Fim do apoio dos EUA à programa de vacinação põe milhões de crianças em risco

Estima-se que mais de 1,2 mi podem morrer devido à decisão norte-americana de acabar com ajuda à Gavi, iniciativa de incentivo à imunização em países de baixa renda

Campanha de vacinação contra o sarampo promovida por MSF no acampamento de refugiados de Adré. Chade, setembro de 2024. © Thibault Fendler/MSF

A decisão do governo dos EUA de encerrar seu apoio à Gavi, The Vaccine Alliance – criada há 20 anos para aumentar o acesso às vacinas nos países com as menores rendas do mundo – terá consequências devastadoras para as crianças globalmente, alerta Médicos Sem Fronteiras (MSF).

Embora ainda seja necessário fazer progressos, desde que a Gavi foi fundada, em 2000, a cobertura da vacinação de rotina infantil melhorou. Estima-se que o programa tenha salvado a vida de 17 milhões de crianças nos últimos 25 anos.

No entanto, conforme relatado pelo New York Times nesta quarta-feira (26/03), e de acordo com as estimativas da própria Gavi, a perda do apoio dos Estados Unidos deve impedir a vacinação de rotina de aproximadamente 75 milhões de crianças nos próximos cinco anos, com uma estimativa de mais de 1,2 milhão de possíveis mortes como consequência dessa decisão política.

Retomar o financiamento total para a Gavi e outros esforços humanitários e de saúde essenciais não é apenas a coisa certa a se fazer, é um investimento inteligente na estabilidade global e em um futuro mais saudável para milhões de crianças.”

– Carrie Teicher, diretora de projetos de MSF nos EUA

Por mais de 50 anos, MSF tem vacinado crianças que vivem em algumas das áreas de mais difícil alcance do mundo, incluindo zonas de guerra, acampamentos de refugiados e áreas rurais sem acesso a cuidados de saúde. A decisão do governo norte-americano pode deixar essas crianças desprotegidas.

Embora MSF não aceite financiamento do governo dos EUA ou da Gavi e não seja diretamente afetada por cortes ou congelamentos do programa, mais da metade das vacinas que a organização usa em seus projetos vem dos ministérios da saúde e é adquirida por meio da Gavi.

Vacinação contra cólera em escolas em Arsal. Líbano, novembro de 2022. © Carmen

A seguir, a declaração de Carrie Teicher, diretora de projetos de MSF nos EUA:

“A decisão do governo dos Estados Unidos de encerrar seu apoio à Gavi ameaça minar o progresso feito nos últimos 25 anos e deixará ainda mais crianças em todo o mundo vulneráveis a doenças que podem ser evitadas, como sarampo, pneumonia e difteria.

As consequências dessa decisão política serão catastróficas.

Os imunizantes são uma das ferramentas médicas mais importantes e econômicas disponíveis para salvar vidas. Os EUA são um dos maiores financiadores da Gavi – contribuindo com cerca de 13% do orçamento da Gavi – e qualquer interrupção desse financiamento resultará em menos vacinas nos braços das crianças.

Acabar com o apoio à Gavi prejudicará desnecessariamente as crianças e minará os sistemas de saúde em todo o mundo que dependem da Gavi para as vacinas.

Preparação de injeções de vacina contra o sarampo em um dos locais de imunização de MSF na cidade de Bongor. Chade, maio de 2022. © Laura Bourjolly/MSF

Um número já alto de crianças não completa o ciclo de vacinas de rotina. Mesmo com os frequentes esforços de vacinação de rotina e de emergência, continuamos a ver crianças adoecerem durante surtos de doenças evitáveis, como a difteria, na Nigéria e o sarampo, no Sudão do Sul – epidemias que poderiam ser contidas e vidas que poderiam ser salvas se mais crianças fossem vacinadas.

Só agora, a cobertura vacinal está voltando aos trilhos, após as interrupções relacionadas à pandemia da COVID-19. Minar a imunização neste momento crítico será devastador.

O que piora a situação é o fato de os EUA terem cortado amplamente a assistência externa, o que deixa as muitas crianças que agora ficarão doentes devido a doenças evitáveis por vacinação com ainda menos opções de atendimento médico do que tinham antes.

Retomar o financiamento total para a Gavi e outros esforços humanitários e de saúde essenciais não é apenas a coisa certa a se fazer, é um investimento inteligente na estabilidade global e em um futuro mais saudável para milhões de crianças.”

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