Dia Internacional da Enfermagem: quatro depoimentos de profissionais de MSF

Enfermeiras e enfermeiros que atuam em nossas equipes de terapia intensiva relatam desafios e conquistas de seu trabalho.

Mais de 10 mil profissionais de enfermagem estão prestando cuidados de saúde nos projetos humanitários de Médicos Sem Fronteiras (MSF) ao redor do mundo – a maior representação profissional na organização.

Essa equipe diversa de MSF inclui enfermeiros que atuam com terapia intensiva, tratando pacientes em estado grave que, de outra forma, poderiam não ter acesso a cuidados essenciais que salvam vidas.

Para marcar o Dia Internacional da Enfermagem, 12 de maio, pedimos a alguns desses profissionais que compartilhassem seus desafios, realizações e sua visão para o futuro da área de trabalho.

Anis AbdRaboh Dayan, Centro de Trauma em Aden, Iêmen

“O mundo se converteu em tantas guerras, tantos desastres. O sofrimento está devastando este mundo. Então, plantar um sorriso em um rosto triste é algo muito bonito. Você se sente satisfeito. Sente que é um ser humano, em todo o sentido da palavra, e está praticando sua humanidade.”

“Os desafios permanecem com qualquer trabalho que você faça. Os obstáculos são muitos. Em primeiro lugar, a falta de compreensão da sociedade sobre o conceito de enfermagem, que o trabalho do enfermeiro é limitado a dar injeções e curativos apenas. Mas é muito mais do que isso!”

“Portanto, a visão sobre a profissão de enfermagem deve se expandir e se tornar mais clara. E deve ser dado seu devido lugar, porque é uma parte influente desta sociedade e de toda a humanidade.”

Anis foi inspirado a se tornar enfermeiro após sua própria emergência médica quando menino. “Caí no chão e me machuquei. Eu estava com muita dor. Foi quando um enfermeiro do pronto-socorro me recebeu. Ele me tratou muito bem, tirou meu medo, me enfaixou e me deu remédio. Adorei a enfermagem daquele dia em diante.”

Hoje, no Centro de Trauma de MSF em Aden, Iêmen, tem testemunhado o preço brutal da violência armada e da guerra civil contra adultos e crianças no país.

Gessica Fleurmond, Hospital Tabarre, Haiti

A família de Gessica Fleurmond sabia, desde cedo, que ela estava destinada à enfermagem. Agora, Gessica é uma enfermeira de terapia intensiva com sólida experiência. Ela e seus colegas ajudam centenas de pacientes com traumas todos os anos no hospital Tabarre de MSF em Porto Príncipe, Haiti.

“Minha habilidade para me tornar enfermeira foi descoberta por minha avó e minha irmã. Elas achavam que eu cuidava bem daqueles que eu amava e que eu me certificava de que tudo fosse feito da melhor maneira possível. Foi isso que me levou a seguir esta carreira. Pensei que talvez fosse a minha vocação.”

“O que eu desejo para essa geração de enfermeiros no Haiti é que eles sejam firmes, mas ao mesmo tempo gentis, que tenham muita empatia, amor, grande ética, dedicação e também muita coragem, porque é preciso. Sim, porque o país está quase nos pressionando a desistir, mas se você olhar apenas para o lado negativo, ficará desanimado antes mesmo de entrar no hospital. Precisamos nos concentrar nos pacientes, porque eles precisam de nós.”

“Enfermagem é uma profissão nobre, é um chamado. Precisamos nos esforçar e ajudar os outros, é quase como nos colocar em segundo lugar para cuidar dos outros.”

Theophilus Tyonongu, Maternidade em Jahun, Nigéria

Em Jahun, no norte da Nigéria, mulheres e meninas são admitidas diariamente na unidade de terapia intensiva da maternidade de MSF com complicações na gravidez ou no parto, que colocam suas vidas em risco. Theophilus Tyonongu ajuda na recuperação dessas pacientes.

“A melhor coisa sobre ser um enfermeiro é realmente observar os impactos de seus cuidados na vida do paciente. Você vê o paciente se recuperando e ficando bem com o que você está fazendo.”

Theophilus cresceu envolvido com a área da saúde, pois seus pais trabalhavam em hospitais e criaram laços estreitos com os pacientes. “Eu via como eles atendiam as pessoas, como as ajudavam. Algumas delas até se tornaram amigas da família por causa disso. Então, vi o impacto que eles causavam na vida das pessoas e, na verdade, optei por seguir isso e ser capaz de fazer mais a partir de onde eles pararam”, diz ele.

“A enfermagem na Nigéria está se desenvolvendo muito rápido. Mas eu posso ver que há uma alta taxa de desemprego, embora ainda haja uma escassez de enfermeiros no país. Os objetivos de alguns desses profissionais não são alcançados como alguns podem desejar. Portanto, há uma alta taxa de migração para [lugares] onde eles sentem que podem ter uma experiência melhor e ser capazes de atingir seus objetivos pessoais.”

“Eu desejo ver mais especialidades em enfermagem, mais enfermeiros acadêmicos na população, para ter maior destaque.”

Noami Biswas, Hospital Materno-Infantil Goyalmara, Bangladesh

Como enfermeira de terapia intensiva no Hospital Materno-Infantil Goyalmara, em Cox’s Bazar, Noami Biswas tem o compromisso de oferecer atendimento centrado no paciente para crianças em estado grave e suas famílias.

“A melhor coisa de ser enfermeira é se conectar com os pacientes, com sua família e ajudá-los em seus momentos ruins, quando eles mais precisam de nós. Nós os envolvemos em tudo desde o início. Com a alimentação do paciente, envolvemos a mãe o tempo todo porque ela precisa saber como alimentar o bebê. Explicamos ao paciente, mãe e família – pais também.”

O interesse de Noami pela enfermagem começou na infância. “Houve um momento em que minha mãe estava no hospital, vi algumas enfermeiras lá e elas foram muito prestativas. Elas eram muito atenciosas. Elas me inspiraram. Eu pensei: ‘Eu posso ser como elas’.”

“Eu quero que as pessoas saibam que a enfermagem é uma importante profissão e nós, enfermeiros, realmente trabalhamos duro para que o ente querido de alguém possa se curar e ir para casa com segurança. Enfermagem é um importante trabalho.”

“Acho que precisamos de enfermeiros que estejam dispostos a fazer algo pelo nosso país, pela nossa comunidade e pelo nosso povo. Eu diria para os enfermeiros mais jovens: ‘Venham’.”

 

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