COVID-19 na Guiné-Bissau: MSF apela a urgente reforço da resposta à pandemia

Melhor coordenação e ampliação dos esforços de todos os envolvidos na resposta a todos os níveis são essenciais

Guiné-Bissau

Face ao aumento dramático no número de casos confirmados de COVID-19 na cidade de Bissau, as várias atividades de prevenção e de resposta no país à pandemia têm de ser intensificadas. Melhor coordenação e uma ampliação de esforços de todos os envolvidos na resposta à pandemia são essenciais para a proteção da população e dos profissionais de saúde.

A Guiné-Bissau está face a um aumento alarmante no número de casos de COVID-19, a maioria registados na cidade de Bissau. O número de pessoas infetadas pelo vírus aumentou em 15 vezes nos últimos 14 dias, de 54 casos a 30 de abril para mais de 836 à data deste comunicado, o que coloca o país como um dos mais pesadamente afetados em termos de casos per capita em África.

“Num país pequeno como a Guiné-Bissau, com uma população estimada de 1,9 milhões, e de 250.000 em Bissau, que é o epicentro da COVID-19 no país, este aumento dramático mostra que o vírus continua a propagar-se nas comunidades e mais rápido do que pensávamos”, explica Monica Negrete, chefe de missão da MSF em Bissau. “Confirma também que estamos de facto numa tendência ascendente da contaminação apesar das medidas adotadas pelas autoridades”.

Até à data foram oficialmente reportadas três mortes mas, com os números em crescendo, é possível que algumas mortes não tenham ainda sido registadas ou reportadas.

Outro facto preocupante é que um vasto número de profissionais médicos do Hospital Nacional Simão Mendes (HNSM) contraíram a COVID-19 e estão atualmente em quarentena impossibilitados de trabalhar.

Além disso, o elevado nível de estigma e a importante falta de conhecimento sobre a doença por parte da população no país tornam a situação ainda mais grave e complica as possibilidades de conter a propagação da epidemia.

Desde o início de fevereiro, a MSF tem vindo a participar no COES (Centro de Operações de Emergência de Saúde) na Guiné-Bissau, onde as decisões e concretização da resposta na emergência de saúde são debatidas e coordenadas entre as autoridades governamentais e as várias entidades internacionais presentes no país.

“Embora tenham sido tomadas medidas, como zonas de isolamento em unidades de saúde designadas e a gestão básica de casos, estas são ainda insuficientes e frequentemente mal coordenadas ao nível de Bissau e nas regiões”, acrescenta Negrete. “As agências internacionais, o sistema da ONU e outras entidades locais envolvidas na resposta à COVID-19 têm de redobrar os seus esforços com urgência, uma vez que permanece ainda um grande número de necessidades que não estão cobertas. A gravidade dos números de hoje requer liderança e determinação ao mais alto nível”.

Uma melhor coordenação sustentada em transparência e solidariedade é urgente para garantir que os planos de resposta à COVID-19 são bem divulgados e compreendidos.

A MSF apela a todas as entidades envolvidas na Guiné-Bissau na resposta à pandemia a fazerem todos os esforços para aumentar significativamente as atividades a todos os níveis da resposta, e principalmente a darem prioridade aos aspetos específicos:

Os profissionais de saúde no país – na vanguarda da resposta à COVID-19 e outros – têm de estar protegidos, em particular através do fornecimento do necessário equipamento de proteção e outras medidas de IPC (infeção, prevenção e controlo). Têm de ser ativados planos de contingência nas estruturas de saúde, incluindo zonas de isolamento e capacidade de gestão básica de casos como oxigénio.

O reforço da epidemiologia a nível nacional e a nível regional e garantir o registo de dados e a organização laboratorial, rastreamento de contactos e monitorização de casos suspeitos e confirmados são urgentes para compreender a situação e tomar as medidas apropriadas.

O envolvimento da comunidade é fundamental: a população precisa de compreender os riscos associados à COVID-19 e quais as medidas apropriadas a tomar para mitigar a propagação da doença. É crucial continuar a trabalhar em proximidade com as comunidades para providenciar cuidados domiciliarios e proteger as pessoas. Atividades regulares visando o aumento de consciencialização devem ser prestadas com o envolvimento de todas as comunidades e da sociedade civil.

As medidas COVID-19 adotadas não devem erguer barreiras no acesso a serviços essenciais de cuidados de saúde aos mais vulneráveis. A assistência humanitária tem de ser assegurada, principalmente garantindo a capacidade de deslocação dos profissionais humanitários de saúde nacionais e internacionais.

Finalmente, uma resposta apropriada à pandemia da COVID-19 não deve absorver toda a capacidade local disponível. Num país com um sistema de saúde extremamente frágil como a Guiné-Bissau, a realocação de recursos pode ter custos noutras prioridades de saúde. Maior mobilização das entidades internacionais e de recursos é essencial e necessário para proteger a saúde da população.

 

Presente nas unidades de emergência pediátrica e neonatal do HNSM, a Médicos Sem Fronteiras (MSF) ativou as medidas necessárias de prevenção e proteção dos profissionais de saúde e dos pacientes nos serviços em que presta apoio. Assistência técnica e formação para a concretização de medidas preventivas foram também oferecidas ao resto das equipas do HNSM. A MSF tem prestado e providenciou apoio significativo na preparação e formação das equipas envolvidas na gestão de casos de COVID-19. A MSF está também a dar apoio ao centro de atendimento telefónico COVID-19, o qual responde 24 horas por dia a telefonemas da população, e tem duas equipas móveis que se deslocam diariamente às comunidades para proceder ao rastreamento de contactos e monitorização de casos suspeitos. Ao longo da última semana, tem sido dado também apoio no registo e organização de dados ao departamento de epidemiologia e ao laboratório nacional.

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