Inovando para chegar aos pacientes de TB na Papua Nova Guiné

Equipes de MSF fazem teste utilizando veículos aéreos não tripulados para conectar centros de saúde remotos a hospitais gerais

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A prevalência da tuberculose (TB) na Papua Nova Guiné está entre as maiores do mundo – 541 casos/100 mil habitantes/ano – com alguns reportes registrando números três vezes superiores em algumas regiões, o que levou a organização humanitária internacional Médicos Sem Fronteiras (MSF) a responder à crise e buscar acesso às comunidades mais afetadas.

Depois de analisar onde estão as maiores necessidades, MSF decidiu concentrar esforços na província de Golfo. Estima-se que essa região tenha os maiores índices de TB e, possivelmente, um aumento preocupante dos casos de TB resistente a medicamentos, além das muitas comunidades remotas com acesso limitado a cuidados de saúde.

MSF e as autoridades de saúde locais deram início aos trabalhos com a implementação de uma clínica de TB com controle de infecção e fluxo de pacientes adequados.

“Quando MSF chegou a Kerema, em meados de 2014, vimos que o controle de infecção no hospital estava completamente inadequado”, conta o coordenador de projeto Cyrus Paye. “Então, fizemos o melhor para conduzir avaliações referentes a TB sem infectar a nós mesmos nem aos outros.”

A equipe, então, começou a trabalhar na reabilitação de alguns serviços do hospital geral de Kerema com novos equipamentos laboratoriais, como a máquina GeneXpert, que vai agilizar o resultado dos testes de TB – de duas semanas para apenas duas horas. “O objetivo é melhorar consideravelmente a capacidade de diagnóstico para que seja possível iniciar o tratamento rapidamente”, conta Benjamin Gaudin, coordenador-geral de MSF.

Uma nova ala de TB está sendo construída e contará com 18 novos leitos de internação, que permitirão a separação de pacientes com TB dos demais, para melhor controle de infecção.

A próxima fase da atividade seria a descentralização dos serviços de TB. No entanto, questões geográficas representam uma enorme barreira.

O acesso é um desafio
O progresso do projeto foi significativamente prejudicado pelas condições precárias das estradas. Depois de meses de chuva, a estrada de terra entre Kerema e a capital da Papua Nova Guiné, Port Moresby, tornou-se pura lama em muitas áreas, o que atrasou as construções no hospital, uma vez que os caminhões não conseguiam chegar a Kerema.

Também é uma dificuldade chegar às comunidades remotas e centros de saúde. Na medida em que alguns vilarejos puderam ser acessados por mar ou pelo rio, a viagem de barco não é segura devido às condições traiçoeiras frequentes do Mar de Coral e à presença de crocodilos enormes nos rios, juntamente com as cobras da floresta. A comunidade local ainda está de luto pela morte de uma criança por um crocodilo de quatro metros em maio deste ano, próximo a Kerema.

Tecnologia inovadora
A dificuldade de acesso às comunidades remotas além da cidade de Kerema levaram a equipe a buscar soluções inovadoras. MSF e a empresa americana Matternet testaram o uso de pequenos veículos aéreos não tripulados (UAVs, na sigla em inglês) para transportar amostras de escarro de pacientes com suspeita de TB dos centros de saúde remotos ao hospital geral de Kerema para a realização de testes.  

Atualmente, os UAVs são capazes de viajar em velocidade de até 60km/h, com alcance máximo de 28 km, em condições favoráveis, e carregam pouca carga. No entanto, a previsão é de que o alcance seja ampliado rapidamente nos próximos anos, na medida em que baterias mais leves e duradouras estão sendo desenvolvidas. O UAV pode ser pilotado por meio de smartphones, com o objetivo de que pessoal não técnico possa operá-lo sem assistência.

Ainda que detalhes precisem ser melhorados no sistema do UAV na fase de testes, os resultados iniciais apontam que esse pode ser um método útil de conectar, no futuro, centros de saúde remotos a hospitais que seriam inacessíveis de outra forma.

Estabelecendo as melhores práticas para cuidados efetivos de TB
Uma vez que o projeto na província do Golfo estiver operando em capacidade máxima, há planos de expandir o programa para a capital nacional, Porto Moresby, em 2015. O objetivo de MSF é prestar suporte ao Ministério da Saúde para que modelos de cuidados efetivos em Kerema possam ser replicados para outras regiões.

“Nosso objetivo para mais de cinco anos é criar um programa de TB que seja replicável e sustentável”, explica Benjamin Caudin.
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MSF atua na Papua Nova Guiné desde 2009. Os projetos atuais da organização incluem um programa de Violência Sexual e Familiar (FSV, na sigla em inglês) em Tari e em Port Moresby, e um projeto de TB na província do Golfo. Projetos anteriores envolveram um projeto FSV em Lae e um projeto de saúde materno-infantil em Bougainville.

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