Índia: cuidados centrados em pessoas que vivem com HIV e outras doenças em Manipur

HIV e co-infecções, como tuberculose e hepatite C, são comuns no nordeste da Índia

HIV e co-infecções, como tuberculose e hepatite C, são comuns no nordeste da Índia

Quando Thongsei Lupho, 44 anos, começou a se sentir mal, suspeitou que tivesse contraído tuberculose. Ele visitou a clínica de MSF em Moreh, na fronteira entre Índia e Mianmar, onde foi diagnosticado com HIV. Lupho havia usado drogas no passado para ganhar aceitação social em uma área onde as tensões tribais fomentavam a falta de confiança entre as pessoas. Tendo deixado o uso de drogas para trás quando se casou, seu diagnóstico foi um choque.

No começo, ele temia a discriminação e sentia-se incapaz de se misturar com os outros em público. Ele também se preocupou com seus filhos, alguns dos quais também foram diagnosticados com HIV. Sua filha mais velha sente vergonha de seu diagnóstico e esconde de seus amigos e colegas de classe.

O uso de drogas por via intravenosa não é incomum em Manipur e, de acordo com a Sociedade Estatal de Aids de Manipur, contribuiu significativamente para a disseminação do HIV e da hepatite C nos estados do nordeste da Índia. A tuberculose também é altamente prevalente, mas em Manipur, que vivenciou anos de conflitos de baixa intensidade, a infraestrutura pública tem sido incapaz de lidar com o alto número de pacientes com HIV e TB, particularmente em casos de tuberculose resistente a medicamentos (TB-DR). Isso pode ter resultados terríveis: nos casos de co-infecção, cada doença acelera o progresso da outra, tornando o paciente mais vulnerável e o tratamento mais difícil.

MSF começou a oferecer atendimento especializado para HIV e TB em Manipur em 2005 e 2007, respectivamente. Em suas três clínicas em Chakpikarong, Churachandpur e Moreh, MSF oferece triagem, diagnóstico e tratamento para HIV, TB, hepatite C e co-infecções. MSF, que é a única ONG internacional em Manipur, colocou em prática um modelo de atenção focado no paciente no centro de suas operações, a fim de melhorar os resultados e minimizar a propagação das doenças.

“Uma das maneiras mais simples para tentar reduzir a disseminação de diferentes tipos de TB-DR é levar cuidados ao paciente em vez de fazê-lo vir até nós”, diz Edoardo Nicolotti, coordenador do projeto de MSF. “Quando alguém é diagnosticado, nós o visitamos em casa para realizar uma avaliação de prevenção e controle de infecção. Se ele mora com a família, oferecemos a construção de uma casa simples para ele perto da casa da família. Isso minimiza muito o risco de transmissão para outras pessoas, mas mantém o paciente próximo o suficiente para manter uma interação normal.” MSF construiu nove dessas casas entre 2018 e 2019. MSF também envia uma enfermeira para a casa do paciente todos os dias para realizar testes e garantir que eles estão aderindo ao tratamento, o que envolve um coquetel desafiador de medicamentos por cerca de dois anos. Como o medicamento para TB-DR causa efeitos colaterais significativos, dificultando a conclusão do tratamento, MSF também oferece aconselhamento para estimular melhores resultados.

Juntamente com o tratamento de parceiros de pacientes co-infectados, MSF também trata pacientes infectados exclusivamente com hepatite C em um centro de terapia de substituição de opiáceos (OST, na sigla em inglês) em Churachandpur. Na mesma clínica, as pessoas que injetam drogas podem pegar agulhas limpas e devolver as usadas, ajudando a reduzir o risco de compartilhamento de agulhas e outras infecções.

Além disso, MSF apoia o hospital distrital em Churachandpur tratando o grupo de pessoas que vivem com o HIV e também contraíram a hepatite C. Em 2018, MSF começou a usar um novo medicamento, a bedaquilina, no tratamento de pacientes com TB ultrarresistente a medicamentos. Desde janeiro de 2019, 120 novos pacientes foram iniciados em tratamento antirretroviral, 36 pacientes co-infectados por HIV e hepatite C estão sendo tratados para hepatite e 133 pacientes foram iniciados em tratamento para tuberculose sensível ou resistente a medicamentos. Atualmente, três pacientes com TB-MDR estão no novo regime de tratamento (bedaquilina e delamanida), com o restante no regime mais antigo de dois anos.

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