alguns governos não querem declarar oficialmente surtos de cólera. Isso torna muito difícil informar adequadamente as pessoas sobre como elas podem se proteger e faz com que seja impossível realizar campanhas de vacinação contra a doença.

O cólera é notavelmente subnotificado e indicadores globais confiáveis sobre o número de casos não estão disponíveis. As melhores estimativas apresentam números entre 1,5 e 4 milhões de casos por ano.

Foto: Michel Lunanga/MSF
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