Excluir mulheres de institutos médicos ameaça futuro da assistência de saúde no Afeganistão

Presença de mulheres qualificadas para atuação médica é essencial, principalmente por causa da separação entre enfermarias femininas e masculinas no país

©Sebastian Bolesch

O anúncio do Emirado Islâmico do Afeganistão de proibir mulheres de estudar em institutos médicos terá consequências duradouras na saúde das mulheres no país.

Esta é mais uma etapa na exclusão das mulheres da vida pública e profissional. O número insuficiente de trabalhadoras da saúde no país já afeta a disponibilidade de assistência médica no Afeganistão, especialmente devido à separação entre enfermarias masculinas e femininas. Novas restrições limitarão ainda mais o acesso à assistência médica de qualidade e representarão sérios riscos para sua disponibilidade no futuro.

“Não há sistema médico sem profissionais de saúde femininas qualificadas”, diz Mickael Le Paih, representante nacional de Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Afeganistão. “Em MSF, mais de 50% de nossa equipe médica são mulheres. A decisão de proibir mulheres de estudar em institutos médicos as excluirá ainda mais da educação e da prestação imparcial de assistência médica.”

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As necessidades médicas no Afeganistão são enormes, e mais mulheres da equipe médica afegã precisam ser treinadas para lidar com as demandas. Para que isso aconteça, as mulheres precisam ter acesso à educação. As restrições educacionais colocadas em prática em 2024, 2022 e 2021 reduzem consideravelmente a disponibilidade de futuras equipes médicas femininas.

Em Khost, uma das maternidades mais movimentadas de MSF no mundo, já é desafiador preencher todas as posições necessárias — incluindo parteiras e ginecologistas —, e as equipes femininas são essenciais para os programas de saúde materna. De janeiro a junho de 2024, MSF auxiliou em 22.300 partos.

“Se nenhuma menina puder frequentar o Ensino Médio, e nenhuma mulher puder frequentar a universidade ou institutos médicos, de onde virão as profissionais de saúde do futuro e quem atenderá as mulheres afegãs quando elas estiverem mais vulneráveis? Para que os serviços essenciais estejam disponíveis para todos os gêneros, eles devem ser prestados por todos os gêneros”, continuou Le Paih.

MSF continua comprometida em atender todos aqueles que precisam de cuidados médicos no Afeganistão e continua a defender que as mulheres tenham acesso contínuo à educação médica e à educação de forma mais ampla.

MSF administra sete projetos em Helmand, Kunduz, Herat, Khost, Kandahar e Bamyan, com foco particular na prestação de cuidados de saúde secundários. Em 2023, as equipes de MSF foram responsáveis ​​por mais de 132.600 consultas ambulatoriais, 96 mil internações, 383.600 consultas em pronto-socorro, 15.200 intervenções cirúrgicas e auxiliaram em 45.260 partos. Havia 10.500 pacientes registrados nos centros de nutrição terapêutica ambulatorial e 12.500 pacientes admitidos em centros de nutrição terapêutica para pacientes internados.

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