Iêmen: maternidade de MSF atende e acolhe gestantes na costa oeste do país

Instalação é a única na costa oeste do Iêmen a oferecer atendimento de maternidade e pediatria 24 horas por dia, todos os dias da semana

A obstetriz Altaf al Wahidi atende a paciente Negah Abdallah Ali na maternidade de MSF, no Hospital Geral de Mocha. ©Julie David de Lossy/MSF

A costa oeste do Iêmen é uma zona rural que faz fronteira com o norte e o leste do país. É na cidade de Mocha que está a única maternidade da região aberta 24 horas por dia, todos os dias da semana: a instalação de Médicos Sem Fronteiras (MSF) no Hospital Geral de Mocha. Mulheres com gravidez de alto risco ou complicadas às vezes precisam viajar até três horas para chegar até a unidade de saúde. Cerca de 15% dos partos apresentarão complicações obstétricas que, se não forem tratadas a tempo, podem ser fatais.

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“Somos a única maternidade e pediatria que atende em escala 24/7 (todos os dias da semana, em regime de plantão) em toda a área da costa oeste do Iêmen, que cobre pouco mais de 500 mil pessoas”, explica Ann Van Haver, coordenadora de atividades das obstetrizes de MSF.

Aqui acontecem cerca de 250 partos por mês.”
– Ann Van Haver, coordenadora de atividades das obstetrizes de MSF

Em julho de 2024, o atendimento de maternidade de MSF foi integrado ao Hospital Geral de Mocha. Isso permitiu expandir os serviços, inclusive com a abertura de uma nova ala abrangente de cuidados obstétricos e neonatais. Atualmente, a instalação conta com 28 leitos para parto e pós-parto, incluindo leitos para cuidados neonatais e intensivos. Antes, o atendimento de MSF era prestado em um hospital de campanha, instalado em Mocha em 2022.

Equipe de MSF na maternidade de Mocha. © Julie David de Lossy/MSF

Segurança da gestante e do bebê é prioridade

“Eu disse ao meu marido que não sobreviveria ao parto novamente porque eu tenho diabetes”, afirma Negah Abdallah Ali, que deu à luz seu bebê saudável, Ashraf, na ala de maternidade de MSF no Hospital Geral de Mocha.

Além de ter diabetes, Negah tem hipertensão. Essas duas condições aumentam os riscos associados à gravidez e ao parto. Negah é uma das milhares de mulheres que procuram a maternidade de MSF durante a gravidez.

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Como na maioria dos países afetados por conflitos, o sistema de saúde do Iêmen está em crise. Isso deixa mulheres e crianças particularmente vulneráveis a complicações de saúde. Em Mocha, uma das formas como a falência dos cuidados de saúde se manifesta é na falta de serviços para gestantes.

Há tantos desafios para as mães no Iêmen.”
– Altaf Al Wahidi, obstetriz de MSF

Os riscos e complicações enfrentados pelas mulheres na região podem ser evitados, desde que elas tenham acesso a cuidados pré-natais e depois do nascimento dos filhos. Sem isso, a gravidez se torna um risco. Os poucos hospitais da região oeste do Iêmen são mal equipados e não têm profissionais com treinamento para os atendimentos. Assim, as mulheres não têm outra escolha a não ser percorrer longas distâncias em estradas com péssimas condições.

“Há tantos desafios para as mães no Iêmen. A maioria deles está ligada à guerra, o que torna difícil o acesso aos poucos centros de saúde que ainda restam”, explica Altaf Al Wahidi, obstetriz da maternidade de MSF : “É por isso que a localização desta maternidade é tão crucial, cobrimos uma grande área da costa oeste do Iêmen.”

Assistência pós-natal mesmo para partos em casa

As complicações que as mulheres enfrentam podem ser tratadas pelo hospital e seus profissionais, mas os pacientes precisam chegar a tempo. No entanto, Ann Van Haver insiste que uma primeira linha de cuidados mais próxima de casa deveria estar disponível. Considerando a população da costa oeste do país, a previsão é que cerca de 1.300 mulheres deem à luz a cada mês.

Milhares de outros nascimentos acontecem todos os meses em outros lugares, que não são hospitais.”
– Ann Van Haver, coordenadora de atividades de obstetrizes de MSF

“Aqui acontecem cerca de 250 partos por mês”, conta Van Haver: “Então, milhares de outros nascimentos acontecem todos os meses em outros lugares, que não são hospitais ou centros de saúde. Por causa disso, há mais complicações que precisam de tratamentos invasivos para serem resolvidas.”

Há muitos fatores que impedem gestantes de chegar ao Hospital Geral de Mocha, onde está a maternidade de MSF: deslocamento contínuo do conflito, muitos postos de controle ao longo das estradas, baixa condição econômica e a necessidade de obter o consentimento formal de um homem da família para qualquer ato médico, incluindo uma cesariana. Isso deixa as mulheres grávidas com pouca escolha, a não ser fazer o parto em ambientes de risco, o que deixa em perigo tanto a vida da mãe quanto a do bebê.

Fatema, cujo nome foi alterado para proteger sua identidade, foi para o hospital assim que pensou que seu trabalho de parto tinha começado, mas não estava progredindo. Voltou para casa algumas horas depois para, de repente, dar à luz em casa com a ajuda da mãe.

“O parto correu bem, o bebê está bem, mas depois tive um sangramento”, relata Fatema. “De manhã, voltei ao hospital e recebi cuidados médicos adequados. Estou feliz e aliviada pelo fato de não sentir mais dor e porque terei alta em breve e encontrarei meu bebê.”

Orientação e acolhimento

De volta à sala de parto, Negah recebe a visita da educadora de saúde Bashira Seqek, que lhe dá informações sobre a toxicidade do paracetamol, os benefícios da amamentação e o planejamento familiar. Enquanto isso, no corredor, o marido de Negah, Ali Abdallah Ali, segura o filho de um dia de vida com orgulho em seus olhos.

“Desde que a maternidade foi aberta aqui em Mocha, tudo está disponível, e estou grato por isso”, diz Ali. “Sinto-me 100% confiante em relação aos serviços prestados. No meu vilarejo , todos sabemos que temos de vir aqui para questões relacionadas com os cuidados maternos.”

Ali Abdallah Ali segura seu filho Ashraf, que nasceu na maternidade de MSF. ©Julie David de Lossy/MSF

Atrás da porta, onde não são permitidos profissionais homens que não sejam médicos, a maternidade é um mundo de dignidade e solidariedade entre mulheres, que pulsa ao ritmo das obstetrizes.

Desde que a maternidade de MSF foi transferida para o Hospital Geral de Mocha, mais de 1.600 mulheres deram à luz com segurança em nossa enfermaria.

 

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