Ebola em Uganda: quatro fatos que você precisa saber

MSF está apoiando o Ministério da Saúde do país na resposta ao surto da doença.

Foto: Augustin Westphal/MSF

Desde a declaração do surto de Ebola em Uganda, em 20 de setembro, até o dia 2 de outubro, o Ministério da Saúde do país confirmou 43 casos da doença e relatou 29 mortes*. Médicos Sem Fronteiras (MSF) está trabalhando com o Ministério da Saúde para estabelecer uma resposta inicial de emergência para ajudar a impedir que a doença se espalhe ainda mais.

O atual surto em Uganda é causado por uma variante relativamente rara do vírus conhecida como cepa do Sudão, que levanta uma série de desafios médicos e operacionais para as equipes no terreno. A disseminação da doença requer o rápido desenvolvimento de soluções eficazes de detecção e tratamento em um país que esteve relativamente livre de epidemias na última década.

1. Há vacinas disponíveis para combater esta epidemia?
Foto: Augustin Westphal/MSF

Não há vacina para a cepa sudanesa do vírus, que é responsável pelo surto em Uganda. Estão em andamento discussões na Organização Mundial da Saúde (OMS) para determinar qual imunizante candidato poderia ser implementado em um novo ensaio clínico com o objetivo de licenciá-lo para uso. Sem nenhuma vacina comprovadamente eficaz agora, grande parte da resposta padrão precisa ser repensada.

A vacina rVSV, fabricada pela Merck, é licenciada para a cepa Zaire do vírus Ebola. Em epidemias ligadas a essa cepa, ela pode ser utilizada para limitar a disseminação da doença como parte de uma estratégia de vacinação que busca imunizar aqueles que entraram em contato com indivíduos infectados, pessoas que entraram em contato com essas pessoas e cuidadores de pacientes.

Uma segunda vacina, fabricada pela Johnson & Johnson, pode ser usada durante epidemias para proteger indivíduos em risco de exposição ao vírus. Além disso, pode ser aplicada como medida preventiva, antes que uma epidemia tenha sido declarada, para pessoas na linha de frente da resposta ou para aquelas que vivem em áreas ainda não afetadas pela epidemia. Assim como nos ensaios clínicos conduzidos para a vacina da Johnson & Johnson contra a cepa Zaire na República Democrática do Congo (RDC) em 2019, MSF está pronta para ajudar nesta pesquisa.

2. Existe um tratamento médico disponível para a cepa de Ebola do Sudão?
Foto: Augustin Westphal/MSF

Ensaios clínicos realizados na RDC, de 2018 a 2019, identificaram tratamentos baseados no uso de anticorpos monoclonais, que são específicos para uma cepa do vírus. Isso permite uma melhora significativa nas chances de sobrevivência de um paciente.

No entanto, esses anticorpos não são eficazes contra a cepa sudanesa da doença. Na ausência dessa ferramenta, o tratamento envolve o manejo dos sintomas da doença e a prestação de cuidados intensivos, a fim de melhorar as chances de sobrevivência dos pacientes.
Como em todas as epidemias de Ebola, as medidas de proteção e controle de infecções dentro dos centros de saúde são de suma importância.

“A proteção dos profissionais de saúde da linha de frente é uma grande preocupação para MSF”.

– Dr. Guyguy Manangama, vice-coordenador de programas de emergência de MSF.

“Precisamos proteger os profissionais de saúde para garantir a continuidade do sistema de saúde, treinando-os em padrões de prevenção e controle de infecções e fornecendo-lhes equipamentos de proteção”, completa Manangama.

Desde que o surto foi declarado, as autoridades ugandesas confirmaram a morte de dois profissionais de saúde: um médico e uma obstetriz.

3. Que tipo de instalações de tratamento de Ebola estão disponíveis em Uganda?
Foto: Augustin Westphal/MSF

Durante um surto de Ebola, é importante que a resposta médica ocorra perto das comunidades afetadas. “Sabemos que quanto mais cedo os pacientes recebem atendimento médico, maior a chance de sobrevivência”, diz o Dr. Guyguy Manangama. “Como os sintomas iniciais do Ebola não são distintivos, sendo semelhantes aos da malária ou de outros vírus febris, como a febre tifoide, a principal questão é o rápido acesso à informação, ao diagnóstico e a cuidados. Em surtos de Ebola, muitas pessoas ainda chegam a centros de saúde com doenças avançadas ou até morrem em casa, infectando outros indivíduos no processo. É isso que precisamos evitar”.

