Haiti: dois meses após furacão, necessidades ainda são latentes

Milhares de pessoas ainda estão sem acesso a abrigo, alimentos e água potável adequados

Haiti: dois meses após furacão, necessidades ainda são latentes

Dois meses após o furacão Matthew ter devastado o sudoeste do Haiti, milhares de pessoas ainda estão sem abrigo, alimentos e água potável, e algumas comunidades remotas ainda não receberam nenhum tipo de assistência.

Equipes da organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) estão observando uma deterioração das condições de vida nas áreas mais gravemente afetadas. Por meio de clínicas móveis nas províncias de Sud e de Grand’Anse, MSF examinou e tratou 163 crianças com menos de 5 anos de idade com complicações respiratórias; 60% delas estavam com infecções do trato respiratório superior e 5% tinham pneumonia ou bronquite.

“Essas complicações estão ligadas, sobretudo, à falta de abrigo adequado, além das noites frias passadas nas montanhas”, disse Chiara Burzio, coordenadora médica de MSF. “Algumas crianças estavam com diarreia e infecções de pele causadas pelo acesso limitado à água limpa.”

Garantir o abastecimento de água potável já é um problema crônico para muitas comunidades haitianas, algo que piorou ainda mais após a passagem do furacão. Redes de tubulação foram destruídas e as reservas de água estão cheias de areia.

Embora a especialidade de MSF seja a oferta de tratamento médico, as necessidades latentes em água e saneamento levaram a organização a tomar medidas emergenciais para reparar as redes de abastecimento de água e distribuir pastilhas purificadoras de água para milhares de famílias nas províncias de Baradères e de Nippes, entre outros locais.

Muitas famílias que perderam suas casas durante o furacão ainda estão vivendo em abrigos temporários, o que as deixa vulneráveis a condições climáticas extremas. Deslocados internos que se abrigaram em edifícios do governo, como escolas, estão sofrendo pressão por parte das comunidades locais, que exigem que as autoridades esvaziem as estruturas. Sem nenhum lugar para ir, essas pessoas precisam de uma solução de moradia a longo prazo.

O número de pacientes no centro de tratamento de cólera (CTC) de MSF em Port-à-Piment aumentou desde o início de novembro. Na semana passada, o centro admitiu uma média de sete novos pacientes por dia – alguns deles vinham de comunas vizinhas. Os pacientes chegam aos centros de reidratação oral que MSF abriu nas montanhas e depois são transferidos para o CTC em uma das duas ambulâncias especializadas.

Após o furacão, MSF inaugurou um CTC de 19 leitos em Baradères, em parceria com o Ministério da Saúde. Dois meses depois, MSF começou a encerrar suas operações de emergência na província de Nippes, na medida em que a epidemia de cólera que havia sido prevista não atingiu a região, possivelmente por causa das medidas de prevenção.

Nos últimos dois meses, MSF tratou mais de 190 pacientes de cólera na área metropolitana de Porto Príncipe, e uma equipe de MSF está presente atualmente na ilha de Gonâve para responder ao aumento do número de casos de cólera e de mortes na região.

“Nossa habilidade de combater a cólera depende primeiramente e principalmente da junção da oferta de cuidados médicos, para impedir que os pacientes morram, e de medidas preventivas, especialmente para promover melhorias nas redes de abastecimento de água e de saneamento para comunidades que estão vivendo em condições precárias”, disse Stuart Garman, coordenador de projeto de MSF.

Em resposta ao furacão Matthew, as equipes de MSF realizaram as seguintes atividades:

• Mais de 4.500 pacientes foram atendidos nas províncias de Nippes, Grand’Anse e Sud, e um total de 800 feridos foram tratados. Outras condições de saúde mais comuns tratadas em clínicas móveis incluem infecções respiratórias e diarreia.

• 30 pacientes foram transferidos por helicóptero, 18 dos quais levados ao centro de trauma de MSF em Tabarre, em Porto Príncipe.

• Prestação de suporte ao hospital em Port-à-Piment, incluindo a assistência a 14 partos.

• Um centro de tratamento de cólera foi estruturado em Port-à-Piment e 360 casos suspeitos da doença foram tratados.

• Um centro de tratamento de cólera (CTC) de 19 leitos foi construído em em Baradères.

• O Ministério da Saúde no CTC de Diquini, em Porto Príncipe, recebeu apoio na gestão de 190 pacientes de cólera.

• Prestação de suporte em saneamento e higiene hospitalar nos CTCs das comunas de Moron, Chambellan, Dame-Marie, Anse-d’Hainault, Les Irois e Abricots.

• 1.400 famílias na província de Sud receberam abrigo temporário e 4.500 kits de higiene no vale de Port-à-Piment.

• Milhões de litros de água potável foram distribuídos em reservatórios em Sud, Grand’Anse, Baradères e Fond Tortue.

• 24 fontes de água pública – 17 em Baradères e sete em Font Tortue – foram reparadas e restauradas.

• Dois sistemas de retenção de água nas comunas de Port-à-Piment foram reparados.

• 4,5 milhões de pastilhas de purificação de água foram distribuídas nas províncias de Sud, Grand’Anse e Nippes.

• Suprimentos para reconstrução foram distribuídos, incluindo tubos para coleta de água da chuva e kits de chapa metálica, cozinha e higiene para 850 famílias nas Ilhas Cayémites.

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