Congoloses de Kivu do Norte fogem para Uganda

Movimentação se intensifica na busca por segurança

Desde maio, mais de 25 mil refugiados da República Democrática do Congo (RDC) cruzaram a fronteira da província de Kivu do Norte para a região sudoeste de Uganda, fugindo de conflitos entre o exército da RDC e grupos rebeldes.

No dia 4 de julho, os conflitos se aproximaram da cidade fronteiriça de Bunagana e o fluxo de novos refugiados se intensificou. Vincent, 30, é um deles. “Fugimos porque estávamos aterrorizados com o conflito entre o exército e os rebeldes”, ele disse. “Há um provérbio africano que diz ‘quando dois elefantes brigam a grama é pisoteada’. Saí da região de Rutshuru com minha família em busca de segurança em Uganda, até as coisas se acalmarem.”

Os refugiados são transportados para um local temporário em Nyakabande, nos arredores de Kisoro, que normalmente é uma região turística tranquila para viajantes que tenham interesse em observar os raros gorilas das montanhas.

O acampamento tem aproximadamente 400 tendas que foram instaladas em um enorme campo diante do vulcão Muhabura, de cerca de 4 mil metros de altura. A população registrada pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) ultrapassou 10 mil pessoas, número que excede a capacidade inicial do local. Diversas organizações humanitárias, incluindo Médicos Sem Fronteiras (MSF), estão providenciando abrigo, água, alimentos e cuidados de saúde para as famílias.

Brigitte Rossotti, coordenadora de operações de MSF no local, disse: “As ondas de novos refugiados dependem de onde os conflitos acontecem. Algumas pessoas andaram por algumas semanas para chegar a Uganda, escondendo-se nas florestas para evitar confrontos perigosos. Outros saíram pela manhã e chegaram de tarde.”

O cólera é outra ameaça; uma epidemia já está em curso na RDC, aumentando o receio de que a doença possa cruzar a fronteira junto com os recém-chegados em Uganda. É necessário que haja um monitoramento cuidadoso para identificar quaisquer casos suspeitos e conter o risco de contágio.

Alguns dos refugiados em Nyakabande estão esperando que a situação na RDC se estabilize para retornarem para suas casas. Eles se preocupam com o fato de terem de sair em breve do acampamento, que é normalmente utilizado apenas para trânsito e considerado muito próximo da fronteira por autoridades ugandesas.

Outros decidiram por se instalar em Uganda. Cerca de 18 mil congoleses foram transferidos permanentemente para Rwamwanja, que é um antigo campo de refugiados que o governo ugandês reabriu em meados de abril. Fica localizado em uma região de florestas no interior do país a um dia de viagem de Kisoro. Cada família recebe um pedaço de terra para cultivar e mantimentos, enquanto diversas ONGs trabalham para melhorar o acesso à água potável e cuidados de saúde.

“A situação atual demanda presença humanitária em ambos os locais – Nyakabande e Rwanwanja – simultaneamente”, disse Ruben Pottier, coordenador geral de MSF em Uganda. “Se os refugiados continuarem a chegar nessa intensidade, mais ajuda será necessária.”
 

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