MSF recomenda a criação de pequenos centros ou unidades de isolamento onde os pacientes possam receber primeiros socorros o mais próximo possível de onde vivem. Enquanto isso, centros de referência maiores podem fornecer uma gama maior de cuidados para pacientes nos estágios avançados da doença.

Em surtos passados, os pacientes eram frequentemente levados diretamente para grandes centros de gerenciamento de casos fora de suas comunidades, o que, em muitos casos, gerou rumores circulando dentro da comunidade, hostilidade com os profissionais de saúde e a rejeição da resposta.

MSF planeja apoiar a intervenção em Uganda, criando pequenos centros em subdistritos afetados, como Madudu (o epicentro do surto, localizado a 20km da capital distrital de Mubende), e estabelecendo uma unidade de isolamento maior, de 36 leitos, com capacidade para cuidados intensivos para pacientes suspeitos e confirmados em Mubende.

As equipes de MSF também planejam trabalhar com hospitais para permitir que se tornem centros de referência para profissionais de saúde infectados pela doença.

4. O que se sabe sobre a propagação da epidemia?
Foto: Augustin Westphal/MSF

Na epidemia de Ebola atual, os casos foram confirmados em cinco distritos de Uganda. Embora o surto tenha sido oficialmente declarado em 20 de setembro, várias mortes suspeitas potencialmente relacionadas à doença foram registradas em agosto na região afetada. Como acontece frequentemente no início de um surto de Ebola, a busca de casos e o rastreamento de contatos ficam atrás da propagação da epidemia. É vital reconstruir os estágios iniciais da epidemia com a maior precisão possível, para rastrear as pessoas quanto à doença e fornecer cuidados médicos nos locais certos.

Também é essencial que as pessoas nas áreas afetadas tenham conhecimento sobre a doença, cooperando e se envolvendo na resposta. As atividades de vigilância baseadas na comunidade e o rastreamento de contatos são necessários para identificar rapidamente pessoas potencialmente infectadas. Uma vez identificadas, elas e suas famílias precisam acessar aos cuidados de saúde adequados ou se isolar por 21 dias.

Para facilitar esse processo, é preciso eliminar as barreiras sociais e econômicas. Isso pode ser feito ajudando com os gastos de transporte, distribuindo alimentos ou kits para as pessoas que se isolam em casa e oferecendo apoio psicológico aos pacientes e suas famílias.

As ferramentas de tecnologia também podem facilitar o monitoramento em tempo real da epidemia. Durante o surto de Ebola entre 2018 e 2020 na RDC, a Epicentre (ala epidemiológica de MSF) desenvolveu novas ferramentas para facilitar a coordenação de atividades epidemiológicas. MSF está pronta para disponibilizar esses recursos às autoridades de saúde de Uganda.

Ebola é uma doença grave e muitas vezes mortal, com uma taxa de mortalidade de até 90%. Os sintomas iniciais são semelhantes aos de muitas outras doenças: um início repentino de febre, fadiga, dores musculares, de cabeça e da garganta. Esses sintomas iniciais podem ser seguidos por vômitos, diarreia, erupção cutânea, sinais de insuficiência renal e hepática e, em alguns casos, hemorragia interna e externa.

O Ebola foi descoberto em 1976 na República Democrática do Congo (RDC). Há diversas variantes da doença, sendo a cepa Zaire a mais comum na última década. O surto atual em Uganda envolve a cepa do Sudão. Desde a descoberta do vírus, ocorreram sete epidemias da cepa sudanesa: quatro em Uganda e três no Sudão. O último surto de Ebola em Uganda foi em 2019; o último surto de Ebola envolvendo a cepa do Sudão foi em 2012.

*Nove óbitos por Ebola confirmados e 20 prováveis.

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