Insegurança e impunidade forçam MSF a interromper trabalho médico vital em Nizi e Bambu, na RDC

Ataque a comboio deixou dois profissionais da organização gravemente feridos em outubro de 2021; atividades continuarão em outros lugares da província de Ituri.

Foto: Alexis Huguet/MSF - Uma ala do hospital geral de Lita que foi atacada e saqueada por homens armados. Território de Djugu, RDC, novembro de 2019.

Quatro meses após um comboio de veículos de Médicos Sem Fronteiras (MSF) ser alvejado por homens armados não identificados na província de Ituri, República Democrática do Congo (RDC), MSF anuncia que encerrará seus projetos em Nizi e Bambu devido à falta de garantias de segurança de todas as partes nos conflitos. Dois profissionais de MSF foram gravemente feridos no ataque, ocorrido em 28 de outubro de 2021 na estrada entre Kobu e Bambu, no território de Djugu, província de Ituri.

Após o incidente, MSF apelou a todas as partes nos conflitos para condenar o ataque, respeitar o direito humanitário internacional e proteger instalações médicas, profissionais de saúde, ambulâncias, pacientes e feridos. MSF também pediu às autoridades que iniciassem uma investigação sobre o incidente, mas isso não aconteceu.

“Ficamos com pouca escolha a não ser fechar nossos projetos”, disse Olivier Maizoué, coordenador do projeto de MSF na RDC. “Os riscos são simplesmente muito altos e, portanto, é impossível que MSF retorne a essas áreas com confiança”.

“Lamentamos muito essa decisão, pois isso terá consequências terríveis para uma população com necessidades agudas, mas não podemos arriscar vidas para salvar vidas”, disse Maizoué.

 

MSF continuará a fornecer ajuda médica e humanitária em outros lugares da província de Ituri, incluindo Drodro e Angumu, e continuará a apoiar as autoridades de saúde local em Nizi e Bambu, doando medicamentos e suprimentos médicos para cobrir os próximos meses. “Estamos, no entanto, dolorosamente cientes de que essa doação única não compensará nossa partida e afetará adversamente as pessoas que precisam urgentemente de cuidados de saúde”, disse Maizoué.

Foto: Avra Fialas/MSF – Um membro da equipe de MSF caminha por parte de um campo de deslocados internos danificado na zona de saúde de Nizi. Território de Djugu, província de Ituri, RDC, maio de 2020.

 

Todas as partes dos conflitos devem facilitar o livre acesso da ajuda humanitária aos civis em necessidade e respeitar e proteger os profissionais humanitários. MSF, portanto, mantém seu pedido de que uma investigação seja realizada pelas autoridades e pede que todas as partes em conflito, bem como todas as pessoas em posição de influência, trabalhem para garantir um ambiente que permita que as pessoas recebam a ajuda de que precisam desesperadamente.

O ataque em outubro não foi o único incidente recente a impactar as equipes de MSF na província de Ituri. Em junho de 2021, o principal hospital de referência na cidade de Boga, apoiado por MSF, foi gravemente danificado durante os conflitos na cidade. Pelo menos 12 pessoas perderam a vida, enquanto vários edifícios, incluindo a unidade de terapia intensiva, foram incendiados, e a farmácia e os estoques de suprimentos médicos do hospital foram saqueados.

“Estamos preocupados com os inúmeros ataques e saques de instalações de saúde e estamos profundamente perturbados com o clima de impunidade que reina hoje nesta parte da RDC. Sabemos que a impunidade alimenta ainda mais violência”, disse o coordenador-geral de MSF, Jérome Alin.

 

As equipes de MSF em outras áreas da RDC testemunharam incidentes semelhantes destinados a profissionais médicos e humanitários. Para expressar sua preocupação e mostrar solidariedade com seus colegas e com todos os afetados, a equipe de MSF na RDC organiza um protesto hoje, 23 de março de 2022. Durante o dia, apenas as atividades médicas vitais continuarão.

Foto: Avra Fialas/MSF – O centro de saúde de MSF em Wadda foi saqueado em 2 de maio de 2020. No mesmo ataque, 227 casas do vilarejo foram completamente queimadas. Província de Ituri, RDC, maio de 2020.

 

As equipes de MSF começaram a trabalhar em Nizi e Bambu em junho de 2018, prestando serviços médicos a cerca de 471 mil pessoas afetadas por anos de conflitos, com foco em cuidados de saúde pediátricos, incluindo tratamento da desnutrição. As equipes de MSF também forneceram água potável e construíram latrinas e chuveiros para pessoas deslocadas na área.

Em outros lugares da província de Ituri, MSF apoia dois hospitais do Ministério da Saúde, 12 centros de saúde, três postos de saúde e 32 locais de saúde comunitários em Drodro e Angumu, tratando pessoas com doenças infantis, desnutrição e malária, cuidando de sobreviventes de violência sexual e fornecendo apoio à saúde mental. Nas últimas semanas, as equipes de MSF também trabalharam com hospitais em Bunia para tratar pacientes feridos de guerra.

MSF trabalha na RDC há mais de 40 anos e atualmente executa projetos em 20 das 26 províncias do país, prestando assistência médica a vítimas de conflitos e violência, a pessoas deslocadas de suas casas e a pessoas atingidas por epidemias de doenças, incluindo cólera, sarampo e HIV/Aids. As equipes de resposta a emergências de MSF estão de prontidão em todo o país para responder a epidemias, desastres naturais e conflitos.

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