Crise humanitária na Etiópia: cinco aspectos da resposta de MSF

MSF fornece assistência médica imparcial por todo o país; conflitos, inundações e a pior seca em 40 anos impuseram desafios às comunidades.

Foto: Gabriella Bianchi/MSF

Estima-se que mais de 22 milhões de pessoas necessitam de assistência humanitária na Etiópia. Muitos enfrentaram as trágicas consequências do conflito, particularmente comunidades nas regiões de Afar, Amhara, Tigray e Nações do Sul.

Ao mesmo tempo, os desastres ambientais levaram as pessoas aos seus limites. Comunidades em toda a região somali experenciaram o que é relatado como a pior seca em 40 anos. E quando as inundações atingiram a região de Gambella, mais de 180 mil pessoas foram deslocadas de suas casas, enquanto as instalações de saúde sofreram danos enormes.

Médicos Sem Fronteiras (MSF) responde às necessidades médico-humanitárias de emergência das pessoas em todas essas regiões, incluindo aquelas afetadas por doenças tropicais negligenciadas mortais endêmicas na Etiópia. Equipes de MSF compartilham as necessidades e o impacto da ação humanitária que estão testemunhando no país.

Clínicas de estabilização móvel

“Durante três meses, entre julho e setembro, respondemos a uma terrível emergência na Zona de Sitti, na região somali da Etiópia, uma área atingida ciclicamente por uma combinação de secas e inundações, perda de meios de subsistência, bem como conflitos e deslocamentos nos arredores”, diz Anna, coordenadora do projeto de MSF.

“MSF administrou clínicas de estabilização móvel nutricional em vários locais que realizaram exames e uma primeira resposta à desnutrição com alimentos terapêuticos. O projeto foi destinado a crianças, mas adultos gravemente desnutridos também receberam cuidados médicos, e pacientes com complicações foram transportados de volta para a instalação de nutrição terapêutica hospitalar que MSF apoiou em Asbuli, para cuidados mais avançados. Durante a intervenção, cerca de 2.600 pessoas receberam consultas médicas”, acrescenta Anna.

Resposta ao cólera

O pico da temporada de desnutrição passou em novembro de 2022. À medida que a resposta emergencial à desnutrição começou a ser encerrada, outras equipes de MSF se preparavam para ampliar a resposta a um surto de cólera. As equipes médicas começaram a fornecer treinamento sobre gerenciamento de casos de cólera para a equipe médica local. Além disso, os especialistas em logística e água e saneamento de MSF estavam garantindo o acesso à água potável e higiene.

“Paralelamente, a equipe montou centros de tratamento de cólera, pontos de lavagem das mãos, construiu 12 latrinas e uma estação de tratamento de água para permitir que as pessoas tenham acesso à água potável limpa e segura no campo de Adeley, onde vivem cerca de 75 mil pessoas. Pontos de reidratação oral também foram implementados dentro do acampamento, o mais afetado pela epidemia de cólera”, diz Najah Aden Mire, coodenadora de atividades de água e saneamento.

Comunidades afetadas por conflitos

Foto: Gabriella Bianchi/MSF Maternidade no centro de saúde de MSF no acampamento de refugiados de Kule.

Nas áreas rurais do Norte de Amhara afetadas por conflitos, as pessoas sofreram violência, perda de bens e enfrentam dificuldades para acessar serviços básicos, como saúde. Meses de conflito na região esgotaram os mecanismos de enfrentamento das pessoas.

“Observamos necessidades enormes aqui. A maioria de nossos pacientes é afetada pela depressão. Alguns perderam parentes ou suas casas foram destruídas, outros podem ter perdido seu sustento.”
– Demeke, supervisor de MSF para serviços psicossociais.

Entre os serviços essenciais que as equipes móveis de saúde de MSF oferecem, a saúde da mulher e o apoio psicossocial são fundamentais para a resposta. “Nossas equipes médicas têm atendido sobreviventes de violência sexual e de gênero. Os sobreviventes recebem assistência médica e apoio psicossocial”, diz Noortje, um dos médicos de MSF que trabalha como parte da equipe de clínicas móveis que oferece atendimento na região.

Cuidados de saúde no acampamento de Kule

No acampamento de Kule, onde mais de 50 mil pessoas do Sudão do Sul agora residem após buscarem refúgio, as equipes médicas de MSF oferecem serviços de saúde primária e secundária e atendem pacientes ambulatoriais e internados.

“Nossos pacientes não são apenas refugiados sul-sudaneses. Também fornecemos serviços para a comunidade local. Muitos trabalham aqui para diferentes organizações de assistência, bem como para a organização da Etiópia para refugiados. A maioria dos pacientes são crianças menores de cinco anos e mulheres grávidas”, diz Hailemariam, um médico que trabalha na sala de emergência do centro de saúde de Kule.

Envenenamento por picada de cobra e calazar

“Havíamos acabado de reabrir nossa clínica em Abdurafi, quando, três dias depois, um menino de 12 anos foi trazido do hospital em Metema. Ele havia sofrido envenenamento por picada de cobra em seu pé direito. Os médicos conseguiram colocá-lo em uma ambulância e enviá-lo para Abdurafi, a instalação onde, desde 2015, MSF oferece tratamento antiofídico gratuito e de qualidade. Não perdemos tempo. Nós aplicamos antiofídico e fluidos de reidratação. Tentamos de tudo. Usamos 12 frascos de antiofídico para tratar a criança. Foi realmente incrível que o menino tenha se recuperado”, diz Kassaye, coordenadora de atividades médicas de MSF em Abdurafi.

“Eu me juntei a MSF por causa dos princípios da organização. O que eu acho mais importante é a imparcialidade. É o cerne de MSF – tratamos todos, independentemente de quem são ou de onde são.”
– Kassaye, coordenadora de atividades médicas de MSF em Abdurafi.

“Outro dia, um homem sudanês veio ao nosso centro de saúde. Ele estava com calazar, uma doença mortal que as equipes de MSF tratam nesta clínica. No entanto, não conseguimos entender um ao outro porque ele não podia falar uma palavra da língua amárica, apenas árabe. Fomos à procura de um tradutor na cidade e encontramos alguém que pudesse traduzir. O homem foi tratado e eventualmente recuperado e recebeu alta”, diz Kassaye.

 

MSF trabalha na Etiópia há 37 anos, prestando assistência médica a milhões de pessoas afetadas por conflitos, epidemias, desastres ou com acesso limitado a cuidados de saúde, em colaboração com as autoridades etíopes nos níveis local, regional e nacional. Todas as nossas atividades são guiadas por princípios humanitários: humanidade, independência, neutralidade e imparcialidade.

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