Guerra no Líbano: “É perigoso voltar para casa, mas é indigno ficar aqui”

Mulheres que buscaram refúgio em escola compartilham as dificuldades de viver em deslocamento

Imagem do Vale do Bekaaa. Líbano, 25 de setembro de 2024. © MSF

No dia 23 de setembro, após quase um ano de ataques ao longo da fronteira sul do Líbano, Israel intensificou seu bombardeio no país, causando ondas de deslocamento em massa de pessoas que ultrapassaram a capacidade do Líbano de fornecer abrigo adequado a todos.

Os depoimentos a seguir foram compartilhados no dia 1º de novembro, em uma escola que abriga pessoas deslocadas em Bichwet, na província de Baalbek-Hermel, Líbano.

Sou grata por ter salvado meus filhos.”

– Fatima, deslocada de Kfarden, no Líbano

O sorriso vibrante de Fatima desaparece lentamente ao entrar na sala de aula. Mesas e cadeiras estão empilhadas em um lado do cômodo, abrindo espaço para os colchões espalhados pelo chão.

Ela preferiria estar em uma escola para buscar educação para seus três filhos, não para buscar abrigo. “Eu não queria sair de casa, eu realmente não queria”, ela, de 43 anos. “O dia em que fomos forçados a sair de casa foi o dia mais difícil.”

 

Leia mais:

No dia 29 de setembro, Fatima rapidamente pegou alguns colchões e cobertores e saiu de casa sob bombardeios. Cerca de cinco minutos depois, a casa de seu vizinho em Kfarden foi bombardeada. “Sou grata por ter salvado meus filhos”, diz ela. “Meu marido e eu vivemos por eles. Estamos bem fisicamente, mas não mentalmente. Reunimos paciência e esperamos que essa guerra acabe.”

Fatima enxuga as lágrimas e coloca café para fazer em um fogão portátil. Seu sorriso vibrante volta quando ela diz: “Nós somos o povo de Baalbek, honramos nossos convidados, sejam quais forem os meios os meios disponíveis.”

É perigoso voltar para casa, mas é indigno ficar aqui.”

– Iqbal, deslocada de Boudai, no Líbano

Iqbal bate na porta e entra. A mulher, de 60 anos de idade, foi forçada a deixar sua cidade, Boudai, e chegou à escola no mesmo dia que Fatima.

“Não conseguimos dormir a noite toda por causa dos bombardeios constantes ao nosso redor”, diz Iqbal. “Quando o sol nasceu, fugimos sem nada. Nem sabíamos para onde estávamos indo, apenas corremos para salvar nossas vidas.”

Iqbal conseguiu alguns colchões e cobertores para ela, seu pai e seus três irmãos.

“Não sabemos nada sobre nossa casa”, ela diz. “Sinto muita falta de lá e das coisas que eu dava como certas antes. É perigoso voltar para casa, mas é indigno ficar aqui.”

Eu sucumbi ao fato de que esta é a nossa vida agora.”

– Fatima, deslocada de Kfarden, no Líbano

Enquanto tomam café, suas conversas são preenchidas com um sentimento compartilhado de nostalgia pelo passado recente. Fatima faz algo que Iqbal não ousou fazer: todo dia, ela arrisca sua vida para voltar para casa.

“Não há chuveiros nesta escola, e o clima é congelante aqui nas montanhas”, diz Fatima. “Não podemos nos dar ao luxo de esquentar água no fogão. Também não podemos nos dar ao luxo de deixar nossos filhos doentes. Eu sucumbi ao fato de que esta é a nossa vida agora.”

 

 

 

Compartilhar