Empresas farmacêuticas falham em atender crianças com HIV

MSF critica farmacêutica por retardar o processo de desenvolvimento de medicamentos de HIV para crianças

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Antes da reunião na Cidade do Vaticano sobre maneiras de aumentar o diagnóstico e tratamento do HIV para crianças, a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) criticou as corporações farmacêuticas por seus atrasos e falhas no desenvolvimento de formulações apropriadas para o tratamento de HIV em crianças. Os países em desenvolvimento estão lutando para fornecer às crianças soropositivas os tratamentos recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), porque as versões pediátricas desses medicamentos antirretrovirais não estão disponíveis onde são necessárias.

“As corporações farmacêuticas simplesmente não consideram crianças como uma prioridade, forçando-nos a usar tratamentos mais antigos e abaixo do ideal para as pessoas mais jovens sob nossos cuidados, o que dificulta sua adesão ao tratamento. Pior, o aumento da resistência aos medicamentos existentes para HIV em países da África Subsaariana significa que os tratamentos mais antigos podem não funcionar em bebês e crianças que precisam urgentemente de melhores opções de tratamento ”, disse o dr. David Maman, coordenador médico de MSF no Malaui. “Por quanto tempo as crianças com HIV terão que continuar sofrendo ou morrendo por pura indiferença?”

O HIV pediátrico ainda é uma doença negligenciada e o restrito mercado para medicamentos pediátricos de HIV significa que ele nunca foi uma prioridade para corporações farmacêuticas multinacionais ou fabricantes de genéricos. Os atrasos afetaram tanto o desenvolvimento como a introdução de novas formulações de medicamentos pediátricos e o aumento de escala das formulações existentes.

Por exemplo, o medicamento dolutegravir de HIV – que é recomendado pela OMS como tratamento preferencial de primeira linha para bebês e crianças, e que foi aprovado pela primeira vez para uso em adultos em 2013 – ainda não está disponível para crianças porque a corporação farmacêutica ViiV Healthcare ainda precisa finalizar os estudos necessários e registrar uma formulação de comprimido dispersível para crianças pequenas. Uma formulação pediátrica em granulado de outro medicamento importante, o raltegravir, já existe, mas a empresa farmacêutica Merck demorou a registrá-lo nos países em desenvolvimento.

A alternativa ao dolutegravir recomendado pela OMS é a combinação de lopinavir / ritonavir, mas sua formulação pediátrica também tem passado por problemas. Os fabricantes de genéricos Mylan e Cipla têm sido muito lentos na ampliação do fornecimento de formulações pediátricas (pílulas e grânulos) e também definiram seus preços em três vezes mais do que o xarope de sabor desagradável lopinavir/ritonavir que seus produtos deveriam substituir.

Em uma reunião na Cidade do Vaticano há um ano, representantes das organizações de saúde globais e executivos da indústria farmacêutica se comprometeram a aumentar o acesso ao tratamento para crianças e adolescentes vivendo com HIV, mas muito pouco progresso foi feito. A reunião está sendo reconvocada para 6 e 7 de dezembro deste ano.

“As crianças precisam ter acesso aos melhores e mais eficientes medicamentos possíveis, uma vez que precisam permanecer no tratamento contra o HIV por toda a vida”, disse Jessica Burry, farmacêutica especializada em HIV da Campanha de Acesso a Medicamentos de MSF. “As corporações farmacêuticas precisam parar de arrastar os pés e começar a agir de forma coordenada para que mais vidas jovens possam ser salvas – o tempo para promessas vazias acabou.”

A OMS recomenda que todas as crianças diagnosticadas com HIV iniciem o tratamento antirretroviral imediatamente. Mas sem as fórmulas pediátricas otimizadas contra o HIV, os países vão continuar lutando para implementar essa recomendação.

A cobertura do tratamento entre as crianças que vivem com o HIV é inaceitavelmente baixa, com apenas 52% das crianças soropositivas recebendo tratamento em 2017. Metade dessas crianças continua recebendo dietas abaixo do ideal, colocando-as em risco de aumento dos efeitos colaterais, resistência e falha do tratamento. Na África subsaariana, que abriga 90% de todas as crianças que vivem com o HIV, há altas taxas de resistência aos medicamentos existentes contra o vírus, incluindo nevirapina e efavirenz. A taxa de mortalidade entre crianças portadoras de HIV permanece alta, especialmente durante os primeiros quatro anos de vida. Em 2017, as doenças relacionadas à Aids mataram 110.000 crianças em todo o mundo.

 

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