Inovação e saúde: conheça tecnologias que nos ajudam a oferecer cuidados de saúde de qualidade

Iniciativas aplicadas nos projetos de MSF buscam ampliar o acesso à saúde utilizando a tecnologia.

Jordânia © Hussein Amri/MSF

Aplicativo para combater a resistência a antibióticos, inteligência artificial (IA) no diagnóstico do câncer do colo do útero, próteses feitas com impressoras 3D e estruturas de saúde modulares pré-fabricadas. Para oferecer tratamento de alta qualidade baseado em evidências, em ambientes desafiadores e com poucos recursos, é preciso que a inovação esteja em nosso sangue.

Circunstâncias não convencionais geralmente exigem abordagens não convencionais, seja desenvolvendo novas tecnologias, adaptando as existentes ou encontrando novas e melhores formas de trabalhar. Independentemente da abordagem, Médicos Sem Fronteiras (MSF) trabalha constantemente para desenvolver maneiras novas e inovadoras de oferecer atendimento a pessoas que, de outra forma, seriam excluídas dos serviços essenciais de saúde.

Conheça algumas das novas tecnologias que nos ajudam a oferecer cuidados de saúde de qualidade para nossos pacientes pelo mundo.

 

Antibiogo: um aplicativo para combater a resistência a antibióticos

Essa ferramenta de diagnóstico inovadora, desenvolvida e testada pela Fundação MSF* para atender às necessidades de países de baixa e média renda, está disponível em um aplicativo gratuito, offline e para download. Ela facilita a leitura e a interpretação de testes que determinam a sensibilidade das bactérias a diferentes antibióticos, oferecendo, assim, uma esperança considerável de desacelerar a resistência a esse tipo de medicamento.

O aplicativo, desenvolvido por meio do uso de IA, permite que técnicos de laboratório que não são especialistas leiam e interpretem antibiogramas — teste que determina a sensibilidade das bactérias a diferentes antibióticos. Essa IA não necessita de nenhuma rede para operar, nem de um conhecimento profundo de microbiologia. Basta carregar uma simples foto de um antibiograma, e o aplicativo avaliará centenas de regras de interpretação existentes para fornecer um diagnóstico de alta qualidade.

Técnico de laboratório de microbiologia usando o aplicativo Antibiogo no Hospital CHK, em Kinshasa, na República Democrática do Congo (RDC). | © MSF

Esse teste, que é essencial para ajudar os médicos a prescrever os antibióticos mais eficazes para seus pacientes, é interpretado por microbiologistas, que geralmente não estão disponíveis em países de baixa e média renda.

A resistência antimicrobiana (RAM), reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma grande ameaça à saúde pública, causou 1,27 milhão de mortes em 2019. Se nada for feito, ela poderá se tornar a principal causa de mortalidade, com 10 milhões de mortes por ano globalmente a partir de 2050. Além disso, a maioria dos testes de diagnóstico é desenvolvida em países de alta renda, seguindo a lógica do mercado, e, uma vez lucrativos, estes testes são disponibilizados para países com recursos limitados, sem levar em conta a especificidade de seus contextos.

“Graças ao Antibiogo, qualquer técnico de laboratório de microbiologia, em qualquer lugar em países de baixa e média renda, poderá ler e interpretar um antibiograma diretamente em seu celular e conhecer o perfil de resistência das bactérias responsáveis pela infecção do paciente. Utilizado adequadamente, é uma nova ferramenta de diagnóstico fantástica, que ajudará a garantir um acesso mais amplo a testes bacteriológicos de alta qualidade, mesmo na ausência de microbiologistas. Isso tornará possível não apenas tratar os pacientes com os antibióticos mais apropriados, mas também reduzir a resistência aos antibióticos”, explica Nada Malou, coordenador do programa Antibiogo.

O aplicativo Antibiogo recebeu a certificação CE (Conformité Européenne)** em 2022 e está sendo implantado em vários laboratórios de MSF.

 

Inteligência artificial no diagnóstico de câncer do colo do útero

O câncer do colo do útero é o segundo câncer mais mortal em países de baixa e média renda. No Malaui, onde MSF atua, mais de quatro mil mulheres são diagnosticadas com câncer do colo do útero (ou câncer cervical) por ano. Com 2.905 mortes em 2020, o país também teve a segunda maior taxa de mortalidade do mundo pela doença no ano.

Uma das razões para uma taxa de mortalidade tão alta por essa doença, que é facilmente evitável e geralmente menos mortal em países de alta renda, é o acesso limitado à prevenção e ao diagnóstico, que nem sempre é confiável. No entanto, quando o diagnóstico é realizado de forma precoce, o tratamento pode ser realizado imediatamente no centro de saúde e é relativamente indolor e muito rápido, demandando apenas alguns minutos.

Nene Sow, parteira de MSF, realizando um exame de colo do útero para diagnóstico de uma paciente no hospital Gabriel Touré, no Mali. © Fatoumata Tioye Coulibaly

Uma detecção melhor e mais precoce é o objetivo do projeto implementado pela Fundação MSF*, por Médicos Sem Fronteiras e pelo Epicentre (uma organização de MSF dedicada à epidemiologia e à pesquisa) para ajudar a reduzir a taxa de mortalidade por câncer do colo do útero nos países de baixa e média renda, especialmente no Malaui.

“Se formos bem-sucedidos, há uma esperança real de provocar uma mudança positiva nos projetos e salvar a vida de muitas mulheres afetadas por essa doença”, afirma Clara Nordon, diretora da Fundação MSF.

