Costa do Marfim: salvando as vidas de mães e seus recém-nascidos

Parceria de MSF com autoridades locais tem como objetivo reduzir a mortalidade materna e infantil em regiões do país

Costa do Marfim: salvando as vidas de mães e seus recém-nascidos

Na região central de Hambol, na Costa do Marfim, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) está em parceria com o Ministério de Saúde e Higiene Pública para reduzir as taxas de mortalidade materna e infantil. Neste ano, o programa conjunto está estendendo seu apoio às comunidades mais remotas da região.

Ele ainda não tem nome, mas em apenas 48 horas de vida o bebê já é um sobrevivente. Sua mãe, Fatoumata, com pouco mais de 20 anos de idade, deu à luz dois bebês gêmeos na própria casa há cerca de dois anos e meio. Desta vez, o nascimento aconteceu em março. Ela esperava gêmeos de novo e mais uma vez deu à luz em casa, nos limites da cidade de Katiola.

Mas o parto foi complicado e, quando Fatoumata chegou ao hospital, o primeiro gêmeo já havia nascido, mas sofria de uma dificuldade respiratória grave. Enquanto isso, seu irmão estava preso e posicionado de forma estranha no útero. O primeiro gêmeo foi mandado imediatamente à unidade de terapia intensiva e sua mãe ao centro cirúrgico, onde o segundo bebê nasceu por meio de uma cesariana. Apesar de todos os esforços, a equipe médica não conseguiu salvar a primeira criança e a mãe também faleceu poucas horas depois. As probabilidades não estavam a favor da mãe. Ela não teve acesso a cuidados de pré-natal e, quando chegou ao hospital, já era tarde demais: ela já estava muito doente e havia perdido muito sangue. Seu segundo gêmeo, o sobrevivente, foi admitido na unidade de terapia intensiva de recém-nascidos, é regularmente atendido pela equipe neonatal e visitado todos os dias pelo pai viúvo.

“A história de Fatoumata é emblemática. Ela mostra as razões pelas quais MSF está em Katiola”, diz o dr. Gabriel Kabilwa, conselheiro médico do programa. “Aqui, na região de Hambol, todos os anos há muitas mulheres como Fatoumata e seus recém-nascidos, que morrem durante o nascimento ou pouco depois. Para as mulheres, as principais causas de óbito são hemorragias intensas e eclampsia (um distúrbio de hipertensão que pode ocorrer durante a gravidez). Entre os bebês, a principal causa de mortalidade é a sepse (infecção generalizada grave). Muitas mortes de mães e recém-nascidos também são resultado do acesso precário ao tipo de cuidado que resolveria complicações como essas. Esse tipo de cuidado é muito caro, muito distante ou simplesmente indisponível. Por esse motivo é extremamente importante que o acesso a cuidados seja melhorado nas áreas menos favorecidas de Hambol”.

“Para conseguir isso, a parceria de MSF com o Ministério de Saúde e Higiene Pública apoia o acesso e a disponibilidade de cuidados de qualidade para as mulheres da região, no hospital de Katiola e em três centros de saúde primária”, explica Romain Jacquier, coordenador de projeto em Koutiala. “Esses são os vínculos físicos em nossa provisão contínua de cuidados, que começa com o monitoramento da gravidez antes do nascimento do bebê e passa por cuidados à mãe até o momento do parto, pelo gerenciamento de emergências obstétricas e a provisão de cuidados neonatais em caso de o bebê ter nascido muito pequeno ou sofrendo alguma complicação”.

Dobrar o número de instalações apoiadas por MSF em 2017

“Desde que começamos a apoiar os centros de saúde primária, nossa equipe conjunta de obstetrizes de MSF e do Ministério fizeram consultas por meio de cuidados diretos nas instalações, por telefone quando os profissionais dos centros têm pacientes de emergência e organizaram transferências para hospitais quando as mães ou recém-nascidos precisaram disso. MSF também fornece medicamentos essenciais, equipamentos e acesso regular a água limpa nos centros de saúde primária e no hospital”, diz Estelle Thomas, coordenadora de atividades de MSF para Hambol. Em 2017, o objetivo é dobrar o número de centros de saúde primária apoiados pela parceria e também ajudar a renovar o antigo centro de saúde materno-infantil (conhecido como PMI).

No início da manhã, na mesma semana que Fatoumata chegou, Albertine foi encaminhada de Dabakala para o hospital de Koutiala, a mais de 80 quilômetros de distância. O ginecologista e obstetra Rasha Khoury explica o caso de Albertine antes de se preparar para operá-la. “Ela precisa dar à luz o filho por meio de cesariana porque o bebê é maior que sua pélvis. Essa intervenção é potencialmente vital, porque se o seu trabalho de parto for prolongado, ela corre risco de ter uma ruptura uterina ou uma obstrução e as duas coisas podem causar complicações graves para ela no futuro. Ela já passou por uma cesárea no nascimento do primeiro bebê e tomou um remédio tradicional para acelerar o nascimento dessa vez. Na verdade, essa combinação já causou uma ruptura parcial do útero”. Uma hora após o início da cirurgia, Albertina já estava fora de perigo. Seu recém-nascido sobreviveu, mas precisou ser ressuscitado por um pediatra e uma obstetriz, porque seus pequenos pulmões estavam cheios de mecônio (fezes de recém-nascido). Ele está sob observação na unidade de terapia intensiva. “Sem a transferência rápida de Dabakala, os serviços de emergência obstétrica do hospital de Koutiala, os profissionais treinados, o banco de sangue e a unidade de recém-nascidos, a mãe e o bebê provavelmente não teriam sobrevivido”, diz Rasha.

Como parte do compromisso de MSF com a prestação de cuidados materno-infantis em Hambol, a organização também tem como objetivo melhorar o acesso da população a cuidados de saúde, por meio da provisão de vacinações e cuidados específicos para vítimas da violência sexual

Principais dados de 2016

Estima-se que ocorram 645 mortes maternas a cada 100 mil nascimentos na Costa do Marfim, em comparação à proporção de 62/100 mil no Brasil.
Mais de 3 mil nascimentos, dos quais 20% são cesáreas, foram assistidos em 2016 pela equipe médica do hospital de Koutiala. A cada mês, 60 recém-nascidos são tratados para complicações no nascimento.
Mais de 1.200 partos foram registrados nos três centros de saúde primária apoiados por MSF em parceria com o Ministério.

 

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