Feridos têm dificuldade de conseguir ajuda no Paquistão

Violência e toques de recolher dificultam busca da população por atendimento médico

À medida que os conflitos continuam em algumas áreas da Província da Fronteira Noroeste (NWFP, na sigla em inglês) e zonas tribais, o acesso da população afetada pela guerra à assistência médica praticamente não existe. No Swat, estima-se que 80% das unidades de saúde não estejam funcionando devido à falta de recursos humanos e materiais e também porque os centros de saúde foram destruídos, de acordo com relatos vindos da região. Toques de recolher e violência contínua tornam muito difícil o deslocamento de pacientes para os poucos hospitais que estão funcionando no Swat, ou para outros fora do distrito.

No entanto, alguns civis feridos de guerra têm conseguido chegar ao Hospital Timurgara, o hospital de referência do distrito do Baixo Dir. Uma equipe médica de MSF tem tratado de pacientes na sala de emergência e oferecido remédios e material médico para a unidade desde março.

“Semana passada, quando eu estava em Timurgara, dez pacientes feridos de guerra do Swat, incluindo quatro crianças, chegaram à emergência no mesmo dia”, disse Stefan Van Der Mussele, o supervisor médico do projeto de MSF no Baixo Dir.

“Os ferimentos foram causados por balas ou explosões. Dois irmãos de cinco e seis anos de idade foram atingidos, um deles estava inconsciente com ferimentos no pescoço e na cabeça. Eles chegaram com três mulheres que também estavam feridas. Em uma sala, havia esperança para um homem que estava morrendo com um ferimento na cabeça que havia causado perda de parte de seu cérebro. Nessa mesma sala, um menino de oito anos recebia tratamento para seus ferimentos com seu pai ao lado, coberto pelo sangue do garoto, tentando ser forte e ajudar seu filho.”, conto osupervisor Stefan.

Desde junho, uma equipe médica de MSF que trabalha na sala de emergência está tratando uma média de 700 pacientes por semana por uma variedade de motivos. MSF cuidou de 159 pacientes feridos de guerra desde o dia 26 de abril. Aqueles que precisam de cirurgia foram estabilizados e depois transferidos para o departamento cirúrgico, onde os cirurgiões do Ministério da Saúde estão trabalhando.

O arrefecimento do toque de recolher está permitindo que mais pacientes cheguem a Timurgara. “Inicialmente, os feridos de guerra do Swat que chegavam a Timurgara tinham atravessado colinas para evitar as estradas principais durante os toques de recolher. Um paciente chegou com seus intestinos para fora. Ele havia sido trazido assim por sua família e conseguiu sobreviver.”, explicou Stefan. “Os pacientes agora estão chegando pelas estradas principais e algumas vezes transportados por ambulâncias.”

Feridos também estão chegando à região de Marden no Baixo Dir, cerca de 30km ao norte de Timurgara. Com poucas estruturas de saúde funcionando na região, e nenhum hospital com capacidade cirúrgica, as pessoas precisam conseguir chegar até o hospital distrital para obterem um tratamento adequado. Famílias fugindo da violência em Marden estão sendo assentadas em campos, prédios não utilizados e com famílias residentes da região sul do distrito do Baixo Dir. A falta de segurança generalizada pela região está afetando a capacidade de MSF de dar assistência à população.

“Mesmo que as famílias deslocadas pelos conflitos estejam encontrando refúgio na região e alguns dos feridos de guerras consigam chegar ao hospital, essa zona permanece altamente instável, pois está situada a poucos quilômetros da zona de guerra”, disse Gael Hankenne, chefe de missão de MSF no Paquistão. “Isto, combinado com a falta de segurança geral na provincial, restringe muito o número de equipes e projetos que temos capacidade de conduzir para ajudar as pessoas e fortalecer os hospitais locais. É vital que os atores do conflito facilitem a evacuação dos feridos e doentes para unidades médicas funcionais.”

Desde agosto de 2008, MSF tem trabalhando em dois campos que abrigam seis mil pessoas deslocadas no Baixo Dir. Os campos de Sammar Bagh e Sadbar Kallay foram inicialmente montados para acomodar famílias que fugiam do conflito na Agência de Bajaur. Desde maio deste ano, a maioria das pessoas deslocadas de Bajaur deixou os campos e foi substituída por famílias fugindo da violência em Marden.

MSF ofereceu abrigo, itens emergenciais e está coordenando o suprimento de água e o sistema de saneamento dos campos. Consultas para pacientes externos são conduzidas pela organização no campo de Sammar Bagh e por autoridades de saúde locais em Sadbar Kallay. No entanto, nos últimos três meses, a presença de MSF foi muito reduzida pela falta de segurança.

Compartilhar