Gaza: o hospital de Nasser deve ser protegido

Combates se aproximam do Nasser, enquanto o hospital tem recebido fluxos intensos de pacientes gravemente feridos em ataques

Maternidade do hospital Nasser. Junho de 2024. © Mariam Abu Dagga/MSF

Em Khan Younis, no sul de Gaza, os combates estão se aproximando cada vez mais do hospital de Nasser, colocando-o sob ameaça e arriscando o acesso das pessoas a cuidados médicos. Apenas em julho, as equipes de Médicos Sem Fronteiras (MSF) nos hospitais de Nasser e Al-Aqsa responderam a 10 incidentes com múltiplas vítimas gravemente feridas após bombardeios na região.

MSF pede urgentemente a todas as partes em conflito que garantam o acesso seguro das pessoas a cuidados médicos e evitem a evacuação do hospital Nasser, o que colocaria em risco centenas de pacientes.

Evacuar centenas de pacientes e suprimentos médicos, às pressas ou não, seria uma tarefa impossível.”
– Jacob Granger, coordenador de projeto de MSF em Gaza

“Qualquer escalada dos combates perto do hospital obstruiria o acesso de pacientes e equipes médicas, impossibilitando a prestação de cuidados”, alerta Jacob Granger, coordenador de projeto de MSF em Gaza. “O sistema de saúde está completamente dizimado, e evacuar centenas de pacientes e suprimentos médicos, às pressas ou não, seria uma tarefa impossível.”

“As consequências seriam devastadoras para as pessoas da região, que não têm para onde ir”, diz Granger. “Fechar o hospital Nasser não é uma opção.”

Assista:
Por dentro do hospital Nasser

O hospital Nasser está prestando atendimento a cerca de 550 pacientes, incluindo pessoas com queimaduras graves e lesões traumáticas, recém-nascidos e mulheres grávidas. As pessoas atualmente internadas no hospital precisam de tratamento contínuo e essenciais para a vida, incluindo pacientes que requerem um alto nível de cuidados, oxigenoterapia ou monitoramento rigoroso. Como o último principal hospital do sul de Gaza, o Nasser também fornece apoio essencial a outras instalações de saúde na região, incluindo a produção de oxigênio.

Este é o resultado de um sistema de saúde em colapso: uma garotinha de 8 anos, morrendo sozinha em uma maca na sala de emergência.”
– Javid Abdelmoneim, líder da equipe médica de MSF

A guerra que invade o hospital de Nasser ocorre enquanto as equipes de MSF no Nasser e nos hospitais de Al-Aqsa têm sido inundadas por um grande número de pacientes feridos que têm chegado ao mesmo tempo. Somente em julho, isso ocorreu em 10 ocasiões distintas, após ataques e combates, muitas vezes em áreas onde as pessoas deslocadas estão abrigadas.

“Todos os dias de julho têm sido um choque após o outro”, diz Javid Abdelmoneim, líder da equipe médica de MSF. “[Em 24 de julho] durante a última varredura no pronto-socorro, pensei em ir lá e verificar por mim mesmo, só para ter certeza de que nenhum paciente havia sido deixado para trás. Entrei atrás de uma cortina e havia uma garotinha sozinha, morrendo sozinha. Não havia ninguém lá”, relata Abdelmoneim.

“Sua perna esquerda estava torcida. Elas ainda respirada, mas foi deixada para morrer porque aqui, agora, o sistema não consegue lidar. E este é o resultado de um sistema de saúde em colapso: uma garotinha de 8 anos, morrendo sozinha em uma maca na sala de emergência. Em um sistema de saúde em funcionamento, ela teria sido salva.”

De acordo com o Ministério da Saúde, os níveis no banco de sangue do hospital Nasser estão criticamente baixos após cinco fluxos sucessivos de pacientes que chegaram, com cerca de 180 pessoas mortas e 600 feridas. Uma em cada dez pessoas que se voluntariaram para doar sangue durante uma atividade de coleta de sangue promovida pelo Ministério da Saúde e apoiada por MSF não estava apta para doar devido à anemia ou à desnutrição.

