Cuidando umas das outras: mulheres que desafiam as consequências dos conflitos

Em contextos de conflito e guerra no mundo, mulheres desempenham papéis indispensáveis para atender às necessidades de saúde de outras mulheres em suas comunidades.

Mulheres em acampamento na República Democrática do Congo. Fevereiro de 2024. © Marion Molinari

As necessidades regulares de saúde das mulheres não desaparecem quando um conflito irrompe ou quando se inicia uma guerra. Em vez disso, elas se tornam mais críticas, pois há dificuldades para obter alimentos adequados, água potável ou saneamento básico, e o acesso a contracepção, cuidados de maternidade ou proteção contra infecções sexualmente transmissíveis é perdido. Além disso, em contextos de conflitos e guerras, as mulheres se tornam cada vez mais expostas a violências sexual e doméstica. 

Como resultado, a população feminina nesses contextos apresenta maior probabilidade de adoecimento ou morte. Por conta disso, serviços de saúde e proteção abrangentes dedicados às mulheres precisam ser prioridades em qualquer resposta humanitária.

 

No Chade, na República Democrática do Congo (RDC), na Palestina e em muitos outros contextos de conflito e guerra, Médicos Sem Fronteiras (MSF) muitas vezes só consegue estabelecer e expandir os serviços de saúde para a população feminina graças à contribuição das mulheres nas comunidades impactadas. Elas se tornam fundamentais para a resposta médica, compartilhando habilidades, experiência, conhecimento local e solidariedade para permitir que mais mulheres tenham acesso a cuidados médicos e apoio social. 

Aqui, compartilhamos os relatos de três mulheres essenciais para que outras mulheres em situações de conflito recebam os cuidados que precisam. 

 

Quero manter mães e bebês seguros.”

– Khadija Yahia Adam*, obstetriz e refugiada sudanesa no Chade.

 

Khadija Yahia Adam* é uma experiente obstetriz que está entre os mais de 600 mil refugiados sudaneses que agora tentam sobreviver no Chade. A maioria das mulheres refugiadas no leste do Chade prefere fazer partos em casa, assistidas por obstetrizes da comunidade. No entanto, em um acampamento como os que existem em Adré, as obstetrizes geralmente não dispõem das ferramentas e condições higiênicas necessárias, o que aumenta os riscos para as mães e seus bebês. 

Khadija não pode trabalhar formalmente no Chade, mas foi treinada por MSF como voluntária para apoiar o fornecimento de cuidados pré e pós-natais e encaminhamentos para a maternidade administrada por MSF.

 

 

Como obstetrizes, voluntárias de saúde comunitária, mediadoras interculturais e em outras funções, as mulheres fornecem conforto e aconselhamento confidenciais, às vezes na privacidade de suas próprias casas. Elas encaminham outras mulheres para serviços apropriados ou participam diretamente do fornecimento de cuidados contraceptivos, serviços de saúde relacionados à gravidez, cuidados pós-natais, atendimento para sobreviventes de violência sexual e apoio de saúde mental. 

As mulheres desempenham um papel fundamental, aumentando a conscientização sobre os problemas de saúde da população feminina, ampliando o envolvimento da comunidade e reduzindo o estigma. Elas também podem apoiar outras mulheres com o conhecimento e as habilidades para administrar parte de seus próprios cuidados de saúde por meio do autocuidado, permitindo que elas cuidem de si mesmas e de outras pessoas.

 

Eu sou uma pessoa deslocada, também sou voluntária de saúde.”

– Henriette Mbitse ajuda sobreviventes de violência sexual na República Democrática do Congo.

 

Entre as muitas pessoas deslocadas devido ao crescente conflito no leste da República Democrática do Congo, agentes de saúde voluntárias como Henriette Mbitse estão ajudando a aumentar o acesso seguro e confidencial de sobreviventes de violência sexual a cuidados médicos no projeto de MSF em Kanyaruchinya. “Maman” (“mãe”, em francês) Henriette, como é carinhosamente chamada, era voluntária de saúde em seu vilarejo natal antes de precisar deixar tudo para trás com sua família. 

 

 

O trabalho de mulheres como Henriette demonstram sua própria resiliência: diante do deslocamento forçado causado pelos conflitos, da sobrevivência à violência direta, da perda de um familiar ou mais, da responsabilidade de administrar uma casa, dos filhos para cuidar e, muitas vezes, de um futuro cheio de incertezas. 

 

As mães [em Nablus] sofrem com a perda de seus filhos, maridos e crianças, o que é muito triste.”

– Noura Arafat, mediadora intercultural de MSF em Nablus, na Palestina.

 

Noura Arafat, mediadora intercultural de MSF, viveu em Nablus, na Cisjordânia, Palestina, durante toda a sua vida. Desde a guerra em Gaza, a situação em toda a Cisjordânia ocupada, incluindo em Nablus, continuou a piorar, com maiores restrições de movimento e aumento da violência por parte dos colonos e das forças israelenses. O luto é um dos muitos desafios que as mulheres enfrentam. Noura ajuda mulheres de sua comunidade a acessar apoio no programa de saúde mental de MSF.

 

 

*Nome alterado para proteger a privacidade individual

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