O estudo é baseado na introdução de duas grandes inovações:

  • Triagem sistemática por meio de um teste PCR, que vai diagnosticar e identificar as mulheres que são portadoras do papilomavírus humano (HPV) com alto risco de desenvolvimento do câncer, possibilitado por uma nova tecnologia de diagnóstico mais rápida e mais acessível, capaz de ser ampliada pelas autoridades de saúde;
  • Aprimoramento da avaliação visual com auxílio de Inteligência Artificial.

 

Para isso, durante o período do estudo, faremos uma inspeção visual com ácido acético e guardaremos as fotografias do colo uterino de mulheres diagnosticadas com HPV, vinculando o status por meio de uma biópsia, razão pela qual o projeto se equipou com um laboratório de patologia anatômica em escala real.

Outra boa notícia é que, mesmo antes de os resultados do estudo estarem disponíveis, forneceremos uma melhor triagem, principalmente por causa do teste PCR sistemático.

 

Impressoras 3D para a confecção de próteses

Com o objetivo de aumentar o acesso das pessoas que sofreram amputações às próteses, estamos explorando diferentes soluções para fornecer aos pacientes desde opções estéticas (de acordo com tom de pele do paciente) até diferentes dispositivos que podem ser removidos e projetados sob medida.

Samar Ismaiel, coordenadora do projeto 3D em Amã, na Jordânia, imprimindo uma prótese de mão. © Safa Herfat/MSF

Por meio de escaneamento 3D, design 3D e impressão 3D, produzimos próteses de plástico. Elas são mais baratas que as tradicionais e fabricadas em dois dias, podendo ser adaptadas às necessidades do paciente, bem como às atividades que ele gostaria de retomar. Usamos essa incrível tecnologia em nosso projeto para sobreviventes de guerra em Amã, na Jordânia.

Com uma impressora 3D e o material plástico disponível, em vez de armazenarmos em estoque diferentes dispositivos, somos capazes de projetar no local, se necessário, ou remotamente. Essa é uma solução econômica e durável: uma mão, por exemplo, pode chegar a custar 20 dólares, em vez de centenas de dólares, valor que uma prótese de um membro superior custaria.

 

Simplificando o autoteste de HIV em Eswatini

Eswatini tem uma das maiores incidências de HIV do mundo. Nesse país, desde 2016, as equipes de MSF introduziram o autoteste para identificar a presença do vírus. Isso foi feito com o objetivo de empoderar as pessoas, na medida em que elas podem fazer o teste onde quiserem e, em seguida, ir a uma unidade de saúde para confirmar seu status.

Dessa forma, a própria pessoa está no controle de sua experiência de testagem. Isso foi realizado com a integração de sessões educacionais de conscientização, que visavam a incentivar a procura por cuidados de saúde, explicando a eficácia dos kits.

Buscando oferecer uma experiência excepcional de autoteste, em outubro de 2022, MSF adaptou a “Pocket Clinic” (“Clínica de Bolso”, em tradução livre), uma abordagem digital para a testagem de HIV. Essa ferramenta oferece aconselhamento pré e pós-teste digitalmente, por meio da utilização de um tablet. Nela, as pessoas são guiadas ao longo da jornada de autoteste do HIV, enquanto assistem a vídeos autoexplicativos com orientações sobre o que é o HIV, por que o teste é importante e o que acontece depois do resultado, seja ele negativo ou positivo.

“O que eu mais gosto na ‘Pocket Clinic’ é que consigo fazer tudo com privacidade, sem a sensação de pressa. Além disso, se eu não entender qualquer informação, me sinto livre para voltar o vídeo, enquanto, se estou em um hospital, sempre presto atenção para não desperdiçar o tempo da enfermeira quando peço para esclarecer certas informações. Sim, muito tem sido dito sobre a testagem para HIV, mas o conceito de ‘Pocket Clinic’ prioriza os benefícios de se obter informações mais corretas, pois sou um aprendiz visual e, portanto, prefiro orientação visual a ter que ouvir um profissional de saúde. Estou feliz com o atendimento”, diz Khosi, que acessou a “Pocket Clinic”.

 

Hospital pré-fabricado

Ao longo dos anos, MSF enfrentou um aumento na complexidade e no volume de suas atividades. Na maioria das áreas em que atuamos, construir estruturas de saúde é um verdadeiro desafio, especialmente em alguns contextos nos quais os materiais de construção não estão disponíveis.

Para garantir atendimento de qualidade, estamos utilizando uma técnica de construção de instalações de saúde com base em um módulo de 90 m², que pode ser conectado a outras seções modulares, para criar qualquer estrutura médica de que precisemos.


 Construção do Centro de Trauma de MSF na província de Kunduz, no Afeganistão. ©MSF

Instalamos tantos módulos quanto precisamos. Por exemplo, com três, temos uma maternidade com 15 leitos. Com seis, algumas salas de emergência. O hospital é feito com materiais que são facilmente desinfetados, tem vida útil de 30 anos, e a altura do chão é regulável, por isso não precisamos nivelar o terreno.

 

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*A Fundação MSF tem como objetivo melhorar o desempenho de MSF e apoiar a mudança de práticas em larga escala. Para isso, atua em três áreas: inovação tecnológica, pesquisa médica aplicada e conhecimento humanitário. Ela faz a conexão entre a expertise externa (de universidades, startups, pesquisadores) e a experiência dos profissionais da área, a fim de oferecer inovações que possam ser aplicadas nos nossos projetos.

**Em conformidade com os requisitos da União Europeia em matéria de segurança, saúde e proteção do ambiente.

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