Europa mantém pressão contra operações de busca e resgate no Mediterrâneo

Equipe de TV brasileira acompanhou trabalho do navio Geo Barents, de MSF.

Na ausência de um sistema europeu que consiga acolher pessoas que tentam atravessar o Mar Mediterrâneo para fugir de guerras, violência, perseguição e pobreza em seus países de origem, organizações não-governamentais realizam atividades de busca e salvamento na região. Médicos Sem Fronteiras (MSF) está presente no Mediterrâneo Central desde 2015, naquela que é considerada a fronteira mais mortal do mundo.
Apenas entre janeiro e março deste ano, mais de 400 pessoas morreram tentando atravessar a região, segundo dados da OIM (Organização Internacional de Migrações). Desde 2014, o número de mortos ultrapassa 20 mil.

• Para saber mais sobre o trabalho de MSF no Mediterrâneo Central, acesse: busca e resgate.

A situação permanece extremamente grave em meio a pressões de governos europeus, particularmente o da Itália, para dificultar ou mesmo impedir a ação de organizações como MSF. As embarcações com migrantes e solicitantes de asilo costumam sair do litoral da Líbia rumo à Itália. A estratégia da União Europeia é financiar a Guarda Costeira da Líbia, que realiza operações para capturar os botes e leva-los de volta ao país de onde fugiam, justamente por enfrentarem péssimas condições de vida, sendo submetidos à prisão, tortura, extorsão e trabalhos forçados.

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Paralelamente, legislação recentemente aprovada pela Itália tem obrigado os navios de busca e resgate a desembarcar os resgatados em portos muitas vezes distantes vários dias de viagem de sua zona de atuação. Isso atrasa deliberadamente o trabalho e acaba por impedir que mais vidas possam ser salvas.

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“Vendo o trabalho de busca e resgate de perto fica claro que é preciso muita coragem para se arriscar em mar aberto”, observa o jornalista Ari Peixoto, que no final de junho acompanhou junto com o cinegrafista Leopoldo Moraes o trabalho no navio Geo Barents, operado por MSF. Os dois produziram uma série de reportagens para o Jornal da Record. “Ficou claro para mim que a coragem de quem deixa tudo para trás é turbinada pela esperança de uma vida melhor”, explicou. Na semana em que esteve a bordo da embarcação, eles se depararam com histórias “de fim e recomeço”, e testemunharam como os que fogem em barcos precários levam “vidas inteiras espremidas dentro de mochilas e bolsas”.

Peixoto disse também ter sido transformado pelo que viveu ao acompanhar o trabalho de MSF. E, apesar de toda a dor que testemunhou, encontrou também motivos para realimentar sua esperança. “Voltei ao Brasil com a firme crença de que ainda há espaço para acreditar que a bondade humana não é só um mito. E espero ainda poder ver o dia em que o Mediterrâneo não será mais o túmulo de quem só está buscando uma vida melhor”, afirmou.

Para assistir ao primeiro episódio da série, acesse aqui.

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