Mesmo a resposta mais dedicada nem sempre pode salvar vidas sem suprimentos, leitos e equipe médica suficientes.”
– Alice Worsley, coordenadora de enfermagem de MSF

No hospital de Al-Aqsa, o setor de emergência não foi capaz de funcionar corretamente, pois está sobrecarregado de pacientes. Antes da guerra, o hospital de Al-Aqsa tinha cerca de 220 leitos de pacientes. Atualmente, o hospital tem entre 550 e 600 pacientes internados.

“O hospital de Al-Aqsa já tem várias centenas de pacientes acima da capacidade de leitos”, diz Alice Worsley, coordenadora de enfermagem de MSF. A instalação está sobrecarregada dessa maneira após receber pacientes de um ataque israelense à escola Khadija, em Deir Al-Balah, em 27 de julho. “A situação era desesperadora: mesmo a resposta mais dedicada nem sempre pode salvar vidas sem suprimentos, leitos e equipe médica suficientes.”

“Cerca de 50% dos pacientes que atendemos eram crianças, muitas com lesões significativas que exigiam cuidados intensivos. Recebemos um menino de 6 anos de idade que teve 80% do corpo queimado. Recebemos um outro menino de 3 ou 4 anos de idade que sofreu uma lesão facial significativa e tivemos que colocar um tubo para ajudá-lo a respirar”, relata Worsley.

“O enfermeiro que estava me ajudando com esse paciente era um familiar da criança. Ele me disse que a mãe do menino havia sido morta no mesmo ataque. A criança tinha um gesso no braço, o que significa que obviamente já havia sido ferida nesta guerra há pouco tempo. Portanto, essa foi, pelo menos, a segunda vez que essa criança foi ferida em um incidente”, contou Worsley.

Em 22 e 27 de julho, as forças israelenses emitiram duas ordens de evacuação em Khan Younis, resultando em mais um deslocamento em massa reduzindo ainda mais o espaço disponível para que as pessoas possam dormir. De acordo com o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitário (OCHA), de 22 a 25 de julho, aproximadamente 190 mil palestinos foram deslocados em Khan Younis e Deir Al-Balah.

Desde o início da guerra, estima-se que 1,7 milhão de pessoas foram alertadas para que se mudassem para uma área de 48 quilômetros quadrados, o que representa 13% da Faixa de Gaza, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

Embora as chamadas zonas humanitárias tenham se mostrado inseguras em Gaza, a existência de tais áreas não elimina as obrigações das partes em conflito de proteger os civis – onde quer que estejam. Por quase 10 meses, o que temos visto é que nenhum lugar é seguro em Gaza.

MSF pede a todas as partes que garantam acesso seguro aos cuidados e evitem a evacuação do hospital de Nasser, o que colocaria em risco centenas de pacientes.

– As equipes de MSF no hospital de Nasser fornecem cirurgia ortopédica, cuidados com traumas e queimaduras, apoiam os setores de maternidade e pediatria e uma unidade de terapia intensiva neonatal. Em julho, equipes de MSF no hospital Nasser, no sul de Gaza, responderam a grandes fluxos de pacientes causados por incidentes com múltiplas vítimas gravemente feridas nos dias 1, 13, 16, 17 e 22 de julho.

– As equipes de MSF no hospital de Al-Aqsa estão oferecendo cuidados de reabilitação, cirurgia de trauma, cuidados avançados de feridas e pós-operatórios, fisioterapia e apoio à saúde mental. Em julho, equipes de MSF no hospital de Al-Aqsa, na região central de Gaza, responderam a grandes fluxos de pacientes causados por incidentes com múltiplas vítimas gravemente feridas nos dias 9,13, 14, 16 e 27 de julho.

 

 

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