“Foi uma alegria imensa ver uma mãe grávida de seu terceiro filho sair do hospital curada”

Em Histórias de MSF, o cirurgião Mahamat Zibert Hissein compartilha a história de uma mãe que chegou gravemente ferida no hospital da organização em Adré, no Chade.

Mahamat Zibert Hissein, médico-cirurgião de MSF em Adré, no Chade. © Jan Bohm/MSF

A guerra brutal no Sudão forçou milhões de pessoas a deixarem suas casas para fugir dos conflitos, enquanto inúmeras outras foram mortas ou gravemente feridas. Alguns conseguiram cruzar a fronteira com o país vizinho, o Chade, onde Médicos Sem Fronteiras (MSF) está oferecendo cuidados médicos aos refugiados.

O médico-cirurgião de MSF Mahamat Zibert Hissein é do Chade e está atuando no atendimento dos refugiados. Aqui, ele compartilha a história de um deles:

“Esta é a história de Mariam*, uma mãe sudanesa que teve que deixar seu país em busca de segurança. Ao escapar da violência, ela foi atingida e a bala fraturou um osso de sua perna. Na época, ela estava no sétimo mês de gestação, à espera de seu terceiro filho**.

Sou cirurgião e estava trabalhando no hospital de MSF em Adré, no Chade, quando Mariam chegou. Adré é uma cidade fronteiriça, a apenas 400 metros de distância do vizinho Sudão. Desde que a guerra começou, em abril de 2023, mais de 600 mil pessoas (últimos dados divulgados em maio de 2024) cruzaram a fronteira, buscando refúgio em Adré e arredores.

Muitas pessoas feridas e precisando desesperadamente de cuidados médicos, incluindo cirurgias. Para tornar isso possível, MSF montou um hospital inflável.

Assista: MSF monta hospital inflável para atender refugiados no Chade

O hospital é um sistema inovador de tendas com uma estrutura inflável, todas feitas de materiais duráveis e resistentes às mudanças climáticas. Ele pode ser montado em qualquer lugar do mundo para criar rapidamente uma unidade cirúrgica completa, com duas salas de cirurgia e uma ala de recuperação.

Entre outros serviços, em Adré oferecemos cirurgia geral de emergência, cirurgia para casos ortopédicos e acompanhamento com fisioterapia.

Ficou claro que a perna de Mariam precisava de cirurgia e de um fixador externo: uma estrutura estabilizadora que mantém os ossos quebrados em posição enquanto eles se curam.

Para colocar o fixador, os parafusos devem ser inseridos no osso acima e abaixo da fratura. Esses pinos se estendem através da pele, e o dispositivo de fixação é então preso externamente aos parafusos.

Quando examinei o ferimento de Mariam, pude ver que a bala havia fraturado o terço inferior de sua tíbia, próximo à articulação. Isso dificultaria a colocação do dispositivo.

Uma vez na sala de cirurgia, avaliamos as opções. A prioridade era preservar a função da perna de Mariam o máximo possível. A vida nos acampamentos de refugiados já é bastante difícil para pessoas sem deficiência. Eu sabia que viver com uma deficiência tornaria as coisas ainda mais difíceis para Mariam e seus filhos.

Felizmente, conseguimos colocar o fixador com sucesso. Fiquei satisfeito e, quando ela se recuperou da anestesia, pedi que tivesse muito cuidado e cuidasse bem de sua perna. Eu sabia que isso não seria fácil – a maioria dos refugiados está vivendo em tendas ou abrigos improvisados, sem camas ou colchões.

Mas Mariam estava determinada. Ela voltava regularmente para fazer curativos, o que ajudou a ferida a cicatrizar adequadamente. Ela sempre manteve o ânimo e o sorriso. Toda vez que eu entrava nas tendas, ela sorria e dizia: ‘Ei, Dr. Zibert, se minha perna estivesse curada, eu prepararia um frango grelhado para a equipe’.

O fixador foi removido recentemente, e Mariam começou a fazer acompanhamento com a equipe de fisioterapia. Logo ela estava andando novamente.

Finalmente, chegou o dia em que Mariam estava pronta para deixar o hospital. Naquele dia, ela nos agradeceu imensamente e nos lembrou de sua promessa de cozinhar um frango para nós um dia. Atualmente, os refugiados em Adré estão sobrevivendo com uma alimentação muito limitada, portanto, sua esperança de que as coisas melhorariam e seu espírito generoso me impressionaram muito.

Apesar das circunstâncias extremamente difíceis pelas quais refugiados como Mariam estão passando, foi uma alegria imensa ver uma mãe de dois filhos, grávida do terceiro, sair do hospital curada e capaz de voltar para sua jovem família.”

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*Nome alterado para proteção.

**Texto escrito em outubro de 2023.

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