Gaza: intensificação da ofensiva israelense em Rafah força mais um hospital a fechar

Em meio ao aumento dos ataques, equipes de MSF precisaram parar de fornecer cuidados de saúde no Hospital de Campanha Indonésio.

Pessoas deslocadas caminham entre prédios destruídos pela violência implacável e pelos bombardeios em Gaza. Palestina, 6 de maio de 2024. © MSF

A intensificação do ataque das forças israelenses em Rafah, Gaza, forçou Médicos Sem Fronteiras (MSF) a parar de oferecer cuidados de saúde essenciais no Hospital de Campanha Indonésio, no dia 12 de maio. Os 22 pacientes que permaneciam no hospital foram encaminhados para outras instalações, já que não podemos mais garantir sua segurança. MSF tem observado um padrão de ataques sistemáticos contra instalações médicas e infraestrutura civil desde o início da guerra. Por conta disso, bem como do avanço da ofensiva, tomamos a decisão de deixar o Hospital de Campanha Indonésio.

“Tivemos que deixar 12 estruturas de saúde diferentes e sofremos 26 incidentes violentos, que incluem ataques aéreos que danificaram hospitais, tanques disparando contra abrigos acordados como zonas fora do conflito ofensivas terrestres contra centros médicos e comboios alvejados”, relata Michel-Olivier Lacharité, coordenador de operações de emergência de MSF.

O sistema de saúde está sendo destruído, resultando em consequências devastadoras para as pessoas encurraladas em Gaza. De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), 24 dos 36 hospitais de Gaza estão agora fora de serviço. MSF está tentando estabelecer hospitais de campanha em outras partes da Faixa de Gaza, mas essas poucas estruturas não serão capazes de lidar com um fluxo massivo de civis feridos, além das imensas necessidades médicas. Essas instalações médicas não conseguem, de forma alguma, substituir um sistema de saúde funcional.

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Antes de evacuar o hospital, MSF estava oferecendo cuidados pós-operatórios para pacientes feridos de guerra desde meados de dezembro de 2023. Nossas equipes trabalharam para fornecer serviços de saúde às pessoas no hospital de 60 leitos, onde os cirurgiões realizavam aproximadamente 35 procedimentos por semana na sala de cirurgia. O atendimento, intensivo e ambulatorial, funcionava seis dias por semana, com cerca de 130 consultas por dia. As equipes realizavam trocas de curativos, fisioterapia e apoio de saúde mental . O Ministério da Saúde também foi forçado a transferir suas atividades do Hospital de Campanha Indonésio, o que resultou no fechamento de toda a unidade médica.

Consulta médica no Hospital de Campanha Indonésio. Palestina, 28 de janeiro de 2024. © MSF

Juntamente com esse fechamento, os prolongados bloqueios de ajuda estão prejudicando ainda mais a resposta humanitária e colocando em risco a vida das pessoas encurraladas em Gaza. Os suprimentos de combustível, indispensável para o funcionamento de tudo, desde hospitais a padarias, entre outros serviços necessários, estão se esgotando. Os combustíveis estão em níveis perigosamente baixos, enquanto as pessoas não podem sair ou entrar no enclave.

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Retomamos nossas atividades no Hospital Nasser, em Khan Younis, com departamentos ambulatoriais e intensivos com foco em cirurgia ortopédica, cuidados para queimaduras e serviços de terapia ocupacional. Os serviços de maternidade serão abertos nos próximos dias. Em meados de fevereiro de 2024, a equipe de MSF foi forçada a sair do Hospital Nasser e a deixar pacientes para trás depois que um projétil atingiu o departamento de ortopedia e as forças israelenses ordenaram a evacuação da instalação antes de invadi-la.

Como a população em Gaza enfrenta novamente outro ataque com bombardeios, mísseis, tiros e violência, pedimos mais uma vez o fim imediato dessa ofensiva, que está deslocando centenas de milhares de pessoas e privando-as de ajuda essencial. Pelo menos 360 mil palestinos precisaram sair de Rafah, de acordo com as Organização das Nações Unidas (ONU), desde que as forças israelenses ampliaram suas ordens de ofensiva e evacuação, o que impossibilita o fornecimento de assistência médica e humanitária essencial em meio a essa campanha de morte e destruição indiscriminadas.

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