Cuidado de emergência baixa drasticamente mortalidade materna

Novo estudo realizado por Médicos Sem Fronteiras (MSF) aponta para uma diminuição de 74% nas mortes maternas em distrito do Burundi após oferta de cuidados obstétricos de emergência

 Um novo estudo realizado nos projetos de Médicos Sem Fronteiras (MSF) em Kabezi, no Burundi, e Bo, em Serra Leoa, indica que é possível alcançar uma rápida e substancial redução das mortes maternas de até 74% garantindo o acesso a cuidados obstétricos de emergência. A pesquisa é a primeira a quantificar o impacto deste modelo de prestação de serviços na mortalidade materna em contexto africano.

Os dados de MSF relativos a 2011, publicados recentemente no relatório “Parto Seguro: Reduzindo o Índice de Mortalidade Materna em Serra Leoa e Burundi”, indicam que a introdução de um sistema de transferência por ambulância, associado à provisão de serviços obstétricos de emergência, pode reduzir significativamente o risco de as mulheres morrerem devido a complicações relacionadas à gestação.

“Não são necessárias instalações de primeiríssima qualidade ou equipamentos para salvar muitas vidas de mulheres”, disse Vincent Lambert, consultor médico de MSF para projetos no Burundi. “A experiência de MSF pode servir como um exemplo motivador para doadores, governos e outras organizações que estejam considerando investir na melhora do acesso a cuidados obstétricos de emergência em países com altos índices de mortalidade materna.”

Os dados de MSF demonstram que a mortalidade materna no distrito de Kabezi, em Burundi, baixou para 208 a cada 100 mil bebês nascidos vivos, sendo que a média nacional é de 800 a cada 100 mil. A redução foi de 74%.

Os cuidados obstétricos de emergência oferecidos nos hospitais de MSF em Bo e em Kabezi funcionam 24 horas por dia, sete dias por semana, e todos os serviços são gratuitos. Os custos anuais totais dos programas são equivalentes a €1,5 (o equivalente a R$ 4,0) por cada pessoa atendida no distrito de Bo e €3,2 (R$ 8,6) em Kabezi.

“Aqui em Serra Leoa, dar à luz é, muitas vezes, um desafio que coloca as vidas de muitas mulheres em risco”, diz Betty Raney, obstetra a serviço de MSF em Serra Leoa. “Em meus 25 anos como obstetra, eu nunca havia observado tal nível de gravidade entre pacientes. Sem acesso a cuidados, muitas das mulheres teriam morrido.”

Tanto em Serra Leoa quanto em Burundi os índices de mortalidade materna são extremamente elevados, devido à dificuldade de acesso a serviços de pré-natal e cuidados obstétricos de qualidade. Tais questões estão relacionadas à escassez de mão de obra qualificada, à falta de instalações médicas e aos sistemas de saúde destruídos por anos de guerra civil. MSF é a única provedora de cuidados obstétricos de emergência nos distritos de Kabezi e Bo.

Uma referência internacional é o quinto Objetivo de Desenvolvimento do Milênio, que diz respeito à redução em 75% do índice de mortalidade materna até 2015, considerando o índice de 1990 para comparação. As estimativas de MSF indicam que o índice no distrito de Kabezi já está abaixo deste nível. No distrito de Bo, MSF acredita que o índice de mortalidade vai baixar 75% até 2015.

Em 2011, MSF levou cuidados obstétricos de emergência essenciais para um total de 3.647 mulheres nos distritos de Kabezi e Bo.

MSF oferece acesso a serviços obstétricos de emergência em Burundi desde 2006 e em Serra Leoa desde 2008.

Cerca de 287 mil mulheres do mundo inteiro morrem a cada ano durante o parto, deixando para trás crianças que, por consequência da morte de suas mães, são dez vezes mais vulneráveis à morte prematura.
 

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